Em âmbito externo, o governo do republicano eleito tem alguns, se poderia dizer até vários, desafios. No campo econômico há um desafio grande materializado na figura da China. Na comparação, o PIB norte americano ainda está bem à frente, 27 x 17 trilhões de dólares (U$), mas os chineses avançam a passos largos.
Mais do que isso, os EUA precisam retomar a influência de outros tempos, campo em que a China também avançou, inclusive na América Latina, projetando grandes investimentos em infraestrutura na região. Claro que o mundo atual não é mais o universo fechado dos tempos de guerra fria, com uma polarização bem definida. É um mundo multi-lateral. Ainda assim, a influência leva ao poder e ambos são finitos, até mesmo escassos, no âmbito da geopolítica mundial.
Com a Europa, o desafio -- grande -- é a guerra entre Rússia e Ucrânia. Durante a campanha, Trump já havia declarado "não ver sentido" em assistir os EUA financiando a estrutura militar europeia, se referindo basicamente a Otan, que por sua vez é o grande fundamento do conflito entre ucranianos e russos. O mais provável é que uma grande pressão por um acordo de paz tome espaço, o que, quase certamente, significará perdas pesadas para a Ucrânia.
Em relação a outro importante conflito, entre Palestina e Israel, por tradição os republicanos defendem Israel de modo praticamente incondicional e assim deve prosseguir neste próximo mandato.
Ainda assim, a correlação de forças está mais exposta e as condições dadas não são estáticas. Tanto palestinos quanto israelenses terão que chegar a algum tipo de denominador comum. Os EUA sabem disso, Trump sabe disso, e terá, do mesmo modo, que se movimentar neste sentido.
Por fim, de modo específico em relação ao Brasil, a ligação de Trump com Bolsonaro é pública e notória. O líder brasileiro está em difícil situação do ponto de vista político-jurídico, com sua inelegibilidade em vias de confirmação. O eleito presidente americano teria como influenciar diretamente nisso? Muito pouco. Trata-se de assunto muito interno para haver uma ingerência tão direta.
A eleição de Trump, contudo, certamente confere um impacto anímico muito positivo e evidente sobre a direita brasileira. E, neste sentido, os parlamentares de direita podem se sentir fortalecidos para, por exemplo, buscar a aprovação do PL que anistia os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, e aí incluiriam neste pacote o próprio Jair Bolsonaro. É isso possível? Sim. Se será posto em prática, porém, são outros quinhentos.
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