Empoderadas, elas fazem a diferença! Belas, podem vender o que todo mundo compra: roupas, joias, aparelhos de som, celulares, refrigerantes, produtos de beleza, moda, perfumes, sonhos e muito mais. Se na década de 1960 tínhamos a Naomi Sims – considerada a primeira modelo negra do mundo, a primeira a ser capa do suplemento de moda Fashion of the Times, do jornal americano New York Times – hoje temos a Joan Smalls e a veterana Naomi Campbell, duas referências. Não por acaso, deslumbrante, Joan, modelo porto-riquenha, ocupou durante anos o primeiro lugar no topo do ranking das melhores modelos do mundo.
Algumas modelos negras aplaudem e são taxativas: "precisa ser estrangeira – e de sucesso! – para estrelar a capa de uma revista de moda no Brasil". E faz sentido: esse mês, Joan estrela a badalada revista Vogue com direito a duas opções de capa. No Victoria's Secret Fashion Show, um dos eventos mais esperados do ano ela brilha: a renomada marca de lingeries todo ano, arma um show para apresentar as suas novas coleções de lingerie – com direito a um time de modelos de peso. Na última edição, o VSFS apresentou mais uma vez, um cast respeitável com negras dando um show de beleza na passarela – a americana Jasmine Tookes vestiu o badalado Fantasy Bra, o milionário sutiã fabricado com muitas pedras preciosas. No Brasil, a possibilidade de estabelecer cotas em desfiles gera polêmica no mundo da moda, afinal, a reserva de vagas para as chamadas minorias sempre divide opiniões... Mas, a realidade é uma só: infelizmente, os modelos negros são chamados para desfiles temáticos ou quando o estilista quer ser reconhecido porque colocou modelo negro
na passarela.
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No Brasil, embora pesquisas apontem o crescimento da presença do negro na publicidade nos últimos anos, o estudo do pesquisador Carlos Augusto de Miranda e Martins mostra que ainda somos associados a estereótipos negativos. "A imagem do negro está sempre ligada a pobreza", lamenta Adriana Lemos, aspirante a modelo. "Estou tentando ingressar na carreira, mas tenho os pés no chão... Sei que dificilmente uma negra vai fazer sucesso como a Naomi Campbell faz. Aqui, por sinal, as grandes empresas e profissionais esquecem que somos consumidores. Alguém aí já viu um negro como protagonista de um comercial de creme dental, por exemplo?!", revolta-se. "E nos desfiles? Parece que estamos em outro país... Enquanto nós não fizermos alguma coisa pra mudar o Brasil, essa situação vai existir. É revoltante!"
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Em suas últimas edições, o São Paulo Fashion Week chamou a atenção mais uma vez para o cenário de mudanças próprio de um início de século. Mas, apesar dos avanços, ainda é notório que a maioria das modelos continua correspondendo a um padrão europeu. “Olhamos para as passarelas brasileiras e parece que estamos olhando para a Suécia", observa a cantora Karol Conka. E com razão... Se somos mais que a metade da população, precisamos de representatividade. Segundo o promotor Eduardo Valério, “a publicidade não é apenas uma atividade econômica, mas também uma expressão cultural. Por isso, deve refletir a pluralidade étnica e cultural”. Diretamente do Senegal para o Brasil, um estudante de Geografia aplaude: “Vivemos em um país tropical, cheio de cores e raças e a beleza negra sempre se destaca no mundo da moda. É impossível ela não chamar atenção”, diz Modou, que também trabalha como modelo e já estrelou editoriais de moda e brilhou no desfile da LAB (marca de streetwear dos cantores Emicida e Fióti). Ele atribui parte desse sucesso a luta, coragem e força de vontade que tem. “Aos poucos estamos mostrando que também somos grandes consumidores, por isso, precisamos de respeito. Precisamos ter autoestima, nos unir e nos movimentar!" Para o senegalês, que fala inglês, francês e espanhol, atualmente morando no Brasil, o fashion show da LAB é um "movimento". É a moda da rua, do rap, da periferia dentro do SPFW. A marca merece aplausos: apostou em um casting 90% negro para seus desfiles. Mas, apesar dos avanços, ainda é notório, como observou a cantora Karol Conka, precisamos muito mais de representatividade.
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Pagodeiro? Jogador de futebol? Onde estão os negros diplomatas, advogados, médicos, jornalistas... Já é certo que os negros tiveram papel importante em diversas áreas de representação, assim como fazem no samba e no futebol. E por que não na moda? A beleza "exótica" de alguns e o talento invejável de outros, transformaram alguns nomes em marcos do mundo fashion, infelizmente, fora do Brasil. É o caso da bela inglesa, Naomi Campbell, descoberta por um agente da Elite Model quando passeava em um parque. Com apenas 15 anos, ela não imaginava que seria uma das mais importantes e requisitadas tops do mundo. No ano seguinte se mudou para Paris, e sua carreira deslanchou... Na época, o mercado não estava acostumado a investir em modelos negras, porém, Naomi Campbell foi uma das pioneiras. E chegou pra ficar! Em pouco tempo, já ilustrava capas das mais importantes revistas do mundo fashion. Nem as marcas mais badaladas e os grandes estilistas resistiram aos seus encantos. Hoje, mais de 30 anos depois, continua dando o que falar... É referência!
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Outro nome de sucesso é Tyra Banks. A criadora de um dos programas de maior sucesso da TV americana, o“America’s Next Top Model”, começou a carreira de modelo também aos 15 anos. Os olhos claros, contrastando com a cor da pele, renderam elogios e marcos na carreira da jovem americana. Aos 17 anos, em Paris, impressionou designers e criadores com sua beleza e realizou mais de 25 desfiles em uma semana, um recorde para iniciantes. Foi a primeira negra a estampar capas de revistas como a GQ e a Sports Illustrated Swimsuit Issue. Tyra voou longe, foi além, mostrando que, assim como Naomi chegou pra ficar: ocupou durante anos – ao lado de Gisele Bündchen – um dos postos mais sonhados pelas supermodelos do mundo: ser "Angel" da Victoria's Secret.
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Enquanto isso... A Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de São Paulo, área de Inclusão Social, lançou, no Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, uma campanha onde questiona a baixa representatividade dos negros em propagandas.“É fato: 50% dos donos de negócio no Brasil são afrodescendentes, mas, por que a maioria dos empreendedores representados pela publicidade são pessoas brancas?”, questiona a campanha. Com isso, o Ministério Público de São Paulo convocou publicitários e pessoas influentes da comunidade negra para discutir sobre a ausência de negros na publicidade. A explicação é simples: não se trata de querer impor cotas raciais, mas de promover a inclusão social de afrodescendentes também nesse segmento, pois, se somos mais que a metade da população, queremos REPRESENTATIVIDADE. Infelizmente, algumas marcas/empresas ainda não perceberam que negros escovam os dentes, usam perfume, sabonete... É lamentável... Aplausos para a L'Oréal, empresa multinacional francesa de cosméticos, que elegeu a modelo angolana Maria Borges como "a cara da marca", a empresa alemã Adidas, que convocou um seleto time de modelos negros para apresentar a nova coleção da marca e nós... Acorda, Brasil!
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