
Você sabia que um impacto colossal pode ter transformado Titã, a maior lua de Saturno, em um verdadeiro laboratório natural para o surgimento de vida?
Pois é! Essa é a hipótese de um estudo liderado pelo geólogo Álvaro Penteado Crósta, professor sênior do Instituto de Geociências da Unicamp, publicado na revista Icarus , uma das mais respeitadas na área de ciência planetária.
O trabalho analisa a formação da cratera Menrva, uma estrutura gigantesca, com 425 quilômetros de diâmetro. Ela teria surgido entre 500 milhões e 1 bilhão de anos atrás, quando um corpo celeste de cerca de 34 quilômetros atingiu a superfície de Titã. O impacto pode ter sido forte o bastante para romper uma camada de gelo com até 100 quilômetros de espessura, misturando materiais da superfície com o oceano subterrâneo da lua.
Um oceano escondido sob o gelo
Essa troca entre camadas pode ter provocado reações químicas capazes de formar moléculas orgânicas, aquelas que são a base da vida. E o mais curioso é que Titã é, entre todos os "mundos" do Sistema Solar, o mais parecido com a Terra. Tem atmosfera densa, rios e lagos (de metano, no caso), dunas, ventos e até erosão. Tudo isso em um ambiente de - 180 °C.

O impacto foi tão intenso que o gelo derreteu parcialmente e começou a oscilar, como se fossem ondas circulares, igual o fenômeno que acontece quando jogamos uma pedra na água. As simulações mostram que esse movimento pode ter durado cerca de duas horas e meia, tempo suficiente para que o calor, o gelo e os compostos orgânicos se misturassem e criassem um ambiente fértil, quimicamente falando.
Lua promissora
O interesse por Titã deve aumentar nos próximos anos. A missão Dragonfly, da NASA, prevista para ser lançada em 2028, pretende enviar um drone à superfície da lua para investigar sinais de água e compostos orgânicos, exatamente os elementos que o estudo da equipe de Crósta indica como possíveis marcadores de vida.

Com uma trajetória consolidada na Geologia Planetária e passagens por instituições como o Jet Propulsion Laboratory (NASA) e o Imperial College de Londres, Álvaro Crósta é um dos principais nomes do país na área. Suas pesquisas buscam entender como os impactos cósmicos moldam os corpos celestes e como, em alguns casos, esses eventos extremos podem criar as condições que tornam a vida possível.
Onde assistir?
É sobre essas descobertas e os novos rumos da exploração de Titã que o professor Álvaro Crósta conversa no i G foi pro Espaço desta quarta-feira, às 18h, no YouTube do iG .