O ano de 2024 deve reservar uma das disputas mais acirradas pelo comando da maior cidade da América Latina. Ao menos seis candidatos buscam o controle do orçamento R$ 111 bilhões, um dos maiores do país.
De um lado, Ricardo Nunes, atual prefeito, que tenta se consolidar no alto escalão da política compondo a cabeça de chapa para o Executivo pela primeira vez. Do outro, Guilherme Boulos, deputado federal, que tenta repetir o sucesso na campanha de 2020 — quando chegou ao segundo turno.
Ambos devem alavancar a polarização existente no Brasil desde 2013, repetindo o que ocorreu na disputa pela presidência em 2022, com Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encabeçando as campanhas.
Representante de uma 'terceira via' na capital paulista, Tabata Amaral (PSB) também figura entre os favoritos na disputa. Essa será a primeira vez em que a parlamentar vai concorrer ao comando de São Paulo e que também tenta se colocar no alto escalão política paulista.
O pleito deve contar ainda com Kim Kataguiri (União Brasil), embora sua candidatura ainda enfrente resistência em sua legenga, o União Brasil. Outra que tem seu nome confirmado é Marina Helena (Novo), novata no meio político, mas que busca fortalecer o campo da direita.
A dúvida principal está sobre Ricardo Salles, fiel escudeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro, que protagonizou brigas internas no PL pela candidatura. Fontes dão como certo o apoio de Bolsonaro a Nunes, o que incomodou Salles, principalmente após as sinalizações do ex-presidente à sua candidatura.
Fiel da balança
Os candidatos paulistanos devem apostar em fortes nomes para conseguir alavancar as campanhas, que tende a ser uma das mais equilibradas da história. Fora isso, os nomes devem investir pesado em publicidade e em ataques contra os adversários.
Ricardo Nunes tem Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como trunfos na disputa de 2024. Mesmo se colocando como um candidato de Centro, Nunes aposta na dupla para como "trunfo" para derrotar Guilherme Boulos, candidato que lidera as pesquisas de opinião.
O emedebista deve aproveitar a polarização e tentar enfraquecer a imagem do deputado. De quebra, Nunes quer potencializar sua imagem junto aos eleitores, já que até pouco tempo atrás era um “prefeito desconhecido”, como classificam alguns interlocutores.
Entretanto, o prefeito paulistano deverá encarar outro percalço: a insatisfação de Bolsonaro. Embora tenha confirmado o apoio à Ricardo Nunes, o ex-presidente ficou incomodado com o distanciamento do atual chefe da capital ao seu nome. Nas últimas semanas, Jair Bolsonaro sinalizou apoio a Salles, mas recuou após pesquisas eleitorais mostrarem avanço da esquerda em São Paulo.
Já Guilherme Boulos entrou na disputa após um acordo entre ele e Lula. Na avaliação de aliados, o primeiro ano de Lula em frente ao Planalto somado à atuação de Haddad na fazenda podem fortalecer o psolista.
Boulos, entretanto, terá que encarar a resistência de algumas alas do PT sobre a sua candidatura. Entre os nomes resistentes está o clã Tatto, que defendia uma candidatura própria do partido.
O candidato também deve apostar nos ataques a Nunes e ressaltar o desconhecimento da população sobre o trabalho do emedebista à frente da prefeitura. O parlamentar também deve investir nas dificuldades das comunidades para tentar enfraquecer o prefeito paulistano.
Tabata Amaral contará com apoio do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e do ministro da Micro e Pequena Empresa, Márcio França, para conseguir alçar o segundo turno. Ela vê os dois nomes muito fortes na capital e acredita que o palanque poderá angariar votos para “dar trabalho” aos demais candidatos.
Outro trunfo de Tabata está no vice de sua chapa. Embora não tenha confirmado o nome, o apresentador José Luiz Datena é o mais cotado para o posto. Datena se filiou na última semana ao PSB e prepara sua sexta candidatura política.
Ao contrário dos outros candidatos, Tabata Amaral deverá focar mais nos nomes e investir em propostas educacionais, principal bandeira política da parlamentar.
Pré-candidato pelo União Brasil, Kim Kataguiri não deve ter palanque fortalecido na cidade de São Paulo. Seus principais apoiadores estão na executiva nacional da legenda, enquanto a local quer apostar em Nunes para a prefeitura.
Caso se consolide entre os candidatos, Kim deve apostar nos casos de violência na capital paulista em sua campanha. O deputado pretende atacar as medidas impostas por Nunes e apresentar tentativas de soluções para a Cracolândia. Outra aposta é no Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que comanda desde 2013.
Marina Helena pretende investir em pautas ligadas a privatizações de empresas municipais, além de outras ligadas a infraestrutura. Já Ricardo Salles aposta em seu nome ligado ao governo Bolsonaro para convencer a direita de que poderá comandar a maior cidade do país pelos próximos quatro anos.
Conheça cada um dos candidatos
Ricardo Nunes
Empresário, Ricardo Nunes é filiado ao MDB e tem a região Sul da capital paulista como seu principal polo eleitoral. Líder comunitário, Nunes montou uma empresa de controle de pragas que atende diversos portos do país.
Entrou para a política em 2012 quando venceu a disputa para vereador em São Paulo. Foi reeleito em 2016, mas deixou a vereança ao ser eleito vice-prefeito na chapa de Bruno Covas (PSDB).
À época, o nome de Nunes não estava cotado para a campanha tucana, mas um acordo com o MDB obrigou a inclusão do então vereador na chapa. Ricardo Nunes, então, desbancou nomes como José Luiz Datena, Marta Suplicy e até o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite.
Após o afastamento e morte do tucano, Nunes passou a comandar a capital paulista e teve uma gestão voltada à infraestrutura. Com o fim do mandato, o emedebista tenta emplacar obras de recapeamento nas principais ruas e avenidas de São Paulo e deve ser sua principal bandeira no período eleitoral.
Guilherme Boulos
Filho de médicos e professores da USP, Guilherme Boulos é professor, filosofo e um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Foi um dos líderes dos protestos contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e um forte crítico do governo de Michel Temer.
Se candidatou à presidência da República em 2018, sendo o mais jovem a concorrer ao cargo na história do país. Obteve pouco mais de 600 mil votos e ficou na 10ª colocação.
Em 2020, se candidatou pela primeira vez à Prefeitura de São Paulo, ocasião em que encarou a chapa Covas-Nunes. Surpreendeu ao chegar ao segundo turno e obter mais de 2 milhões de votos.
Dois anos mais tarde, abdicou da campanha pelo governo do estado em prol de Fernando Haddad e se candidatou pela primeira vez a um cargo no Legislativo. Foi o deputado federal mais votado do país com pouco mais de 1 milhão de votos.
Tabata Amaral
Cria da Vila Missionária, zona Sul de SP, Tabata Amaral é formada em Astrofísica e Ciência Política pela Universidade de Havard, nos Estados Unidos. Estou parte da vida em escola pública, até conseguir uma bolsa em um instituto particular e receber propostas de outras universidades americanas, como Yale, Columbia e a Caltech.
Trabalhou nas secretarias da Educação das cidades de Sobral (CE) e Salvador (BA), antes de se candidatar pela primeira vez ao cargo de deputada federal em 2018, sendo eleita pelo PDT. Entrou em conflito com o partido após votar favorável à Reforma da Previdência do ex-presidente Jair Bolsonaro e decidiu se filiar ao PSB.
Em 2022, foi reeleita deputada federal, mas pretende disputar a prefeitura de São Paulo pela primeira vez. O vice de sua chapa tende a ser o apresentador José Luiz Datena.
Kim Kataguiri
Kim Kataguiri é um estudante de Direito, político e um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), que eclodiu em 2014. Foi um dos maiores defensores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e fez oposição aos governos Jair Bolsonaro e Lula.
Filiado ao União Brasil, Kataguiri foi eleito deputado pela primeira vez em 2018, sendo reeleito em 2022.
Marina Helena
Economista, Marina Helena é filiada ao Partido Novo e trabalhou por 20 anos em políticas públicos para o setor privado. Se candidatou pela primeira vez em 2022, sendo alçada como suplente de deputado federal.
Antes, foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia durante o governo Jair Bolsonaro. Ela também foi a responsável pelo programa de governo do candidato Felipe D’Ávila nas eleições do último ano.
Será a primeira vez que ela se candidata à prefeitura de São Paulo
Ricardo Salles
Ricardo Salles é advogado formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e foi secretário do Meio Ambiente na gestão Geraldo Alckmin no estado de São Paulo. Um dos fiéis escudeiros de Jair Bolsonaro, foi ministro do Meio Ambiente, onde colecionou uma série de polêmicas.
Além do aumento no índice de desmatamento, Salles criou alvoroço ao pedir para que o Congresso “passasse a boiada” em projetos que desburocratizem regras ambientais. A fala foi corroborada pela importância dada à pandemia de Covid-19 na época e que declarou que o tema não teria tanto desgaste ao governo Bolsonaro.
Deixou a pasta em 2021, após uma série de investigações da Polícia Federal por suspeita de contrabando ilegal e por atrapalhar investigações sobre apreensão de madeira.
Em 2022, foi candidato à deputado federal, sendo eleito pelo PL com o apoio de Bolsonaro. Entretanto, entrou em disputa com a legenda para se candidatar à prefeitura da capital paulista após o partido declarar apoio à Ricardo Nunes.