Kakay
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“Ando muito completo de vazios.

Meu órgão de morrer me predomina.

Estou sem eternidades.”

Manoel de Barros

relatório final da CPI da Covid foi forte, técnico e corajoso. Atendeu, em boa parte, à expectativa de milhões de brasileiros que exigiam uma postura contra este governo que cultua a morte, dissemina a mentira e coloca os interesses financeiros acima até da vida. Homicidas e corruptos. 


As 80 pessoas indiciadas, dentre elas o Presidente da República, seus 3 filhos e várias outras autoridades, demonstram a força da rede criminosa que se apoderou de parte do espaço público no Brasil de Bolsonaro. Impressionam a quantidade e a qualidade das provas e indícios que foram amealhados. Foi até emocionante ver o resultado apresentado. Depois de quase 6 meses de investigação, esses indiciamentos deixaram nus boa parte dos que lucraram com a dor de milhões de brasileiros. 


Agora, tenho dito, é hora de dar efetividade ao papel desempenhado pelos senadores na CPI. Todas as pessoas sérias e com uma formação minimamente humanista aguardam os desdobramentos por parte do procurador-geral da República, no caso do enquadramento criminal, e do Presidente da Câmara, na análise dos inúmeros crimes de responsabilidade, sem prejuízo da manifestação do Tribunal de Contas e de outros órgãos. 


É o povo brasileiro que acompanha esses desdobramentos, uma nação que se coloca como vítima dessa gangue que usurpou até mesmo a alegria natural que nos caracterizava.


É importante, mais uma vez, frisar que não se trata aqui de uma disputa política, não há que se falar em esquerda x direita. O que nos move é uma definição da barbárie contra a civilização. O despudorado cinismo com que se houve o Presidente da República no enfrentamento da crise sanitária, e agora está comprovado, tinha objetivos políticos e financeiros. Nada ocorreu por acaso. Era a mentira e o engodo como estratégia de governo, sem medir as consequências. É uma maneira deliberada e estudada de manter um grupo fanático como base de sustentação de um governo corrupto, perverso e sem nenhum compromisso com o brasileiro.


Certamente, estamos diante da maior investigação coletiva já promovida por um órgão do Congresso Nacional. E como o objeto da CPI era investigar os responsáveis pelo desastre na condução da maior crise sanitária de todos os tempos, o resultado paralisou o país. Tivemos ao nosso lado, nesse acompanhamento diário das ações dos senadores, a presença invisível dos mais de 600 mil mortos como que a nos lembrar da nossa responsabilidade, de cada um de nós, na cobrança por justiça. 

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Além dos que se foram, pelo menos 1/3 deles vitimados pela condução criminosa da crise, também nos une numa corrente imaginária milhões de pessoas que perderam entes queridos, amigos e companheiros. É quase impossível encontrar um único brasileiro que, em algum momento, não tenha sido vítima desse vírus maldito pelo menos com a contaminação de uma pessoa conhecida. 


O Senado fez a parte dele. Agora, cabe a cada um de nós fazer a sua. É impossível imaginar que esses que assaltaram o país, que riram e debocharam da dor e da angústia do povo brasileiro, que humilharam o Brasil frente ao mundo e que cultuaram a morte com a ganância de lucro e poder ficarão impunes. 


A recente declaração do Presidente da República, em uma live com repercussão nacional, mesmo depois de todo o trabalho da CPI, afirmando que a pessoa que tomar as 2 doses da vacina pode contrair AIDS demonstra o grau de insensibilidade, de falta de caráter e de cinismo desse governo. 


É um escárnio. A força, ainda que simbólica, da palavra do Presidente da República em um governo presidencialista certamente levará a um aprofundamento da política negacionista. E essa é a política que leva à morte, que agrava a situação dos hospitais e que sustenta a ação política cruel e desumana desse grupo. 


É hora de cobrarmos uma efetiva responsabilização de todos os envolvidos. Em respeito aos que se foram, em homenagem aos que ainda sofrem e, sobretudo, para que sejamos dignos de honrar o sonho e a esperança de termos um país justo e humano de volta. Depende de cada um de nós.


Lembrando-nos do grande Carlos Drummond de Andrade, no poema Os bens e o sangue:


“E a besta Belisa renderá os arrogantes corcéis da monarquia,

e a vaca Belisa dará leite no curral vazio para o menino doentio,

e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério se rirão se rirão 

porque os mortos não choram.”

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