Daniel R. Schnaider

Fora daqui!

O desprezo pelos empresários

Precisamos apoiar a proliferação e o crescimento das pequenas e médias empresas (PMEs)
Foto: ESG Insights
Precisamos apoiar a proliferação e o crescimento das pequenas e médias empresas (PMEs)


Más ideias matam, destroem famílias e derrubam sociedades inteiras. Escravidão, colonialismo, comunismo, apartheid, cruzadas, caça às bruxas, entre muitos outros conceitos criados e executados por pessoas com o mesmo DNA humano que eu e você. Isso deveria nos levar a adotar uma postura humilde em referência à vida, mas não é o que acontece.  


Nossos erros são consistentes ao longo das gerações. Não damos importância ao aprendizado histórico, mesmo com todas as lições que ele nos traz. Votamos em líderes populistas, carismáticos e prepotentes, embora eles centralizem o poder, ignorem conselhos, criem alta dependência, adotem políticas simplistas, desprezem evidências científicas e ajam com imprudência. 

Esses equívocos são repetidos quando vozes contra a classe “empresarial opressiva” ou empresas específicas ganham força. Vemos isso com o fenômeno “Techlash”, que tem gerado ataques contra grandes empresas de tecnologia como Google, Facebook e Amazon, referentes à falta de respeito à privacidade e práticas monopolistas. 

Há também a demonização das empresas farmacêuticas, criticadas por seus altos lucros. Ou a hostilidade à indústria de combustíveis fósseis, incluindo empresas como ExxonMobil e Shell, frequentemente criticadas por sua contribuição à crise climática. Além disso, há ataques às empresas de alimentos, como McDonald's e Coca-Cola, por promoverem dietas não saudáveis.

Não há santos no mundo corporativo, mas o que aconteceria se essas empresas deixassem de existir hoje?

Se grandes empresas de tecnologia como Google, Facebook e Amazon desaparecessem, o impacto seria catastrófico. O Google, por exemplo, processa mais de 3,5 bilhões de pesquisas por dia; sem ele, o acesso à informação seria severamente limitado, deixando bilhões no escuro. Facebook e Amazon, que conectam milhões de pequenos negócios a consumidores, criariam um vácuo que poderia resultar na falência em massa dessas pequenas empresas. A economia digital, que representa cerca de 15,5% do PIB global, colapsaria, gerando uma crise econômica mundial sem precedentes.

A ausência das empresas farmacêuticas seria ainda mais devastadora. A Pfizer e a Moderna, por exemplo, foram cruciais no desenvolvimento das vacinas contra a  COVID-19, salvando milhões de vidas. Sem essas empresas, a pandemia poderia ter causado dezenas de milhões de mortes adicionais. Além disso, milhões de pacientes que dependem de medicamentos para condições crônicas, como diabetes e hipertensão, estariam em risco imediato, resultando em um aumento dramático na mortalidade global.

A eliminação das empresas de combustíveis fósseis, como ExxonMobil e Shell, desencadearia uma crise energética absoluta. Cerca de 80% da energia mundial ainda depende de combustíveis fósseis. Sem eles, hospitais, escolas e indústrias parariam de funcionar, causando um colapso completo da infraestrutura básica. Regiões inteiras mergulhariam na escuridão, e o caos social seria instaurado. Conflitos por recursos energéticos já levaram a guerras no passado e, com a ausência dessas empresas, novos confrontos seriam inevitáveis.

Se empresas como McDonald's e Coca-Cola deixassem de existir, o impacto seria sentido de imediato. Essas duas organizações empregam milhões de pessoas ao redor do mundo em diversos setores, desde executivos até entregadores. O fechamento repentino dessas empresas resultaria em desemprego em massa, aumentando a pobreza e a fome. Além disso, elas são grandes compradoras de produtos agrícolas; sem suas operações, milhões de agricultores perderiam sua principal fonte de renda, desencadeando outra crise global.

Portanto, vale ressaltar que, enquanto é vital criticar e responsabilizar empresas por práticas antiéticas e prejudiciais, também é importante reconhecer o papel significativo que desempenham em nossa sociedade e  economia. A solução não está na eliminação dessas empresas, mas em promover práticas empresariais mais responsáveis e sustentáveis por meio de educação, regulamentações, inovação, consciência coletiva e, acima de tudo, promovendo condições para a concorrência.

Para incentivar a competição no mercado, precisamos apoiar a proliferação e o crescimento das pequenas e médias empresas (PMEs). Primeiramente, é essencial criar um ambiente macroeconômico de estabilidade de preços, juros baixos, tributos simples e, de preferência baixos, e uma taxa de câmbio estável.

A essencialidade da segurança jurídica, uma burocracia mínima e eficiente, e uma regulamentação adequada são fundamentais. Ainda, é necessário incentivar o capital de risco, como fundos de private equity, venture capital e bolsa de valores especializada (como a Bee4 no Brasil). Pesquisa e desenvolvimento, hubs de empreendedorismo, incubadoras, estudos no exterior, mecanismos de premiação e apoio à exportação, e ao investimento externo e no Brasil também são pontos que devem ser considerados. Além é claro, de educação ao empreendedorismo, gestão financeira e compreensão quanto aos desafios locais e globais. Precisamos fortalecer o ethos do empreendedor para que sejam mais venerados do que nossos melhores jogadores de futebol ou pilotos de fórmula-1.

O aumento da concorrência resultante promove a inovação e a eficiência, levando a produtos e serviços de melhor qualidade e a preços mais competitivos. A inovação, muitas vezes impulsionada por PMEs, pode resolver problemas globais como crises climáticas, terrorismo, criminalidade, doenças, acesso à educação, cibersegurança, privacidade e muito mais. Um exemplo é a Tesla, que começou como uma pequena empresa e agora lidera a inovação em veículos elétricos. 

O aumento da demanda por empregos também leva a salários mais altos e melhora a qualidade dos colaboradores através de treinamento no trabalho. Um estudo da OCDE mostra que países com um setor PME forte tendem a ter salários médios mais altos e menor desigualdade de renda. Outro estudo do McKinsey Global Institute revela que economias diversificadas se recuperam mais rapidamente de choques econômicos. 

O segredo não está em reclamar de quem faz, mas sim em levantar e fazer algo melhor. Nossa exigência não deve ser contra quem faz, mas sim a favor de quem está disposto a se sacrificar através do empreendedorismo e necessita de um ambiente propício para realizações. Esta pode ser uma boa ideia.