As mudanças climáticas , o aumento da população mundial, a diminuição de terras cultiváveis, as adesões ao veganismo e as campanhas que denunciam maus-tratos em atividades pecuárias e no abate... Esses e outros fatores estão transformando o processo produtivo e de consumo dos alimentos.
A junção dos efeitos dos fenômenos El Niño com as alterações do clima já demonstrou sua força no ano passado assustando produtores rurais e promete forte impacto também no desempenho das safras de 2024. Prognósticos de diminuição da produção, escassez itens e, consequentemente, aumento nos preços em geral. São fatores que prometem agravar ainda mais a fome no mundo e ter um forte impacto no Brasil, um dos maiores produtores agropecuários e fornecedores de alimentos para o planeta.
O relatório “World Economic Situation and Prospects” de 2024 da Organização das Nações Unidas (ONU) destacou os efeitos das mudanças climáticas de forma alarmante. Essas condições meteorológicas extremas representam um risco significativo para o crescimento econômico e a segurança alimentar não apenas interna, mas dos demais países dependentes da América Latina, Ásia e África.
Nas previsões da ONU, as mudanças climáticas representam uma ruptura duradoura na estrutura produtiva da América Latina e no Caribe. A alta nas temperaturas, o aumento das secas e as ocorrências climáticas extremas, como furacões e tempestades, podem afetar gravemente a agricultura e o turismo, contribuindo para a diminuição da produtividade laboral e rápida redução das reservas de capital.
“A produção de alimentos depende de condições climáticas adequadas e as previsões da ONU indicam uma crise iminente para a agricultura. Neste contexto, o Sul Global é a região menos equipada para gerir as perdas econômicas, a insegurança alimentar e a subnutrição. Pedimos que governos e instituições financeiras mudem urgentemente o sistema alimentar para que se torne mais sustentável e eficiente para proteger os países mais vulneráveis”, explica Cristina Diniz, diretora da Sinergia Animal Brasil, uma organização internacional de proteção animal que promove escolhas alimentares sustentáveis e compassivas na América Latina e em países do Sudeste Asiático.
Para a ONG, a crise climática também decorre de um sistema alimentar inadequado que depende de proteínas animais, os principais emissores de CO2 e de gases do efeito estufa entre a produção de alimentos. A pecuária e a piscicultura são responsáveis por 61% das emissões do setor agrícola — sem considerar as cadeias de abastecimento — e fornecem apenas 37% das proteínas e 18% das calorias consumidas no mundo.
“Essa ineficiência também está relacionada à fome e às desigualdades sociais. Estudos proeminentes e organizações internacionais como a OMS já concluíram que devemos mudar para uma alimentação mais baseada em vegetais. Esse modelo de alimentação se alinha com os objetivos climáticos e nutricionais, além de promover uma relação mais compassiva com outras espécies”, complementa Cristina Diniz.
Agricultura sustentável
A COP28 fez história ao incluir a transformação do sistema alimentar na “Declaração dos EAU sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática”. Os governos reconheceram a necessidade de ajudar os agricultores a se adaptarem às mudanças climáticas e comprometeram-se a reduzir as emissões de origem agrícolas em seus países. No entanto, a redução do número de animais criados para consumo e a mitigação dos impactos da pecuária não foram incorporadas.
“Esperamos que essa discussão seja priorizada. Os bancos de desenvolvimento e as instituições financeiras devem desinvestir na agricultura industrial e financiar sistemas agroalimentares resilientes. Os governos do mundo todo devem considerar a tomada de ações concretas, como o plano estabelecido recentemente pela Dinamarca, para aumentar a produção de alimentos à base de plantas. A Sinergia Animal irá reforçar esses esforços para garantir um futuro sustentável e mais compassivo para todos”, conclui a diretora da Sinergia Animal Brasil.