Lei Áurea de 13 de maio de 1888. Segundo o IBGE 54% da população brasileira é negra, mas, infelizmente, ainda é a "minoria" quando se trata de representatividade.
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Essa realidade impõe novos desafios para o negro brasileiro. "Precisamos alinhar o nosso discurso nos posicionando para que o mercado contrate profissionais pela importância e representatividade no segmento que trabalha e não simplesmente porque precisam cumprir uma 'cota'", frisa Helder Dias, empresário que, com muita persistência e coragem, criou a HDA Models, uma agência com cast formado 100% por modelos negros.
“Discutir a questão racial é importante", frisa a médica gaúcha Katleen Conceição. Na agenda da dermatologista (a única brasileira especializada em tratamentos para a pele negra no Brasil) constam nomes como Lázaro Ramos, Taís Araújo, Cris Vianna, Thiaguinho, entre outros.
A paixão pela medicina foi herdada do pai, que também é dermatologista. "Antes do reconhecimento profissional, fui discriminada em várias ocasiões e sofri com a falta de pacientes", recorda a profissional que fez cursos em Harvard/EUA e Europa. "Não é fácil ser uma negra bem- sucedida. Todos os dias é uma luta", ela lamenta.
Sandra Dias (CEO da LPM Global Relativos assessoria executiva especializada em Executive Coaching For C-Level) acredita que mesmo que já tenhamos profissionais negros ocupando cargos de destaque no Brasil e no mundo, essa proporção ainda é baixa, algo como dez por um.
"Herança de repressão e preconceitos ainda latentes nos dias de hoje em todas as camadas sociais", analisa a expert profissional. "Ainda vivemos um racismo 'velado' e o único caminho para que esse cenário seja revertido é a igualdade, algo que parece fugir da realidade da maioria dos negros brasileiros desde a abolição da escravatura".
A baiana Andréa Nascimento sabe bem do que a executiva está falando...
Ela está no ranking dos maiores nomes da gastronomia do Brasil, atuando há 22 anos na área de food service: é Chef Executiva do Grupo Solar, restaurantes que se destacam pela magnificência e requinte em pontos nobres de Salvador – administra três casas ao lado de sua companheira Maíra D´Oliveira. "Faço o que gosto. Quem come da minha comida, come do que trago de mais sincero em mim: a paixão pelas panelas e pelos ingredientes”, emociona-se.
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Com muita luta e resistência, o negro brasileiro está mais confiante na sua representatividade na construção de um Brasil melhor. Brincadeiras à parte... Joyce, Lúcia e Cristina, as irmãs Venancio, hoje empresárias de sucesso, na infância, não se reconheciam no brinquedo que povoa os sonhos da maioria das meninas: a boneca.
A educação que receberam da família fez com que elas não se sentissem excluídas, por isso estudaram e foram à luta. Surgiu, então, a marca ‘Preta Pretinha’. A loja, no bairro de Vila Madalena, em São Paulo, já virou referência quando se trata de bonecas negras.
Dentro da ótica da inclusão social, pouco representada nos brinquedos, as irmãs Venancio passaram a investir também na produção de bonecas orientais, portadoras de deficiência física e com Síndrome de Down. Hoje, a "brincadeira" virou uma luta pelo respeito, pela a inclusão e a diversidade.
"Brincadeira tem hora... Aprendi com meus pais, ainda na adolescência, que homem sem trabalho não vale nada", frisa o hoje respeitado empreendedor e empresário Carlos Santos, que deu início à sua brilhante carreira após o conselho que ouviu e agora passa para os filhos.
Focado no trabalho, Carlos atingiu os seus objetivos e estabilidade financeira. Trabalhou em treze metalúrgicas no Brasil e seis nos Estados Unidos. Atualmente, administra com maestria uma empresa de seguros, empreende no ramo da construção civil, no mercado financeiro, na indústria mecânica, no mercado alimentício e ainda está à frente do PTB Afro, núcleo político onde se inspira na trajetória de grandes líderes mundiais, na luta por igualdade de direitos e oportunidades.
Quem também não perdeu tempo foi a filantropa mineira de Belo Horizonte, Ester Sanches-Naek. Durante três anos ela trabalhou como empregada doméstica no exterior, hoje é a brasileira afro-descendente de maior expressão nos Estados Unidos. Sexta filha de uma família de sete irmãos, Ester teve uma infância humilde na periferia.
Aos 21 anos rumou para os Estados Unidos e venceu. "No início limpei casas até ser admitida na Universidade de Connecticut", revela, orgulhosa. Ester recebeu vários prêmios, entre eles o respeitado Press Awards. Recebeu medalhas de honra e foi a única brasileira convidada para a Posse do Presidente George Bush e uma das escolhidas para fazer parte do livro: Retratos do Brasil de Carlos Borges. “O sonho só é importante se você corre atrás para realizá-lo. Eu venci! Sou um exemplo da superação social e racial”, finaliza.
Disque 100 e denuncie!
O Disque 100 é um serviço de atendimento telefônico gratuito, que funciona 24 horas por dia, em todos os dias da semana. As denúncias recebidas na Ouvidoria dos Direitos Humanos e no Disque 100 são analisadas, tratadas e encaminhadas aos órgãos responsáveis.
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