Sem que possamos nos dar conta disso, a Terra sofre continuamente o bombardeio de uma invisível e misteriosa luz. A galeria dos sinais de rádio e micro-ondas emitidos por buracos negros, estrelas longínquas e outras estruturas espalhadas pelo universo inclui um item que segue intrigando os estudiosos responsáveis por analisá-lo: as rajadas rápidas de rádio (FRBs, na sigla em inglês).
Leia também: Ovelhas usando fraldas e microfones chamam a atenção em serra de Santa Catarina
Com duração de alguns milésimos de segundo, esses sinais de rádio ultrafortes e ultrabrilhantes provêm de algum ponto a bilhões de anos-luz de distância da Terra. Mas, como sua origem ainda não foi detectada, a especulação a esse respeito corre solta. Alguns cientistas nem excluem a possibilidade de que tais luzes sejam realizadas por inteligências extraterrestres.
A diversidade de teorias sobre o fenômeno é alimentada pela escassez de dados disponíveis. As FRBs são uma descoberta relativamente nova, de 2007, e até hoje apenas cerca de 60 foram registradas. Mas o número de observações tem crescido em proporções inesperadas.
Dois artigos publicados em janeiro na revista Nature relatam que a equipe liderada pelo astrônomo Kiyoshi Masui, que atua no novo radiotelescópio Chime, na Colúmbia Britânica (oeste do Canadá), detectou 13 FRBs em apenas dois meses. Alguns detalhes dessas observações chamam a atenção – por exemplo, sete explosões registradas a 400 megahertz (a menor frequência de FRB detectada até agora) e, pela segunda vez, uma FRB que piscou seis vezes seguidas.
“Até agora, havia apenas uma FRB repetida conhecida”, declarou Ingrid Stairs, astrofísica da Universidade da Colúmbia Britânica e integrante da equipe Chime, em um comunicado à imprensa. “Com mais repetidores e mais fontes disponíveis para estudo, poderemos entender esses quebra-cabeças cósmicos – de onde essas emissões vêm e o que as causa.”
As explicações oficiais sobre o fenômeno incluem radiação expelida por buracos negros supermassivos ou restos de supernovas distantes. Mas Avi Loeb, cientista do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian , que não participou da descoberta, considera que não devem ser descartadas “origens artificiais”.
Leia também: Pesquisadora admite "falha" em currículo, mas não se desculpa com jornal
Em 2017, ele e seu colega de Harvard Manasvi Lingam já haviam proposto que as FRBs poderiam ser vazamentos de transmissores alienígenas do tamanho de um planeta. Em vez de projetados para comunicação, esses transmissores provavelmente seriam usados para impulsionar naves enormes alimentadas por velas leves que refletem a luz, ou, nesse caso, raios de rádio emitidos por uma imensa placa reflexiva para fornecer impulso.
Frequência maior
Os sinais mais recentes citados nos estudos de janeiro já estão ajudando os acadêmicos a se aproximar da resposta para o enigma. As repetições de FRBs observadas pelos autores, por exemplo, surgiram do mesmo ponto no céu (a cerca de 1,5 bilhão de anos-luz de distância) seis vezes ao longo de vários meses. Os cientistas consideram que esse tipo de repetição exclui “eventos cataclísmicos”, como as supernovas, da lista de possíveis fontes de emissões, já que a explosão de uma estrela acontece apenas uma vez.
Além disso, as descobertas da equipe Chime sugerem que as FRBs são provavelmente bem mais comuns do que a tecnologia atual é capaz de captar. O fato de que sete das novas rajadas foram registradas em 400 MHz (a menor frequência que o Chime consegue detectar) indica que FRBs com frequências ainda mais baixas provavelmente passam o tempo todo pela Terra, sem que nossos aparelhos consigam “vê-las”.
Seth Shostak, astrônomo sênior do Instituto Seti (projeto civil americano cujo objetivo é a constante busca por vida inteligente no espaço), também ressalta esse aspecto do fenômeno. “Quando, há alguns anos, apenas um punhado de FRBs era conhecido, não estava claro se elas eram raras ou não. Agora que mais de 60 foram detectadas, os pesquisadores podem dizer com segurança que provavelmente milhares dessas coisas acontecem todos os dias. Eles são tão onipresentes quanto o encanamento interno”, observa.
Leia também: Lua vem encolhendo e sofrendo muitos terremotos, revelam dados da Nasa
Shostak não tem ilusões quanto à origem desses sinais. “Se a experiência do passado continuar a ser prólogo, o número de FRBs conhecidas aumentará rapidamente agora”, prevê. “O Chime vai encontrar muitas delas, e a comunidade astronômica está definitivamente feliz. Como resultado, acho que você pode contar com algum teórico inteligente que tenha uma explicação para essas luzes e fenômenos bizarros dentro de um ano ou dois. Mas duvido que sejam alienígenas.”