
O rolo do deputado Glauber Braga sendo arrancado da cadeira da presidência da Câmara virou mais uma cena do teatro político brasileiro.
Ele queria mostrar uma incoerência real: meses atrás, quando bolsonaristas ocuparam o mesmo espaço, saíram quase de mãos dadas com a Mesa Diretora.
Já com ele, foi polícia, força e transmissão cortada. Pra piorar, até um cinegrafista da GloboNews foi tirado do plenário. Como se filmar fosse mais incômodo que o próprio caos.
O ponto dele faz sentido, a diferença de tratamento é gritante. Mas a forma escolhida abre outra discussão.
Porque o Brasil vive um fenômeno curioso: em vez de resolver a lentidão da democracia, nossos políticos transformaram a lentidão em método.
A cadeira, que deveria simbolizar comando, virou símbolo de inércia. Sentar pra travar os trabalhos virou performance de protesto. E de tabela, reforça o problema que se queria denunciar.
Em vez de acelerar discussões importantes, param-se sessões inteiras por gestos que rendem vídeo, indignação e manchete, mas quase nenhuma política pública.
A cena é clara: ele agarrado na mesa, aliados tentando segurar, policiais puxando. Parece que algo grande tá acontecendo… mas não tá.
É só mais um vídeo viral empurrado como se fosse histórico. Na prática, entretenimento pago com verba pública pra você assistir no celular.
E aí, o Legislativo vira sala de espera: deputados brigam pela cadeira, enquanto o país fica em pé, segurando a senha e esticando o pescoço pra ver a treta de um ângulo melhor.
Esse episódio fala menos de Glauber e mais do sistema: uma democracia já lenta que agora precisa lidar com parlamentares que literalmente sentam em cima da pauta pra provar um ponto.
O gesto tem valor simbólico, mas quando vira rotina só alimenta a paralisia. O recado ao público, mesmo sem querer, é o pior possível: seja qual for o lado, ninguém parece com pressa de levantar da cadeira. Muito menos de trabalhar de verdade.