Cesário Melantonio Neto
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Cesário Melantonio Neto

A crise ambiental planetária, materializada pelas mudanças climáticas, evidencia de forma concreta nossas incapacidades, desatenção e arrogância na relação do ser humano com a natureza. Já sabemos que não há como controlar o clima ou tão pouco retroceder no tempo e ter de volta as condições existentes anteriormente no planeta. O já consolidado aumento de temperatura em 1,1 graus centígrados da superfície do planeta determina que os esforços possíveis e urgentes são de mitigação das emissões de carbono, com vistas a algum grau de segurança climática no futuro e de adaptação às novas e inevitáveis realidades ambientais.

Essas novas realidades ambientais convivem com mudanças no campo político, modeladas por transformações sociais e econômicas, pelo medo e a insegurança e pelo impacto das inovações tecnológicas. A humanidade e o planeta estão expostos a uma mutação de múltiplas dimensões, com processos disruptivos e impactantes nos modelos de percepção e de análise do mundo contemporâneo. Uma metamorfose do mundo mais do que se insinua, se anuncia.

Na perspectiva de um mundo em transformação é fundamental deter um olhar mais atento sobre a inserção da temática do meio ambiente na compreensão das dinâmicas políticas e econômicas contemporâneas internacionais, e na expressão do balanceamento global de poder. A vida social organizada que se conhece está exposta a possíveis colapsos pelas incertezas impostas pela tripla crise ambiental global: as mudanças climáticas, o colapso da biodiversidade e a poluição ambiental.

O reconhecimento de que os desafios da humanidade neste século estão cada vez mais interconectados e que transcendem as fronteiras, governos e sociedades deve pautar esta nova visão política no Brasil além de orientar as nossas discussões de renovação ambiental e a busca de novos espaços para o multilateralismo. A decisão de mudança em nosso país se deve dar no presente sem adiamentos e não temos como comprar o tempo de que necessitaríamos.

A inexorável nova relação do homem com a natureza exigirá também mudanças deliberadas e conscientes nos valores sociais: um redirecionamento de toda a economia transformando a produção, a distribuição e o consumo em nossa economia.

Tempos extremos como o nosso exigem medidas extremas, e isto não significa que estas medidas precisem ser autoritárias ou excludentes. Este não é o momento para uma linguagem acordada no Brasil, mas para iniciativas transnacionais, comportamentos insurgentes e inovações ousadas no nosso país.

Crises globais usualmente impõe custos para todas as nações e sociedades.

Líderes que desprezaram os alertas da ciência em nome dos seus planos políticos fizeram seus países pagar caro por esta postura egoísta, irresponsável e imatura como foi o caso brasileiro nos últimos quatro anos da anterior administração federal.

O processo de recuperação não será trivial e não pode ser orientado pelo passado, pelo que tivemos ou já fomos. Assim como na agenda de governança global e multilateral, a reconstrução da governança ambiental-climática nacional demandará ousadia, criatividade e responsabilidade do nosso Governo.

Nesse processo é fundamental o Brasil valorizar e proteger sua biodiversidade, seus biomas, suas populações tradicionais como as estruturas fundantes de nossa identidade nacional, fortalecendo assim o Brasil como uma nação soberana verde.

A crise ambiental e climática e uma certeza e será responsável por parte das novas realidades no atual século. As suas soluções precisam fazer parte do quotidiano das pessoas, dos debates democráticos, do engajamento inclusivo e diverso do Brasil e do mundo.

Para voltar a ter protagonismo nessa agenda, o Brasil precisa deixar para trás o retrocesso, reconhecendo erros, entendendo o peso de sua trajetória nessa agenda, além de definir com clareza os seus interesses e ambições.

O fim do desmatamento no Brasil e uma nova relação positiva com a natureza permitirão seguirmos em frente, democraticamente, lidando com as nossas ambiguidades, responsabilidades e com os nossos desafios.

Sem ufanismo, sem apequenamento.

O Brasil precisa ter os fundamentos no presente, consciência do seu lugar no mundo marcado por estas eras climáticas e tecnológicas e com um olhar adiante para definir o que seremos em 2050.

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