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O CERN, laboratório europeu com o maior acelerador de partículas do mundo, assina hoje acordo de cooperação para ter acesso ao Sirius, o maior acelerador de partículas do Brasil . A instalação brasileira deverá ser empregada para pesquisar componentes do próximo projeto dos europeus, que vai suceder o LHC (Large Hadron Collider), o maior projeto de física experimental da história.
A parceria foi anunciada nesta sexta-feira (4) em comunicado do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais ( CNPEM ), de Campinas, instituição federal que abriga o Sirius e outros laboratórios com equipamentos de ponta para ciências de materiais, como supermicroscópios.
Segundo o informe conjunto das duas instituições, um dos principais focos da colaboração deve ser a pesquisa de ímãs supercondutores, que são um dos componentes de aceleradores de partículas.
O interess pela parceria nasceu do fato de os aceleradores de partículas do CERN e do CNPEM terem finalidades distintas. Enquanto o CERN realiza colisões entre partículas para investigar a fronteira da física e entender de que o Universo é feito, o CNPEM gera feixes de luz que são usados em ciência aplicada, para estudar propriedades de materiais.
"O CNPEM e o Brasil têm muitas competências e talentos comprovados nesta área e estou convencido de que isso trará muitos benefícios mútuos, além de motivar também os parceiros industriais”, afirmou Frédérick Bordry, Diretor de Aceleradores e Tecnologia do CERN, no comunicado.
Com a parceria, o CNPEM deve participar dos estudos de viabilidade do projeto FCC (Future Circular Collider), um acelerador de partículas ainda maior que o LHC. Se ao LHC, que tem uma circunferência de 26 km, já se costuma aplicar o adjetivo de "gigante", o FCC, com circunferência de 100 km, estaria na escala do "monstruoso".
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Essas máquinas, que o CERN constrói em túneis escavados perto de Genebra, na fronteira da Suíça com a França, têm como finalidade conduzir partículas em trajetórias circulares a velocidades próximas à da luz para depois fazê-las colidir e estudar os "estilhaços" das colisões.
Matéria escura
O LHC ganhou fama pela descoberta do bóson de Higgs , uma das partículas elementares da matéria, que deu ao teórico Peter Higgs, postulador da ideia, o prêmio Nobel de Física de 2013.
“Celebrar este acordo é uma grande satisfação, pois demonstra o potencial do Sirius como um projeto estruturante para o País", afirma Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM .
O Sirius , uma das instalações científicas brasileiras mais caras da história, foi construído com um orçamento de R$ 1,8 bilhão, e é da classe criada para geração da chamada "luz síncrotron". Essencialmente, a máquina cria focos de radiação extremamente intensos e concentrados, que servem para estudar propriedades estruturais e químicas da matéria em escala microscópica.
É relativamente pequeno em comparação com o LHC, que consumiu US$ 4,75 bilhões, e uma pequena fração do custo estimado do FCC, que ainda está em estágios iniciais de projeto, e provavelmente custará mais de US$ 10 bilhões, se for aprovado. Essa escala de orçamento provavelmente obrigará o CERN a ampliar seu leque de parceiros.
Uma das motivações para a construção do FCC é a possibilidade de se usá-lo para estudo da chamada "matéria escura", uma entidade que compõe a maior parte da massa presente no Universo, mas cuja natureza não é conhecida ainda. As colisões de partículas promovidas pelo LHC não tinham energia suficiente para responder algumas questões relacionadas a à matéria escura.