O candidato do partido de extrema-direita alemão AfD nas eleições europeias, Maximilian Krah, em um evento de campanha em Dresden, em 1º de maio de 2024
JENS SCHLUETER
O candidato do partido de extrema-direita alemão AfD nas eleições europeias, Maximilian Krah, em um evento de campanha em Dresden, em 1º de maio de 2024


A direita radical ampliou o espaço na  Europa com bom desempenho nas eleições para o parlamento europeu e leva hoje temor ao mundo impondo uma questão: até que ponto irá ameaçar as  democracias e contribuir para a volta de regimes totalitários.

Quando o sobrinho de Napoleão Bonaparte, Carlos Luís, deu um golpe de estado na França, em 1851, Karl Marx disse que todos os fatos e personagens de grande importância na história mundial ocorrem por duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda como farsa.

Ironicamente, na hora em que comemoramos os 80 anos do desembarque na Normandia, marco da reviravolta na Segunda Guerra para a derrota do nazifascismo, a ultradireita teve o avanço consolidado na  União Europeia.

No centenário do manifesto nazista "Minha Luta", a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, a francesa Marine Le Pen e o partido Aliança para a Democracia (AfD) na Alemanha reforçaram essa onda radical na Europa.

A ascensão dos extremistas de direita prova que o projeto supranacional europeu não agrada mais uma parte da população do Velho Continente.

Em comum, defendem o nacionalismo e o combate ao islamismo e à imigração.

No ambiente hostil formado na Europa por inflação, recessão, desemprego, crise de segurança, envelhecimento da população e problemas previdenciários, as soluções prometidas por esses radicais se tornaram mais iluminadas aos olhos de parte da população.

Temas como  proteção ambiental e acordos comerciais deixaram de ter prioridade diante da realidade cruel, no ambiente europeu atual, de que não trazem efeitos positivos rápidos como as promessas nacionalistas e protecionistas.

A Europa sempre oscilou entre integração com multilateralismo e protecionismo com nacionalismo.

Este último segundo binômio levou vantagem nestas eleições para o parlamento europeu e o mesmo pode ocorrer proximamente na França.

Para o Brasil, significa prejuízo. Enfraquece, sobretudo, nas exportações agropecuárias, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia fechado em 2022, após 20 anos de negociações.

Estão sob risco também a promoção ao desenvolvimento sustentável, políticas comerciais, ambientais, trabalhistas e de atração de investimentos entre países dos dois blocos.

E o cumprimento do Acordo de Paris regido pela convenção de mudanças climáticas da ONU.

Embora com várias ideias comuns, entre elas a aversão à globalização, o radicalismo de direita solidificado em solo europeu tem origens e processos evolutivos diferentes dos registrados no continente americano nos últimos anos. O extremismo de Trump, Milei, Bolsonaro, Bukele e Kast é recente.

Desenvolveu-se de forma rápida, em poucos anos, à base do messianismo e da exploração da religião e com forte uso de conceitos distorcidos pelo uso em massa de fake news com mensagens mentirosas, aproveitando a insegurança de desinformados e religiosos, ou seja, a manipulação das pessoas pela propaganda política financiada com amplos recursos financeiros de ricos apoiadores.

Na Europa, o processo é mais antigo e gradual. Avança quando os fantasmas locais - movimentos nazistas, fascistas e xenófobos - voltam a assombrar diante de desempenhos ruins de governos progressistas nas questões econômicas e sociais. Por isso, é mais perigoso em termos globais.

O desafio, a partir de agora, será descobrir até que ponto e de que forma esse processo contaminará o mundo.

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