Daniel R. Schnaider

Um planeta verticalizado

Como resolver problemas globais

Como resolver problemas globais
Foto: FreePik
Como resolver problemas globais


A organização em grupos começa pelos nômades, seguida pelas primeiras tribos e depois por comunidades agrárias, que datam de milhares de anos atrás. Com o passar do tempo, essas comunidades cresceram em complexidade e tamanho, formando cidades-estados na Mesopotâmia por volta de 3000 a.C. Estas formas de organização evoluíram para reinos e impérios, como o Império Romano (27 a.C. - 476 d.C.), que governou grandes áreas com diferentes povos e culturas sob uma única autoridade. 

Após a queda dos grandes impérios, a Europa Medieval viu o surgimento de feudos e o poder descentralizado, que eventualmente levaram à formação de reinos mais consolidados. O conceito moderno de Estado-nação começou a tomar forma com o Tratado de Vestfália em 1648, que encerrou as guerras religiosas na Europa e estabeleceu os princípios de soberania nacional e integridade territorial. 

Durante os séculos XVIII e XIX, o nacionalismo e as revoluções liberais promoveram a consolidação dos Estados-nações baseados em identidade comum, fronteiras definidas e governança centralizada, culminando na configuração política global que conhecemos hoje.

Como destaca Yuval Noah Harari em seu livro "Sapiens", muitos dos desafios enfrentados pela humanidade não se limitam a barreiras definidas politicamente, legalmente ou militarmente. Problemas globais como mudanças climáticas, organizações criminosas, pandemias e crises econômicas transcendem as fronteiras nacionais e requerem a cooperação entre países para serem efetivamente abordados. 

Harari aponta que, embora os Estados-nações organizem suas políticas internas de maneira autônoma, a interdependência global exige uma abordagem mais colaborativa e multilateral. Este cenário ressalta a necessidade de estruturas supranacionais e tratados internacionais que possam facilitar soluções conjuntas, enfatizando que os desafios contemporâneos exigem uma nova maneira de pensar sobre soberania e cooperação internacional.

As Nações Unidas, projetadas para fomentar a cooperação internacional, enfrentam limitações em sua eficácia devido, por exemplo, à estrutura do Conselho de Segurança, onde o poder de veto dos cinco membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China) pode paralisar decisões. Outra questão é que países autocráticos usam a organização para promover políticas que mantenham seus ditadores no poder, e não tem como principal foco fazer do planeta um melhor lugar para todos.

Em locais em que a  ONU não conseguiu preencher o espaço,  grupos de países surgiram para realizarem acordos entre eles. OTAN, UE (União Europeia), G7, OPEP, BRICS, Mercosul entre outras. Porém, configurações como estas, se tratam de estruturas políticas complexas, robustas, mas lentas e limitadas em escopo. O quanto as organizações internacionais foram ágeis no tratamento do Covid-19? Quais países têm estruturas inteligentes entre eles para alocação de recursos em caso de catástrofes naturais? Quais sistemas são eficazes para combater a destruição dos oceanos e do meio ambiente em geral? O quanto é possível, no sistema atual, curvar interesses localizados para priorizar a sobrevivência de nossa espécie? Quais incentivos podem ser criados para países que hoje não jogam o ‘rule-base-order’ para se adaptarem? 

Não se trata de um conceito novo. Exemplo: a Interpol, que significa Organização Internacional de Polícia Criminal, é a maior organização policial do mundo.  Funciona como uma espécie de ponte entre as polícias de diferentes países, facilitando a cooperação internacional no combate ao crime. Minha visão de futuro é que teremos que criar e aprimorar muitas dessas estruturas  internacionais. 

Os mais importantes passos, em minha opinião, são primeiramente definir os maiores desafios globais, e segundo, criar o sistema de incentivos para cooperação internacional.  

Comecemos pelos desafios globais. Se nos basearmos no Fórum Econômico Mundial (WEF) temos: Mudanças Climáticas e Perda de Biodiversidade; Desigualdade Social e Econômica; Crises de Saúde Pública; Fragmentação Geopolítica; Tecnologia e Cibersegurança; Crises Econômicas; Escassez de Recursos Naturais e Migrações Massivas. 

Segundo, é criar o sistema de incentivos para cooperação internacional. Por exemplo: dentro do tema da mudança climática podemos criar um fundo internacional para inovação relacionada à captura de CO2 da atmosfera. Todos os países membros podem ter empresários e acadêmicos inscritos. Obviamente, para competir existirão exigências mínimas dos países participantes, mas a ideia é que todos tenham  potencial para gerar conhecimento, empregos, o uso de vantagem competitiva entre outros. E se bem planejado, a estrutura pode criar os incentivos necessários para que políticos consigam pagar o ‘custo’ para adesão ao grupo. 

O ‘endgame’ é a solução dos maiores problemas globais, o meio é o arcabouço de incentivos para jogar dentro de regras globais e unificadas. A vantagem é que países mais pobres ou menores terão oportunidades em escala global ao escolher se especializar em um tema específico criarão vantagens competitivas. Isso ajudará a distribuir melhor oportunidades e riquezas futuras, unindo o planeta em volta de objetivos comuns. 

A diferença primordial entre, por exemplo, o comércio global que tem características semelhantes a estas que estou apresentando, é que aqui temos uma ferramenta a ser usada como cada indivíduo ou empresa bem entender. Já este artigo advoga que problemas mundiais precisam ser solucionados, e organizados da mesma forma para garantir uma eficaz alocação de recursos globais, sejam eles humanos, de capital ou de máquinas - baixo a regras mundialmente acordadas. 

Estamos falando de leis, recursos, protocolos, tecnologia, metodologia, sistema, cultura global, acordos. Por exemplo, um grupo de pessoas de diferentes países que estão trabalhando em soluções referente ao tráfico de pessoas, neste contexto podem ter autorização para se realocar entre os países com burocracia simplificada. Afinal, ele pode não ser cidadão de determinado país, mas está trabalhando em solucionar um problema que o afeta. Ou seja, cada grupo de nações que está envolvido na solução global de um desafio se comportam como uma aliança estratégica que lembra mecanismos da União Europeia. Para ganhar celeridade, espero que a liderança possa ser da iniciativa privada, de ONGs e universidades com apoio dos governos e não ao contrário.