Um dos aspectos mais tristes da crise que vem afetando no Rio de Janeiro é a falta de articulação política que tem feito a cidade e o estado perderem oportunidades de ouro para atrair os investimentos capazes de ajudar a superar a crise. Em outras regiões, os políticos podem até divergir diante dos temas mais gerais. Podem ser contra ou a favor do presidente Jair Bolsonaro. Podem gostar ou não da maneira com que o governador administra o estado. Mas quando se trata de defender os interesses econômicos e de criar políticas de estímulo à geração de emprego e renda em seus estados, eles superam as divergências e se unem como lobos ferozes dispostos a defender sua alcateia.
Não há nada de depreciativo nessa comparação. Pelo contrário. O que se pretende mostrar é que, quando se trata de defender algo que para eles é essencial, os lobos que até ontem brigavam entre si costumam se unir em defesa do interesse comum. Digo isso a propósito de algo que acontece em diversas partes do país. É impressionante como, em nome do objetivo de atrair investimentos para suas regiões, as forças locais sempre se entendem e se mobilizam para tornar o ambiente atrativo para os empreendedores.
Surge nessa hora um movimento de diferentes órgãos da administração, que passam a trabalhar integrados para implantar as redes de eletricidade, construir rodovias, adotar medidas de proteção ambiental e executar obras de saneamento. Todos passam a fazer força na mesma direção, sempre com a finalidade de criar um ambiente favorável ao empresário que pretenda gerar empregos e recolher impostos na região. É exatamente o oposto do que se vê no Rio. Qualquer pessoa que surge com um projeto de negócio por aqui se depara com tantas restrições e exigências que dificilmente tem ânimo para persistir. E quando desistem, os empregos que poderiam ser criados para os fluminenses acabam indo para outro lugar.
Com o chapéu alheio
O que chamou minha atenção para essa realidade foi a articulação iniciada meses atrás pela bancada de Goiás no Senado que, na terça-feira passada, conseguiu prorrogar até o ano de 2025 os inventivos fiscais concedidos às montadoras de automóveis instaladas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A medida, prevista pela Medida Provisória 987, que foi transformada em lei, isenta de IPI os projetos antigos e que vierem a ser implantados na região nesse período — estendendo por mais cinco anos o benefício que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu às empresas do setor automobilístico que se instalassem na região.
Essa é uma questão complexa — até por se tratar de um caso de caridade feita com o chapéu alheio. A isenção, na prática, significa que o contribuinte de outras regiões em dificuldade, como é o caso do Rio, acabará financiando eternamente projetos que geram benefícios em outros lugares. Os efeitos desse tipo de medida devem, claro, ser debatidos em profundidade, mas o que se pretende abordar aqui é um outro aspecto: a atitude dos políticos. Em nome do desenvolvimento de seus estados, eles superam suas divergências e, juntos, encontram uma maneira de gerar benefícios para as empresas locais.
Por mais que isso pareça injusto, o certo é que, ao agir dessa forma que agem, os senadores dessas regiões estão apenas cumprindo o papel reservado a eles na divisão de responsabilidades do Poder Legislativo federal. Numa descrição superficial das atribuições dos parlamentares, pode-se dizer que, enquanto os deputados são eleitos para defender os interesses dos cidadãos, aos senadores cabe defender os interesses das unidades federativas que representam.
Você viu?
Antes de criticar os representantes de Goiás por pensar primeiro nos interesses de seus estados, seria bom pensar no que aconteceria se os senadores do Rio tivessem esse mesmo tipo de coesão. Seria ótimo se, diante dos interesses do estado, os três representantes da bancada, ao invés de bater cabeça em torno de suas posições políticas, passassem a falar a mesma língua e a caminhar na mesma direção. O benefício para a população seria enorme.
Tapete vermelho
De todos os estados do Brasil poucos reúnem, como o Rio de Janeiro, condições tão favoráveis para atrair investimentos. Em primeiro lugar, a localização é estratégica: além de ser, ele próprio, um dos principais centros de consumo do país, o Rio está rodeado por outros estados centrais do ponto de vista econômico.
Isso, por si só, já é uma grande vantagem. Mas há outras. O estado dispõe de terrenos apropriados para projetos não apenas em óleo e gás, mas em diversas áreas industriais. Conta com áreas vocacionadas para o turismo e tem uma experiência reconhecida em negócios relacionados com o lazer e o entretenimento. Dispõe de mão de obra treinada e, neste momento, pouco aproveitada em razão da retração da Economia. O que falta?
Entre as carências do estado chama atenção a falta de percepção de que, por mais favoráveis que sejam as condições do Rio, elas são insuficientes para, por si só, atrair empresários que hoje procuram lugares para implantar seus empreendimentos. Ninguém mais tem o direito de imaginar que o Rio, pelo fato de ser o Rio, leva vantagem na disputa da preferência dos investidores com regiões que estendem o tapete vermelho para os projetos sérios e viáveis. Cabe aos políticos locais, sobretudo à bancada no Senado, levantar a bandeira dos interesses do Rio e criar as condições para atrair investimentos. Do contrário, a Economia continuará se definhando e os cidadãos, lamentando as oportunidades perdidas.
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