O estado de São Paulo registrou, em julho, o menor número de focos de queimadas para o mês desde 2015, segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe ). Foram 219 pontos de incêndio de 1º até 28 de julho deste ano contra os 139 registrados há dez anos (veja gráfico abaixo).
Este mês foi o segundo consecutivo em que houve um recorde histórico positivo: em junho, foram contabilizados 55 focos de queimadas, o menor número desde 2012. No ano passado, a quantidade havia sido quase dez vezes maior: 532 .
O tenente Maxwel Souza, da Defesa Civil de São Paulo, explica ao iG que a queda, particularmente no mês de junho, se deve às novas tecnologias e ao monitoramento em tempo real dos focos de incêndio.
Este ano é o primeiro em que o estado conta com a Sala SP Sem Fogo, montada no Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), no Palácio dos Bandeirantes . Lá, especialistas monitoram dados, que vêm de satélites e radares, mostrando pontos de calor em um mapa do estado. A partir dessas informações, decidem como agir.
“ Quando uma dessas ferramentas tecnológicas aponta um foco de incêndio num local, eles [os especialistas] cruzam várias informações para identificar se esse foco é real ou é um falso positivo do sistema. Sendo ativo, já se inicia o combate imediato ”, disse o tenente.
Também é possível fazer uma previsão de como estarão as condições meteorológicas no dia seguinte no local. A partir dessa análise, é possível saber se, por exemplo, haverá aumento na temperatura, baixa umidade do ar ou velocidade do vento com intensidade média ou alta – condições que favorecem o fogo e o espalhamento dos incêndios.
Uma outra novidade deste ano é o uso de retardante para as chamas, explica o tenente Maxwel.
“ É um produto capaz de potencializar a água em até cinco vezes. Isso gera uma economia de até 60% em termos de recursos para combate. A gente diminui em até cinco vezes o tempo para apagar um foco de incêndio – se eu demoraria cinco horas para combater um incêndio, eu consigo fazer isso em uma hora ”.
Inverno: risco aumentado
A estação seca em São Paulo vai até outubro – época que exige atenção redobrada no combate aos incêndios. O interior do estado está em nível de alerta para risco de queimadas até, pelo menos, o próximo domingo (2).
O mapa de riscos de incêndio, também elaborado pela Defesa Civil, ajuda a elaborar ações de prevenção, agindo de forma anterior aos satélites.
“ Quando está na cor de alerta, aquele local está mais suscetível a ter incêndio. Esses indicadores demandam ações por parte do município e do estado, como, por exemplo, as vistorias que são feitas usando drones, aviões, e, também, as viaturas ”, explica o tenente Maxwel Souza.
“ As equipes vão nessas áreas de vegetação e vistoriam a área, porque às vezes o foco de incêndio começa por baixo da copa da árvore. Não dá para ver, o satélite não consegue enxergar ”.
Usando inteligência artificial, a ferramenta faz um cruzamento de indicadores como velocidade do vento, temperatura, umidade relativa do ar, quantidade de chuva que ocorreu e previsão de chuva futura. A partir daí, determina o nível de risco.
Tanto os satélites quanto o mapa de riscos constituem a chamada fase vermelha de enfrentamento ao fogo, que é quando o risco de incêndios atinge o máximo.
E o nível de alerta deve continuar a médio prazo: historicamente, segundo os dados do Inpe, os meses de agosto e setembro são os que tiveram os recordes mais altos em focos de incêndio. No ano passado, foram 3.612 pontos em agosto e 2.522 em setembro.
Treinamentos e conscientização
Mas o enfrentamento ao fogo vai além do monitoramento feito da sala no CGE. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil também fazem treinamentos presenciais em todo o estado para que, quando surjam, os focos de incêndio sejam apagados o mais rápido possível.
Neste ano, três mil pessoas, das defesas civis e brigadas municipais de 600 cidades de São Paulo receberam os treinamentos entre abril e maio. Essa etapa é chamada de “fase amarela” de prevenção de incêndios. Entre as ações desse tipo de capacitação está a construção de aceiros – espécie de vala construída entre as vegetações para evitar a propagação das chamas.
“ O trator passa e abre uma clareira, evitando que a mata chegue na outra mata – porque o fogo passa por contato, por calor ”, explica o tenente Maxwel.
Isso permite, por exemplo, que um incêndio iniciado em um canavial não atinja uma vegetação em área de proteção, onde as perdas ambientais seriam maiores.
A capacitação dos municípios inclui, também, a distribuição de material para combate às chamas.
“Todos os municípios do estado terão ao menos uma viatura de defesa civil com um kit de combate a incêndio. É um implemento que vai instalado na carroceria da caminhonete, que é utilizado para combate de focos iniciais de incêndio”, explica o tenente Maxwel.
As viaturas são carros do tipo picape ou caminhonete que, por serem menores que o caminhão do corpo de bombeiros, conseguem acessar áreas remotas dos municípios, chegando mais rápido.
“ Todo grande foco [de incêndio] começa pequeno. Muitos deles são combatidos pela defesa civil municipal [e não pelos bombeiros]”, esclarece.
Outra estratégia de prevenção de desastres são as ações de conscientização e educação, que incluem idas a escolas.
“ Nós trabalhamos com crianças do quinto ano da rede pública de ensino explicando como elas devem agir diante dos riscos. A gente treina os professores, que multiplicam o conhecimento em sala de aula, de forma transversal, no currículo, e, ao final de 3 meses de aulas com os alunos, é desenvolvida uma gincana ”, explica Maxwel.
O tenente esclarece que o contato direto com as população é importante porque, a cada 10 incêndios registrados no estado, 9 são causados por ação humana – ainda que nem sempre de forma criminosa, como no caso da soltura de balões.
“ Essa é intencional, tem dolo – a pessoa vai lá e faz porque quer. Tem a não intencional: seu Antônio, um senhorzinho que costumeiramente queima o lixo da casa dele. É uma prática já familiar que ele aprendeu com o avô, o pai, só que ele não tem noção que isso é crime, que isso pode gerar um grande incêndio ”, esclarece.