Chegar no atelier do Jaildo Marinho
, em Paris, é como fazer uma viagem no tempo. Ao pé da colina Rodin, por onde andava o grande escultor e sua Camile Claudel, você é guiado pela voz pernambucana com leve pitada goiana do nosso artista que é francês desde 2009. Mas sem perder um milímetro da sua brasilidade que foi desenhada quando nasceu, em Santa Maria da Boa Vista, no sertão de Pernambuco. Morando em Paris há 30 anos, com atelier também na Itália, virou um artista do mundo, sem abandonar sua Goiânia, cidade por adoção.Trabalha o mármore com uma precisão dos grandes mestres, mas faz um tratamento de cores que virou uma marca.
Recentemente em seu atelier acompanhei sua dedicação ao trabalho com madeira. Ao explicar, com naturalidade e sem pedantismo, o fascínio que o fato de ser escultor movimenta sua vida, ele acaba por inserir o visitante, também amante da arte, no seu mundo criativo e lúdico. Embora já tenha exposto suas obras mundo afora mantém um jeito tranquilo e descontraído. Mas seu compromisso é com a arte. Vê a arte como uma força transformadora do mundo e sabe que seu papel é mais do que encantar. O impacto de suas obras, talhadas com a determinação nordestina, mas com o espírito de quem tem o mundo nas pontas das mãos, provoca uma certa magia. Para mim, as cores entremeadas na brancura do mármore expõe um mistério que não precisa ser explicado. A arte serve também para isto: para nos fazer sonhar.
Certa vez passou um longo tempo explicando uma grande obra à qual ele estava se dedicando: uma enorme agulha de madeira. Foi interessante ver o fascínio que a agulha exerce sobre ele como escultor. Parecia uma poesia materializada. Deu a sensação que com aquela agulha, talhada com emoção e até amor, ele iria costurar os desarranjos do mundo. Afinal esta é, também, a função da arte. Unir, costurar, remendar os sonhos perdidos neste mundo tão desigual. A impressão que nos acompanha quando saímos do seu atelier é que a sua obra serve para dar cor e luz as vidas. E emprestar um pouco de esperança para fazer um mundo mais solidário e mais justo.
Uma matéria sobre o artista tinha como chamada: ”Escultor pernambucano leva o vazio do sertão para Paris”. Nesta reportagem, o artista fala que: ”A arte para mim não tem nacionalidade. Minha maneira de ver as coisas traz a minha origem, mas o mundo se abre para o artista e o artista se abre para o mundo.” É bem isto. Na obra de Jaildo, o sertão pernambucano está banhado pelas águas do rio Sena, onde ele descansa a sombra de um pé de piqui. A arte derruba as fronteiras e constrói pontes e sonhos.
O artista tem que levar com ele esta inquietação e a certeza que sua obra ajuda a mudar o mundo. A arte se expressa nos detalhes e cada um se entrega a ela de acordo com a ânsia interior que carregamos. O nosso maior artista, o genial Cândido Portinari, foi também um poeta que nos encantava. Com sua genuína humildade disse: ”Quanta coisa eu contaria se pudesse e soubesse ao menos a língua como a cor.”
Antônio Carlos de Almeida Castro- KAKAY