Imagine-se, ainda que não ocupe essa posição formal, no papel de líder desua comunidade, cidade, estado ou nação. Pergunte a si mesmo: dispomos dos recursos para conceber uma visão estratégica, que abarque de 5 a 25 anos, capaz de conduzir nossa sociedade a alturas antes inimagináveis? Temos acesso ao capital financeiro e aos talentos humanos indispensáveis para a pesquisa, a inovação e a conquista do pleno potencial de nossa civilização?
Na prática, as instâncias máximas de organização social – Estados, governos e tribunais – fornecem, de fato, a autonomia cabal para realizarmos tais objetivos? Ou ficamos à mercê de engrenagens velhas e emperradas, que nos cercam com muros de convenções datadas e obstáculos burocráticos?
Dispomos da governança adequada, alicerçada em métodos cientificamente comprovados, e ferramentas tecnológicas de ponta para planejar, monitorar e dirigir o destino coletivo?
Em boa parte do planeta, a resposta ressoa, retumbante, como um triplo “não”. E, mesmo assim, ousamos cobrar milagres de nossos dirigentes. Eis o primeiro grande desafio que recai sobre sociedades modernas em qualquer latitude: seus habitantes nutrem expectativas irreais, exigindo, muitas vezes, o impossível - nessa circunstância, apenas os mentirosos conseguem “suprir”.
Cumpre-nos, portanto, dar os primeiros passos no início do caminho: criar uma nova visão estratégica de civilização para as próximas décadas, quiçá para um horizonte de 100 anos. Urge traçar o mapa que nos conduzirá até esse destino promissor.
É imprescindível reunir os meios financeiros e humanos que nos permitam desenhar tal plano. Só assim poderemos dissipar a densa névoa ideológica, substituindo-a por uma abordagem solidamente apoiada em fatos e dados concretos.
Mudar do apego a ideologias para um sistema calcado em evidências demanda repensar a sociedade em suas fundações. Sistemas contaminados por heranças opressoras, burocracias kafkianas e políticas estreitas, que operam em regime de sobrevivência, engolem as boas ideias ou as sufocam antes que respirem.
Esse novo modelo, por conseguinte, deve germinar em paralelo, tal qual o Bitcoin , que não buscou permissão dos bancos centrais, ou o Uber, que não suplicou benevolência aos táxis. A história nos demonstra o valor da ousadia.
Muitos políticos e burocratas, ainda que bem-intencionados, carecem de ferramentas eficazes para o bem comum. Eles são absorvidos pelo sistema e tornam-se parte do problema.
Os recursos, políticos e financeiros, são divididos de tal forma que raramente se prioriza o que é realmente crucial para a prosperidade coletiva. O questionamento pragmático prevalece: “O que consigo fazer com o que tenho hoje?”, em vez de “O que é estratégico para o nosso futuro?”.
Somando essas lacunas, vemos líderes comunitários, vereadores, deputados, prefeitos, governadores, senadores e ministros presos ao imediato, a atividades operacionais ou táticas curtas, sem o fôlego de uma visão de longo alcance.
Se todos esses personagens pudessem olhar para a raiz dos problemas e perceber que a chave para elevar a civilização a uma nova era reside numa estratégia comum, os recursos até então dispersos se somariam e impulsionariam um salto de prosperidade que a história jamais testemunhou.
O planeta clama por um modelo de governança renovado, capaz de gerar um “Network Effect” voltado ao bem coletivo, pois o atual jogo político coloca o “Rei” em perpétuo “Cheque”. Cada peça, ao preservar seu próprio território, raramente joga para triunfar em nome do todo, mas apenas sobrevive ao próximo lance.
Veja quão simples pode ser a semente da solução
Imagine que cada bairro, cidade, estado e nação colabore financeiramente com uma cota para formar um “clube” global, designado a criar o modelo de governança do futuro.
Com uma arrecadação de 6 bilhões de dólares anuais, o que equivaleria a singelos 0,75 dólares por pessoa ao redor do mundo por ano, teríamos uma força colossal. Isoladamente, cada município ou mesmo cada nação dentre as 195 reconhecidas jamais seria capaz de patrocinar uma visão e um plano dessa magnitude com tamanha robustez.
Dividir o planeta em pequenas jurisdições resulta na ilusão de que cada problema é local e único, quando, na verdade, a gestão de prioridades, a alocação de recursos, o desenvolvimento de capital humano, cartórios, direitos e obrigações, regras e regulações, crises e suas resoluções, bem como a lei da oferta e da demanda, se repetem em todos os recantos da Terra.
O mesmo ocorre com a necessidade de cidadania digital, a votação segura, a tributação, a resolução de conflitos, imigrações e a auditoria (fiscalização). Tentar corrigir tais sintomas isoladamente é como trocar o alto-falante queimado enquanto o carro está sem freios.
Estamos criando este “clube” – ou federação – para reunir um orçamento ambicioso, focado em desenhar a visão, o plano e os padrões que nos conduzirão a uma nova era civilizatória. Não se trata de uma agenda de esquerda ou de direita, mas de toda a sinfonia política que abrange o espectro completo.
Assim como a internet não disciplina o conteúdo de cada site, também não caberá a PRIME Society definir como cada sociedade utilizará suas ferramentas. Mas é fato inegável que, com um acervo suficiente de informações, padrões e métodos, as comunidades, em média, tomarão decisões mais acertadas, elevando-se rumo à próxima geração de desenvolvimento.
Tal como empresas que adotam sistemas de ERP de grandes fornecedores, cada sociedade terá a liberdade de personalizar e integrar a plataforma de acordo com suas necessidades locais. Porém, haverá uma propriedade intelectual centralizada, desenvolvida com a soma de orçamentos que, de outro modo, se esvairiam em incontáveis esforços fragmentados e pouco eficazes.
Seria como se cada filial de uma grande corporação precisasse criar seu próprio sistema do zero – um desperdício que conduz ao fracasso. A escassez de recursos humanos e financeiros especializados não perdoa esforços dispersos.
Não é viável regenerar o sistema por dentro, pois ele se protege e insiste em perpetuar seus próprios mecanismos - foi idealizado desta forma. Porém, unidos, podemos conceber algo genuinamente inédito, nutrido pelo conhecimento científico, experiências acumuladas e o incrível avanço tecnológico - atualmente ignorado pelos mecanismos vigentes.
Ao encarar de frente os maiores dilemas que a humanidade enfrenta, ergueremos uma governança que, em vez de atrapalhar, catalise soluções. Eis o chamado: participe desta empreitada e ajude a construir, para as próximas gerações, civilizações resilientes, prósperas e verdadeiramente dignas de orgulho - Sociedades Unidas pelo Planeta.