A polêmica do “woke” – 2
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A polêmica do “woke” – 2


woke, como movimento, vem sendo bastante criticado por seus métodos, considerados autoritários e advindos de uma visão supremacista de cunho moral e algo que, nos EUA, atenta contra a liberdade de expressão e "os valores tradicionais norte-americanos". E chegou na política. Com as  eleições nos EUA se aproximando, o tema voltou a ser debatido.

O woke está hoje associado ao partido democrata, do presidente  Joe Biden e à ala mais liberal, incluindo outros políticos americanos como os congressistas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez. Na outra ponta, os republicanos vêem neste movimento uma ameaça à família e à democracia, em processo de substituição por uma “tirania woke".

Na eleição de 2020, Trump atacava os “woke lefties” (esquerdistas woke) despertos") que, segundo ele, praticam o "fascismo da extrema esquerda". Trump ainda disse que a "cultura do cancelamento" estava "expulsando as pessoas dos seus trabalhos, envergonhando os dissidentes e exigindo a total submissão de qualquer pessoa que não esteja de acordo".

E o tema voltou nesta campanha de 2024. O governador da Flórida, e também republicano Ron De Sanctis, critica igualmente o movimento woke. Ele propôs em 2021 uma lei nomeada de Stop-Woke (parem os woke) que, entre outras disposições, regula como o conteúdo sobre raça e gênero pode ser apresentado nas escolas da Flórida. E Sanctis já afirmou que "woke é a nova religião da esquerda".

Para por um pouco mais de pimenta no debate, alguns políticos democratas também criticam o woke. Bill Clinton afirmou que “o woke é um problema e nós (Partido Democrata) sabemos disso". 

Barack Obama foi ainda mais incisivo: “tenho a sensação de que alguns jovens nas redes sociais acreditam que a forma de gerar mudanças é julgar as outras pessoas o máximo possível". Obama ainda prosseguiu afirmando o seguinte: “se eu posto um tuíte ou publico uma hashtag sobre como você não fez algo direito ou usou o verbo incorreto, posso sentar-me e me sentir muito bem comigo mesmo: 'Viu como fui woke? Peguei você!'". E concluiu: "chega! Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe. O mundo é desordenado. Existem ambiguidades. As pessoas que fazem coisas muito boas têm defeitos."

Obama, Clinton, e mesmo Trump, tem ao menos uma boa dose de razão ao criticar o movimento woke. A sociedade contemporânea é complexa, com um leque de interesses dispostos em diversos grupos. Nasce daí que a divergência e o dissenso são praticamente inevitáveis. A questão é: como lidar com esses ruídos do convívio humano?

Neste sentido, não é razoável que um determinado grupo de pessoas, mesmo que em nome de bons propósitos, se imaginem “juízes do comportamento humano”, palmatória em punho, prontos a punir quem, no fim das contas, apenas deles divergem.

Alguém já disse que “democracia está manifesta quando você concorda comigo e tirania ocorre quando você quer que eu concorde com você”. Mas isso não pode ser tomado como algo a ser considerado de fato. É uma clara ironia. Democracia, e liberdade, impõe o respeito às divergências, o que significa de igual modo não apenas uma tolerância formal, mas a garantia de que todos possam se manifestar, expressar, defender suas ideias, enfim, existir como seres humanos.

Para quem quiser acessar mais material meu e de outros pesquisadores, deixo aqui o  link do Instituto Convicção, do qual faço parte.

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