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Divulgação/Conservation ONG
O Brasil é o mais sangrento do mundo, com 49 assassinatos de ativistas pelo meio ambiente, a maioria deles na Amazônia

O último ano foi o mais sangrento da história para as pessoas que defendem suas terras, recursos naturais ou a vida selvagem, segundo revela uma nova pesquisa global, que traz dados alarmantes sobre os crimes relacionados à proteção do meio ambiente. No mundo, pelo menos quatro ativistas morrem no período de apenas uma semana todas as semanas.

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Em 2016, foram 200 mortes de líderes indígenas e ativistas pelo meio ambiente , de acordo com o “Global Witness”, estudo divulgado com exclusividade pelo jornal britânico “The Guardian”. Com isso, os números revelam que os assassinatos são cinco vezes maiores do que há cinco anos. Além disso, a frequência das mortes parece ter aumentado ainda mais em 2017, com ao menos 98 assassinatos registrados nos primeiros cinco meses.

Para o enviado especial da ONU Meio Ambiente, John Knox, “os direitos humanos estão sendo abandonados enquanto há o desenvolvimento de uma cultura de impunidade”, pontua.

“Existem agora um excesso de incentivos para a destruição da natureza por razões econômicas. As pessoas mais em risco são aquelas que já estão marginalizadas e excluídas das políticas e leis, e que são dependentes da natureza. Os países não respeitam as leis. Em todo lugar do mundo, os defensores ambientais estão sendo ameaçados”, complementa Knox.

Ele também defende que existe um “senso de que qualquer um pode matar ambientalistas sem qualquer tipo de repercussão, eliminando qualquer um que possa estar em seu caminho”. Segundo Knox, isso é proveniente “da mineração, do agronegócio, da exploração madeireira ilegal e da construção de barragens”.

Entre as mortes deste ano, está a do líder indígena mexicano Isidro Baldenegro López, que fazia oposição à mineração, e foi morto em janeiro. Em maio, agricultores do estado do Maranhão atacaram um assentamento indígena em um conflito que levou diversas vítimas para o hospital. Também houve assassinatos de defensores ambientais na Colômbia, Honduras, México e muitos outros países desde o começo do ano.

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Reprodução/Goldman Environmental Prize
Entre as mortes deste ano, está a do líder indígena mexicano Isidro Baldenegro López, que fazia oposição à mineração

Ainda segundo a pesquisa, a maioria dos ativistas morrem em florestas remotas ou aldeias afetadas pela mineração , barragens, exploração madeireira ilegal e agronegócios. Muitos dos assassinos são contratados por corporações ou forças do Estado. E, como sabemos, pouquíssimos são presos ou identificados.

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O líder da campanha da “Global Witness”, Billy Kyte, afirma que os assassinatos que são listados podem ser apenas a “ponta do iceberg” de uma violência epidêmica. “As comunidades que se colocam contrárias à destruição ambiental estão na linha de fogo das companhias privadas, forças do Estado e assassinos contratados”, afirma. “Para cada defensor de terra e do ecossistema que é morto, muitos outros são ameaçados de morte, despejo ou destruição de suas comunidades”, completa.

Números crescentes

Em todo o mundo, o número e a intensidade dos crimes relacionados aos conflitos de meio ambiente está crescendo, dizem os pesquisadores. Um atlas criado por acadêmicos de 23 universidades identificou mais de dois mil conflitos no mundo, neste instante, que variam em relação à água, terra, poluição, despejos e mineração.

“Estes são apenas aqueles que foram reportados. Poderia ser um número três vezes maior. A violência é muito maior do que isso”, afirma o pesquisador de agronegócios Bobby Banerjee, que estudou resistência a projetos globais de desenvolvimento por 15 anos.

“Os conflitos acontecem de maneira internacional por causa da globalização. O capitalismo é violento e as corporações globais estão buscando por países pobres para acessar recursos naturais e terra. Essas nações subdesenvolvidas são mais corruptíveis e tem leis ambientais mais fracas. As companhias e os governos estão trabalhando juntos para matar pessoas”, defende.

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A pesquisa “2016 Global Witness” traz dados que revelam que as indústrias que estão no coração dos conflitos são aquelas de mineração e petróleo , ligadas a 33 assassinatos. A exploração madeireira está em segundo lugar em todo o mundo – com 23 mortes, número muito mais do que os 15, do ano anterior – seguido pela agricultura.

A organização já havia apontado que o ranking poderia mudar. E os primeiros cinco meses deste ano parecem confirmar tal mudança: isso porque, segundo a tendência mundial, pela primeira vez, o agronegócio está rivalizando com a mineração como setor mais mortal – com 22 mortes em todo o mundo até agora (apenas uma morte a menos do que o ano de 2016 inteiro).

Na Colômbia, a situação vai de mal a pior este ano, assim como o Brasil e as Filipinas, que matam indígenas de maneira sangrenta. Em termos de países do ranking, em 2016, o Brasil foi novamente o mais sangrento do mundo, em termos absolutos: com 49 assassinatos, a maioria deles na Floresta Amazônica. A produção de madeira implicou 16 dessas mortes, enquanto o desmatamento do País cresce em torno de 29%.

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Reprodução/Greenpeace
América Latina é a região mais perigosa para aqueles que desejam proteger rios, florestas, montanhas e oceanos

Vale destacar que a América Latina é a região mais perigosa para aqueles que desejam proteger rios, florestas, montanhas e oceanos, somando 60 das mortes dos ativistas, mesmo que abrigue menos do que um décimo da população mundial.

Com interesses econômicos em jogo, as forças de segurança do Estado estão por trás de pelo menos 43 assassinatos ocorridos no planeta – sendo 33 pela polícia e dez pelos militares –enquanto atores privados, como guardas de segurança e assassinos, são responsáveis por 52 mortes.

Os ativistas frequentemente reclamam que não recebem apoio algum dos governos ; e eles realmente estão envolvidos com a violência aplicada contra os ambientalistas e líderes indígenas de maneira corrupta.

Segundo um ativista contra a mineração ilegal no oeste da África, que não foi identificado por medo de represália. “Sou sujeito à pressão e a ameaças. Milhões de dólares vêm das florestas e as pessoas ainda não têm nada: sem escolas, sem centros de saúde. O dinheiro não está indo para o estado, mas para pessoas privadas. Nós estamos trabalhando sem nenhum recurso”, diz.

“Minha família tem sido ameaçada de morte. Nós recebemos ligações anônimas. Eu mantenho meu trabalho com a ajuda dos meus colegas. Nós damos informações à ONU, e pedimos ajuda. Não vamos a lugar algum. Poderíamos ser mortos a qualquer momento”, conta.

Os defensores da vida selvagem também estão sendo alvejados de maneira crescente. Mais de 800 guardas-florestais de parques foram mortos por caçadores e grupos de milícias armadas nos últimos 10 anos, de acordo com o grupo norte-americano “Global Conservation”.

Guardas-florestais enfrentam altos níveis de violência e estão sendo mortos em números alarmantes”, afirma o presidente da Federação Internacional de Guardas-Florestais, Sean Willmore. “Quase 60% daqueles assassinados em 2016 estavam na Ásia, com a grande maioria sendo da Índia”, aponta.

A escritora britânica Olesia Plokhii, que testemunhou, em 2012, o assassinado do ativista do Camboja Chut Wutty, que lutava contra a mineração ilegal, escreveu: “Wutty abriu sua própria organização ambiental, tinha financiamento de ocidentais, o apoio de militares de alta patente do Camboja, centenas de apoiadores locais – que davam suporte instrumental e moral ao seu trabalho -, tinha centenas de celulares e aparelhos de GPS. Ele, ainda assim, foi morto. Ativistas menos organizados e preparados, pessoas que estão sendo forçadas a defenderem suas terras enfrentam a mesma violência”.

O relatório da “Global Witness” também pontua que os protestos pelo meio ambiente estão sendo ameaçados por todos os lados – mesmo nos países mais ricos –, citando o caso da campanha “Standing Rock” contra a construção de um oleoduto no lago Oahe, nos Estados Unidos.

O co-fundador da N1M, Fran Lambrick, disse ao “The Guardian”, que “os defensores ambientais são críticos na luta contra as mudanças climáticas, protegendo nossos recursos naturais e defendendo os direitos humanos e a identidade cultural. No entanto, eles enfrentam represálias violentas, ameaças e criminalização”.

“Somos defensores da vida”, disse a ativista Laura Cáceres, cujo pai, indígena de Honduras, foi assassinado em 2016. “Estamos dispostos a fazer qualquer coisa para permitir que a vida continue. Não queremos perder nossas vidas e perder nossas famílias. Mas, assumimos esse risco”, finaliza.

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