Dois novos estudos, liderados por Anna Fedorova, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Espacial da Academia Russa de Ciências e Jean-Yves Chaufray, cientista do Laboratoire Atmospheres Observations Spatiales na França, mostram que Marte está “vazando”. O planeta perde água para o espaço a uma taxa que varia de acordo com as estações do ano, sua distância em relação ao Sol e fenômenos atmosféricos locais, como tempestades de areia.
As equipes usaram em suas pesquisas dados do instrumento SPICAM, a bordo do satélite ExoMars , bem como do satélite Mars Express, ambos operados pela agência espacial europeia ( ESA ).
“Estudamos o vapor d’água na atmosfera desde o solo até 100 quilômetros de altitude, uma região que ainda não havia sido explorada, ao longo de oito anos marcianos”, disse Fedorova. Um ano em Marte equivale a aproximadamente dois anos terrestres.
Os pesquisadores descobriram que quando o planeta está mais distante do Sol, a cerca de 400 milhões de km, só há vapor d’água na atmosfera a menos de 60 km da superfície. No entanto, quando o planeta está mais próximo do Sol, a cerca de 333 milhões de quilômetros, o vapor d’água pode ser encontrado a até 90 km acima da superfície.
Quando Marte e o Sol estão mais distantes, o frio faz com que o vapor d’água em uma determinada altitude na atmosfera de Marte congele. O vapor pode viajar mais longe na atmosfera de Marte durante as estações mais quentes, que também são as ocasiões em que o planeta perde mais água.
“A alta atmosfera fica umedecida e saturada de água, explicando porque as taxas de escape aumentam durante esta temporada – a água é transportada para mais alto, ajudando sua fuga para o espaço”, acrescentou Fedorova.
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Outro fator que auxilia na perda de água são as tempestades de areia, que em Marte podem assumir grandes proporções. Elas são conhecidas por aquecer e perturbar a atmosfera marciana, e em anos com tempestades globais os pesquisadores encontraram água a uma altitude de até 80 km acima de superfície.
“Graças ao monitoramento contínuo da Mars Express , fomos capazes de analisar as duas últimas tempestades de areia globais, em 2007 e 2018, e comparar o que descobrimos em anos sem tempestades para identificar como elas afetaram a perda de água de Marte”, disse Fedorova.
Os cientistas calculam que a cada bilhão de anos Marte perde água o bastante para cobrir a superfície do planeta com uma camada de 2 metros de profundidade. Ainda assim, esta fuga não explica a quantidade de água perdida nos últimos 4 bilhões de anos.
“Uma quantidade significativa deve ter existido no planeta para explicar as características da paisagem criadas pela água que vemos atualmente”, disse Chaufray. “Como nem tudo foi perdido para o espaço, nossos resultados sugerem que ou essa água se moveu para o subsolo ou que as taxas de perda de água eram muito mais altas no passado”.