Inovações urgentes para desafios imensos
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Inovações urgentes para desafios imensos


Em seu famoso discurso na Universidade Rice em 12 de setembro de 1962, o Presidente John F. Kennedy enfatizou a natureza ambiciosa e desafiadora da missão espacial de pousar um homem na Lua. Ele expressou o espírito pioneiro do empreendimento dizendo: "Escolhemos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque são fáceis, mas porque são difíceis". Um comprometimento, talvez sem precedentes considerando que naquele momento, ainda não existia toda tecnologia necessária para pousar um humano na lua.

Em 2024, inspirados pelo legado de Kennedy, enfrentamos nossos próprios "pousos na lua" – desafios monumentais que definem nossa era. Entre eles, primeiro está a crise climática, exigindo soluções inovadoras para mitigar o aquecimento global e proteger ecossistemas, minimizando instabilidades sociais. Segundo, é a transformação digital, abordando questões regulamentares, éticas e de segurança em IA, IoT, Realidade Aumentada entre outras tecnologias emergentes, sem asfixiar a própria inovação. Em terceiro, o fim do ciclo da ordem global, pós segunda guerra mundial liderada pelos americanos, e suas consequências para a liberdade individual, democracia e economia de mercado. E por último, o futuro do emprego em um mundo cada vez mais automatizado.

Com isso, um dos maiores desafios da humanidade, infelizmente pouco debatido, é repensar e aprimorar nossos processos de inovação. Os mecanismos atuais podem não ser suficientemente eficazes para abordar de forma eficiente os desafios mais prementes. Quatro áreas críticas necessitam de atenção especial: a criação de métodos paralelos ao científico tradicional; a correção das falhas no sistema de patentes e proteção da propriedade intelectual; a implementação de novas DARPAs (Defense Advanced Research Projects Agency, Departamento de Defesa norte-americano (DoD) que realiza os investimentos iniciais essenciais ao desenvolvimento de tecnologias na área de defesa) para projetos estratégicos moonshot; e a inovação focada em melhorar a adaptabilidade humana às mudanças.


Vamos reconsiderar o modelo científico atual. Frequentemente, artigos científicos tendem a enfatizar demais as contribuições individuais em detrimento do trabalho coletivo. Inovações marcantes como o ChatGPT e as vacinas para a COVID-19 são frutos de esforços colaborativos em estruturas hierárquicas complexas e bem financiadas, estendendo-se por períodos consideráveis. Além disso, tecnologias fundamentais que impulsionam a inovação, como ferramentas de ciência de dados como R ou Python (linguagens de programação) entre muitas outras, não recebem o devido reconhecimento no âmbito científico, apesar de sua vasta e crucial contribuição para quase todos os campos da pesquisa.

Em segundo lugar, consideremos o sistema de patentes e propriedade intelectual. No Ocidente, este sistema tende a favorecer grandes corporações em detrimento de indivíduos e pequenas e médias empresas. Se uma pessoa tem uma ideia brilhante que poderia obrigar grandes empresas a pagarem royalties , ela enfrentará enormes desafios legais, dada a necessidade de recursos substanciais para se defender. Além disso, a falta de respeito por nações soberanas pela propriedade intelectual desencoraja a inovação e fomenta a concorrência desleal. Como resultado, menos indivíduos estão dispostos a assumir os riscos necessários para enfrentar grandes desafios globais, aumentando a incerteza coletiva da humanidade.

Terceiro, a necessidade dos governos criarem fundos de incentivos à inovação “moonshot” de altíssimo risco com sublime potencial. O professor Clayton Christensen de Harvard alertava que os sistemas de incentivos econômicos nos países avançados favorecem inovações de sustentação, leia-se: melhorar produtos existentes, e inovação de eficiência que é fazer mais com menos aumentando lucro e competitividade das empresas, mas impactando negativamente no número de empregados. Porém, inovações disruptivas, que criam novos mercados, empregos, e avançam a sociedade como um todo, são percebidas como demasiadamente arriscadas tanto entre negócios, fundos e no mundo acadêmico.

Quarto e último é a pesquisa e desenvolvimento da adaptabilidade humana. Qualquer executivo ou político que precisou realizar mudanças das mais pequenas até as mais significativas teve que por bem ou por mal aprender a lidar com fortes níveis de resistência. Porém, os efeitos no clima, os impactos bons e ruins da tecnologia em nossas vidas, as rivalidades geopolíticas, e as substanciais mudanças no mercado de trabalho exigem novas culturas, leis e instituições em um ritmo jamais exigidos nos 300 mil anos da história humana na terra.

Os impactos negativos das redes sociais e celulares sobre as crianças, juntamente com a ameaça à liberdade em nossa sociedade, exigem uma ação responsável e imediata em uma civilização procrastinadora. Um exemplo histórico é encontrado em 1864 no livro 'Homem e Natureza', de George Perkins Marsh, que já apontava para as mudanças ambientais causadas pelo homem. A primeira quantificação do aquecimento global devido às emissões humanas de CO2 foi feita por Svante Arrhenius em 1896. Em mais de 100 anos, nossos avanços no tema, são pífios. Similarmente, tecnologias promissoras como os carros autônomos, que têm o potencial de prevenir milhares de acidentes, encontram-se entravadas por desafios regulatórios, legais e culturais.

Diante dos desafios que se estendem à nossa frente, lembremo-nos da audácia de sonhar grande, como fizeram os heróis do projeto “Apollo” que colocou o primeiro homem na lua. Agora, é a hora de colocar inovações disruptivas como um dos pilares do ocidente, e criar os mecanismos que aceleram grandes descobertas, e sua adoção segura. Não pergunte o que o mundo pode fazer por você, mas o que juntos podemos fazer pela humanidade.

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