O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad


É voz corrente nos círculos da  política desde 2022, que a escolha de  Fernando Haddad para ser o Ministro da Fazenda do atual governo atendeu critérios diversos do parâmetro técnico. Se Bolsonaro, assumido desconhecedor de economia, escolheu o economista Paulo Guedes para a mesma função justamente por seu preparo técnico, a escolha de Lula  não foi por esse mesmo caminho.

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Há vídeos na internet, cujo conteúdo jamais foi negado por qualquer integrante do governo, mostrando Haddad afirmando saber muito pouco de  economia. Assim, sua escolha foi baseada na grande confiança mantida por Lula sobre sua pessoa. O presidente sabe que tem na pasta da Fazenda um ministro fiel e que o visitava na carceragem da PF em Curitiba, quando lá esteve preso, e que seguiu escrupulosamente as suas orientações ainda na eleição de 2018.

A questão é que esse personalismo também traz consigo grandes problemas. Nas várias entrevistas e coletivas concedidas à imprensa, o ex-prefeito de São Paulo se mostra como alguém bem-intencionado, desejoso de pôr a casa em ordem, equilibrar as contas e reduzir o endividamento estatal.

A questão é que o chefe de Haddad pensa de outro modo. Dizem que perdulários não se emendam, e Lula é um inveterado perdulário. Ancorando seu governo no gasto público com inúmeros programas sociais, cujos valores retornam à economia e fazem as engrenagens girarem, trata-se de estratégia que demanda uma forte arrecadação – daí a voracidade estatal por taxar tudo o que se mexa. Ou mesmo o que está parado.

Ocorre que esse esquema não é sustentável a longo prazo e isso já se mostra palpável pelo aumento da inflação, projeções negativas para a economia em 2025 e formação de uma imagem de um governo, no final das contas, que não sabe para onde vai ou para onde quer ir.

Não por outro motivo, outra velha raposa da política,  Gilberto Kassab, o dono do PSD – partido que possui três ministérios – não teve qualquer conflito em nomear o ministro da Fazenda de “fraco” e anunciar que, fosse a eleição hoje, Lula não se reelegeria.

Gilberto Kassab, o dono do PSD
Eduardo Carmim/Estadão Conteúdo
Gilberto Kassab, o dono do PSD
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O presidente tentou minimizar, fez piada, gracejou tentando tirar o peso da declaração, mas bem sabe que Kassab não é dado a bravatas e nem a histrionismos. Bem ao contrário. Mesmo tendo sido prefeito de São Paulo, após criar seu próprio partido tornou-se uma figura de bastidores e muito poderosa.

Hábil, Kassab é, ao menos no papel, integrante do governo Lula, isso, no entanto, não o impediu de também integrar o governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo, estrutura em que é uma espécie de braço direito do governador. Trabalha para a esquerda e para a direita, no final das contas.

E sendo presidente do partido que mais elegeu prefeitos no pleito de 2024, é bem provável que Kassab esteja preparando um desembarque do governo petista e sua declaração mostra isso bem claramente para quem sabe interpretá-la.

Lula, obviamente, sabe disso. Claro que sim. Sabe também, por outro lado, não haver muito o que fazer no momento. O presidente da República possui por certo a caneta mais pesada e o jornal mais influente do país, o Diário Oficial. Isso, não obstante, pode não ser suficiente para evitar uma eventual desidratação do seu governo. 2025 promete muitas e fortes emoções no campo político.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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