É uma história que merece um filme. Cientistas europeus e brasileiros se encontram no sertão nordestino para testar as teorias exóticas de um físico alemão que preveem a curvatura do espaço-tempo. No entanto, por mais que pareça ficção, foi exatamente o que aconteceu há exatos 100 anos, no município de Sobral, no interior do Ceará.
Como cientista, é uma aventura que sempre me fascinou, sobretudo como exemplo do enorme sucesso do método científico.
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Eclipse de 1919: da teoria à prática
Albert Einstein publicou seu artigo científico sobre a Teoria da Relatividade Geral em 1915. É sem dúvida um dos resultados mais importantes da história da Física, embora não possamos descartar contribuições importantes de cientistas e matemáticos como David Hilbert.
A teoria era revolucionária. Segundo ela, a presença de massa no espaço seria capaz de curvá-lo, como uma bola de basquete sobre um lençol esticado. A gravidade seria então descrita não como uma força atrativa entre corpos, mas como a trajetória a ser seguida por um corpo no espaço curvo.
Intuitivamente, a proposta pode parecer absurda. Um espaço que se dobra como um pedaço de pano? No entanto, a matemática de Einstein explicava muito bem a órbita do planeta Mercúrio, que parecia estar em desacordo com as previsões da Gravitação Universal de Isaac Newton.
Por outro lado, o grande poder da teoria era o de previsão. Se estivesse correta, as posições das estrelas no céu seriam alteradas quando o Sol estivesse logo em frente, agindo como uma enorme lente no céu curvando o espaço ao seu redor.
Como observar estrelas durante o dia é impossível, a melhor solução seria fotografar o céu durante um eclipse solar total. Na escuridão, poderíamos então observar a mudança aparente de posição das estrelas devido ao campo gravitacional do Sol.
Dessa forma, o astrônomo inglês Sir Arthur Eddington organizou duas expedições em maio de 1919: foi pessoalmente à ilha de Príncipe, na costa da África, e enviou outra equipe à cidade de Sobral, no Ceará, com auxílio técnico e participação importantes de astrônomos brasileiros como Henrique Morize, à época diretor do Observatório Nacional.
As medidas tomadas em Sobral, em particular, foram fundamentais. O tempo estava um pouco melhor, e os cientistas puderam medir as posições de diversas estrelas no céu.
Você viu?
Em novembro daquele ano, após todas as medições e contas, o grande anúncio: as previsões de Einstein estavam corretas. O espaço era curvo.
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O poder da Ciência
Para mim, o grande fascínio da história está no poder da Ciência.
Os astrônomos sabiam exatamente quando o eclipse aconteceria. Na hora e minuto exatos, estavam com seus telescópios apontados para a posição precisa do Sol, e sabiam exatamente qual a deflexão da posição das estrelas caso a Relatividade Geral estivesse correta.
As medições comprovaram as previsões com exatidão. É um caso clássico do sucesso do método científico: um modelo que pode ser testado e, eventualmente refutado. A Relatividade de Einstein, ao contrário, foi confirmada com louvor.
Aí mora a distinção entre o negacionismo científico e a ciência de verdade: “teorias” baseadas em fake news são incapazes de produzir uma previsão falsificável, e seus defensores sempre vão distorcer as evidências para que encaixem no seu modelo favorito.
Ponto para Einstein, Eddington, e a verdadeira Ciência.
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