Desde o ataque ocorrido em 07 de outubro contra Israel realizado pelo Hamas , organização reconhecida como terrorista, presenciamos uma enxurrada de manifestações contra judeus e, especificamente, contra o Estado de Israel. Este artigo busca explorar a linha tênue entre críticas legítimas, parte do debate democrático, e o antissemitismo, entendido aqui como hostilidade ou preconceito contra o povo judeu. Para isso, iniciaremos com um contexto histórico.
A palavra "antissemitismo" foi introduzida no léxico político pelo jornalista alemão Wilhelm Marr, em 1879, para descrever a hostilidade e o preconceito contra os judeus. Esta terminologia surgiu em um contexto de crescente nacionalismo e xenofobia na Europa, representando uma transição do antijudaísmo, antes predominantemente baseado em diferenças religiosas, para um preconceito mais enraizado em alegações de divergências biológicas e culturais.
No entanto, a discriminação e perseguição aos judeus têm origens muito mais antigas, remontando as acusações de deicídio no Império Romano, as conversões forçadas e expulsões durante a Inquisição na Espanha, além dos pogroms violentos na Europa Oriental e Rússia, que se intensificaram durante a Idade Média e os tempos modernos. O ponto crítico durante o século XX, ocorreu com o Holocausto, o genocídio sistemático que resultou na morte de seis milhões de judeus pelos nazistas e seus colaboradores.
A partir de 1967, quando Israel venceu um ataque simultâneo de vários países árabes em seis dias, os judeus-israelenses, que tinham seu próprio país há apenas 19 anos, deixaram de ser considerados vítimas para serem percebidos como opressores. Neste momento, torna-se mais evidente a divisão entre os críticos do estado de Israel e a morfologia do antissemitismo, que têm suas raízes no racismo, nas conspirações econômicas, religiosas e culturais.
Então, onde se encontra essa importante linha que separa a legitimidade da crítica do antissemitissmo muitas vezes velado? Procure a falta de consistência com a aplicação de dois pesos e duas medidas. É coerente alguém defender o direito das mulheres, exceto as israelenses quando são brutalmente estupradas? Ou, aquela pessoa que critica a morte de crianças em Gaza, mas jamais se manifestou em prol das crianças ucranianas, sírias, iemenitas, iraquianas, iranianas ou afegãs, age de forma consistente?
Decisões controversas do governo israelense não deveriam ser usadas como justificativa para ataques a judeus em todo o mundo. Essa associação não se aplica a outras religiões, como o cristianismo, islamismo, hinduísmo ou budismo, onde as ações de um governo não resultam em represálias contra todos os seguidores daquela fé. Portanto, trata-se de uma forma de antissemitismo.
Da mesma forma, revela-se uma tremenda hipocrisia quando toda e qualquer crítica ao movimento LGBTQ+ é considerada homofobia, enquanto o genocídio de judeus “depende do contexto”. Frequentemente a hipocrisia é uma forma de velar o antissemitismo, muitas vezes incosciente nas pessoas.
Apesar de ser o único país judaico, Israel ocupa uma porção mínima de território em comparação com os países árabes, representando apenas 0.15%, e uma parcela ainda menor nos países de maioria muçulmana, totalizando 0.069%. Em termos de população, a proporção equivale a aproximadamente 2% dos cidadãos árabes e 0.5% da população muçulmana, abrangendo mais de 22 e 50 nações, respectivamente. Curiosamente, mesmo com esses números, Israel enfrenta críticas internacionais frequentes.
No aspecto econômico, Israel destaca-se, representando significativos 15% do PIB árabe e 1.65% dos indicadores dos países muçulmanos. O produto interno israelense per capita é notavelmente 600% maior do que nos países árabes e 220% superior ao dos países de maioria muçulmana. Essa disparidade se torna ainda mais intrigante quando consideramos que apenas a região do Oriente Médio possui reservas de petróleo avaliadas entre 5 a 10 trilhões de dólares. Discrepâncias que suscitam reflexões sobre as motivações subjacentes às críticas frequentes direcionadas a Israel.
Em vez de reconhecer os esforços de Israel para proporcionar uma vida digna à sua população, e seu impacto positivo ao mundo ao compartilhar conhecimentos e tecnologia, mesmo em meio a desafios significativos, a narrativa internacional muitas vezes tende a retratar os palestinos unicamente como vítimas de Israel. Isso negligencia a realidade complexa da região e as decisões frequentemente equivocadas de seus líderes.
Esta perspectiva muitas vezes omite as adversidades dos países árabes e muçulmanos, alguns dos quais enfrentam sérias dificuldades socioeconômicas, ditaduras, concentração de recursos, instabilidade política, guerras, propagação de terrorismo global, corrupção, restrições às liberdades (especialmente das mulheres e LGBTQ+) e problemas de educação e saúde. No entanto, é a pequena e única democracia liberal do Oriente Médio que é retratada como a vilã.
Muitos críticos ignoram as circunstâncias sérias de seus próprios países, para falar de povos, regiões, culturas, histórias e conflitos que desconhecem. Como exemplo, o Brasil, que possui uma taxa de homicídio anual que varia entre 30-60 mil pessoas. Então, por que tanta atenção a um país ou região tão distante?
Esconder-se por trás de críticas sem apresentar soluções, como acusar Israel de opressão sem reconhecer os esforços do país em negociações de paz ao longo da história, ou propror soluções que ameaçam a segurança do povo judeu como um estado para os dois povos, que poderiam levar a eventos semelhantes, ou piores, que o 7 de outubro é indício de ingenuidade, ignorância ou puro antissemitismo.
Fontes: World Bank (Banco Mundial); CIA World Factbook -Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP); United Nations Development Programme (UNDP); UNDP Human Development Reports; Pew Research Center; International Energy Agency.