Daniel R. Schnaider

Série Especial sobre a Evolução do Sistema Democrático: À Beira do Colapso

A Ascensão de Modelos Autoritários e o Fim das Liberdades

Este artigo é parte de uma Série Especial sobre a Evolução do Sistema Democrático
Foto: FreePik
Este artigo é parte de uma Série Especial sobre a Evolução do Sistema Democrático


Nas últimas duas décadas, testemunhamos um declínio dramático nas democracias e no capitalismo ao redor do mundo. Em países que antes eram considerados bastiões da democracia liberal, como os Estados Unidos e várias nações europeias, a polarização política e a desconfiança nas instituições públicas aumentaram vertiginosamente. 

Segundo a organização  Freedom House, a liberdade global tem sido cerceada por 16 anos consecutivos, com menos de 20% da população mundial vivendo em países considerados  "totalmente livres" atualmente.

Este declínio é exacerbado pela crescente influência de regimes autoritários, como a China, que demonstram que o crescimento econômico robusto pode ser alcançado sem os princípios democráticos tradicionais. 

O país oriental, por exemplo, tem superado consistentemente muitas economias ocidentais em termos de crescimento do PIB, registrando taxas anuais de cerca de 6% a 7%, na última década, enquanto muitas democracias lutam para alcançar  2%.

Além disso, o capitalismo em sua forma atual tem mostrado sinais de desgaste, com desigualdade econômica crescente e crises financeiras frequentes abalando a confiança pública no sistema. 

A crise financeira de 2008 expôs falhas profundas na regulamentação e resultou em uma concentração ainda maior de riqueza. De acordo com o Relatório sobre Desigualdade Global de 2022, os 10% mais ricos do mundo detêm 52% da renda global, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas  8%. 

Esta disparidade crescente tem alimentado movimentos populistas e antissistema tanto à esquerda quanto à direita, que prometem romper com o status quo. Sem reformas significativas, as democracias e o capitalismo enfrentam uma encruzilhada crítica, onde a legitimidade e a eficácia de ambos os sistemas estão sendo questionadas como nunca antes.

O que fazer? Obviamente não temos bala de prata para atender tantos desafios que se acumularam ao longo de décadas. Este artigo é parte de uma  Série Especial sobre a Evolução do Sistema Democrático  onde vou explorar algumas mudanças fundamentais no regime democrático e capitalista para que possa maximizar o bem-estar da população de modo sustentável do curto ao longo prazo.

Precisamos de atualizações urgentes em nossos sistemas políticos, caso contrário, a China e seus aliados vão enfraquecer o Ocidente, assumindo a liderança econômica e de qualidade de vida. Essa mudança representaria uma ameaça existencial à liberdade individual. Governos ao redor do mundo podem adotar o modelo autoritário chinês, seja por influência direta ou pelo desejo da população por melhores condições de vida, resultando no fim das liberdades individuais tal qual o conhecemos. Com o nível tecnológico de hoje, este caminho poderá ser sem volta. 


Devemos começar pelo diagnóstico. Atualmente, o poder executivo define suas próprias metas e também as persegue, com exceção ao banco central, o que configura um claro conflito de interesses. Quando falham, os líderes frequentemente culpam terceiros e, mesmo deteriorando a situação do país, mantêm-se no poder, muitas vezes com direito à reeleição. 

A ênfase tem sido colocada em ideologias e debates sobre uma suposta justiça, como o aborto e os direitos das mulheres, legalização ou punição das drogas, imigraçãol, privatizações, direito à propriedade, maioridade penal,  reabilitação ou prisão de criminosos. Esses temas, embora importantes, são irrelevantes. Eles  apenas vem perpetuar um sistema doente que procura polarizar e manipular o debate público e tirar o foco da população do que realmente interessa. 

O que a sociedade quer e precisa é resultados. A ideologia pouco importa, a forma boa de governar é aquela que funciona. Mais pessoas com acesso a esgoto e água potável é uma meta primordial.  Menos homicídios, roubos, acidentes de carro, crescimento positivo do PIB, estabilidade da moeda, inflação controlada, juros baixos, esses são alguns de muitos objetivos mensuráveis.

Precisamos encontrar nosso Princípio de Pareto, aquela mudança que exige 20% de esforço mas obtêm 80% do resultado. Acredito que separar a definição de metas do governo da execução diária seria o ideal para atingir esses índices, algo semelhante ao que ocorre na governança corporativa. Essa mudança aumentaria a responsabilidade e a eficiência, assegurando que os objetivos estratégicos sejam claros e que sua execução seja rigorosamente monitorada e avaliada.

Na nova visão, o presidente e sua equipe seriam responsáveis por criar, manter, desenvolver, monitorar e medir os índices de performance chave (KPIs) do governo, em todas as pastas. Essa abordagem garantiria total transparência para a população sobre a situação histórica, presente e as metas futuras. A ênfase deixaria de ser em debates ideológicos contraproducentes e passaria a ser sobre o pragmatismo, essencial para o progresso sustentável das democracias e do capitalismo.

O executivo seria liderado pelo primeiro-ministro, que deverá ser escolhido pelo presidente. Assim, seu futuro, e de seus ministros ou secretários será definido por sua capacidade de atingir metas. 

Em casos de fracasso, esses líderes poderão ser substituídos ou até banidos do jogo político por falta de competência. Essa medida visa tratar a falta de responsabilidade que leva a população a desconfiar da integridade do governo e da política. A obrigação clara e a transparência permitirão que a população recupere a confiança nas instituições democráticas, sabendo que os líderes são responsabilizados por suas ações e resultados.

A transformação necessária para nossas democracias e sistemas capitalistas não é apenas uma questão de política, mas de sobrevivência e progresso. A falha em separar a definição de metas de sua execução, somada ao foco em debates ideológicos, tem desviado nossa atenção das verdadeiras necessidades da sociedade: resultados tangíveis e mensuráveis que melhoram a qualidade de vida de todos.

Chegamos a um ponto de inflexão. Precisamos de um sistema onde a responsabilidade é clara, a transparência é a norma, e a eficiência é recompensada! O presidente e sua equipe devem ser os guardiões das metas estratégicas, enquanto o primeiro-ministro e seus ministros devem ser os executores implacáveis dessas metas. Em casos de fracasso, a substituição não deve ser apenas uma opção, mas uma necessidade para garantir a integridade e a eficácia do governo.

Esse modelo não é apenas uma solução administrativa; é uma exigência moral para com os cidadãos que merecem ver resultados reais em suas vidas diárias. É hora de deixarmos de lado as divisões ideológicas e nos unirmos em torno de um objetivo comum: construir um governo que realmente funcione para o povo, um governo que transforme promessas em realidade e restaure a confiança nas instituições democráticas. Somente assim podemos assegurar um futuro de prosperidade, progresso sustentável e a perpetuação da liberdade individual para todos. Somente assim, mais cidadãos do mundo irão preferir e lutar pela adoção do modelo democrático-capitalista frente ao modelo totalitário com pitacos de livre mercado.