A dez dias do primeiro turno das eleições, o candidato à reeleição no Rio e líder nas pesquisas de intenção de voto, Cláudio Castro (PL),
foi o alvo preferencial dos ataques no início do debate desta quinta-feira dos jornais O GLOBO, Extra e Valor Econômico e da rádio CBN.
Já no primeiro bloco, seus principais adversários, Marcelo Freixo (PSB) e Rodrigo Neves (PDT) repetiram uma "dobradinha" de outros encontros para mirar no atual governador, trazendo ao encontro as denúncias da folha secreta do Ceperj, com pagamentos a terceirados, em grande parte, com dinheiro da concessão da Cedae.
Nas perguntas e respostas entre Neves e Freixo, o pessebista falou em "corrente do mal" no estado e lembrou histórico de governadores presos no estado. Castro rebateu depois, ao afirmar que sua gestão procurou o Ministério Público para resolver os problemas identificados. E aproveitou para também alfinetar Freixo sobre a política de drogas.
Freixo, por sua vez, pontuou aumento do orçamento direcionado para o Ceperj ao longo do governo Castro:
"No início do governo Witzel/Cláudio Castro, o orçamento do Ceperj era de R$ 16 milhões. No ano seguinte, foi para R$ 26 milhões. E aí o Witzel caiu pelos escândalos de roubalheira na Saúde e assume o Cláudio Castro. E no ano seguinte, que é esse ano, vai para R$ 400 milhões. Quem colocou o dinheiro no Ceperj foi governo atual. Sai de R$ 16 milhões para R$ 400 milhões e cria o que estamos chamando de bolsa bandido", afirmou Freixo, lembrando 250 presidiários que estavam recebendo pelo Ceperj.
Em sua réplica, Neves continuou com o tom elevado contra Castro. O candidato aproveitou para apresentar propostas de combate à corrupção:
"Realmente, é inaceitável esse tipo de situação no Estado do Rio, sobretudo durante a maior crise do estado", disse Neves.
"É por isso que minha proposta é iniciar um forte programa de integridade e compliance, e uma Controladoria Geral do Estado forte e independente".
Após o ataque, Castro pediu direito de resposta, que não foi concedido. No segundo bloco, no entanto, ele voltou ao assunto do Ceperj e defendeu que seus adversários que estavam levando vantagens eleitoral com o caso.
"A questão do Ceperj foi transformada em crise, o que é um problema administrativo, e meus adversários usam nas campanhas. Houve problema e resolvemos. Procurei o MP (Ministério Público), propus TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). É criminoso dizer que 27 mil trabalhadores que trabalhavam nas comunidades estavam envolvidos", afirmou Castro.
Outro ponto sensível para o candidato foi a da segurança pública. A colunista Berenice Seara, do Extra, perguntou ao governador sobre as operações policiais com 70 mortes na capital e se a linha dura é uma marca do seu governo. Castro respondeu que a polícia faz seu papel e não celebra a morte de ninguém.
"Temos o André (polícial) que foi alvejado com tiro na cabeça, os criminosos repeliram a polícia com poder bélico incrível. Essas armas e drogas, que até outro dia um candidato defendia, não vem do Rio. Meu governo está fazendo o trabalho de base", disse Castro, ao falar de operação realizada no ano passado, no Jacarezinho, com 27 mortes.
Berenice, então, abordou a prisão do ex-secretário de Polícia Civil do governo Castro, Alan Turnowski, que usa o número de mortos na operação do Jacarezinho para seu número na urna.
"O que a pessoa faz depois que sai do go"verno, o número que escolhe, tem que perguntar pra ele", respondeu.
"Os números de segurança pública são claros, o governo faz o trabalho de base que todo mundo fala: uma polícia valorizada, equipada. O Cidade Integrada é um programa incrível. Eu respondo pelo Cláudio Castro, esse não celebra a morte de ninguém".
Campanha nacionalizada
Já as alianças nacionais para a eleição entraram em cena no segundo bloco, quando o jornalista Francisco Goes, do Valor, perguntou a Freixo sobre sua tentativa de colar sua imagem ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Goes também questionou sobre a confirmação do evento de Lula esta semana com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, na quadra da Portela, em Madureira, em contraste com o comício cancelado do petista com Freixo na Lapa, que se previa reunir cerca de 30 mil pessoas. Freixo atribuiu a problemas de Lula com a voz para que o evento fosse retirado da agenda.
"Tenho orgulho de caminhar com o Lula. Todas as pesquisas mostram que nossa campanha cresceu Lula estará no domingo com Eduardo Paes, e isso é muito importante, ter mais gente com ele. O Lula ganhar no primeiro turno vai nos ajudar muito no segundo turno. Não podemos conviver com presidente que ameaça jornalista" continuou, referindo ao candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).
Em resposta ao colunista Lauro Jardim, Freixo ainda fugiu de dizer em que vota para o Senado, na disputa entre André Ceciliano (PT) e Alessandro Molon (PSB), que causou divergências. Em cima do muro, Freixo diz que "melhoraria muito a qualidade" se for eleito o candidato do PT ou do PSB.
"O voto é secreto (risos). Por mim, teríamos construído uma candidatura única.Temos os dois melhores candidatos ao senado. Não pudemos fazer uma só candidatura com mais chances de vitória. Não posso te responder, vou esperar a reta final e escolher quem tiver mais chance de vencer. A lei permite isso, ter dois. Em termos de estratégia, seria melhor ter um só", disse.
Sobre a corrida presidencial, Ganime afirmou que "com certeza não quer Lula presidente". Ele atacou Freixo e Neves, "os dois candidatos de esquerda", que defendem a candidatura do petista. Em seguida, também centrou fogo contra Castro, associando-o ao ex-governador Sérgio Cabral.
"Repudio a volta do Lula, e repudio também a volta do Cabral, que é o que temos aqui representado pelo governador Claudio Castro", afirmou.
"Temos aqui duas opções, opções unidas pela esquerda, e também a opção que representa Cabral. Cabe à população entender o que é que eu represento".
Antes, Cláudio Castro havia reconhecido problemas nos transportes públicos do estado. O debate foi aberto com Paulo Ganime (Novo) questionando Castro sobre o tema, ao afirmar que os diferentes modais no Rio funcionam de forma "capenga". Castro, então, respondeu que os transportes pioraram na pandemia, mas ressaltou um acordo recente com a SuperVia para investimentos de R$ 250 milhões, de forma parcelada, na recuperação e manutenção da malha ferroviária urbana.
Sobre as barcas, o atual governador também disse que até o ano que haverá uma nova concessão que resolva problema. "Concessão está sendo remodelada pela UFRJ", garantiu Castro, que ressaltou ainda a realização de obras em estradas estaduais. Logo em seguida, no entanto, Rodrigo Neves (PDT) mirou em Castro ao dizer que ele foi "incapaz" de construir uma estrada de acesso que melhorasse a operação do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense.
Neves, por sua vez, foi confrontado pelo colunista da rádio CBN Frederico Goulart sobre problemas enfrentados na área de transporte quando o candidato era prefeito de Niterói, sobretudo com relação ao trânsito. O pedetista voltou a promessa de construção da Linha 3 do metrô, entre o Rio e São Gonçalo e Itaboraí.
As regras do debate
Participam do encontro os quatro aspirantes ao Palácio Guanabara cujos partidos contam com representação de pelo menos cinco parlamentares no Congresso Nacional: o atual chefe do Executivo, Cláudio Castro (PL); o deputado federal Marcelo Freixo (PSB); o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT); e o deputado federal Paulo Ganime (Novo).
Iniciado às 10h e com transmissão ao vivo, o evento terá duração aproximada de duas horas. É possível acompanhar pelos sites e redes sociais dos quatro veículos, bem como pela rádio CBN. O canal do jornal O GLOBO no Youtube também estará transmitindo o encontro em tempo real. O debate ocorre no auditório do Sesc do Flamengo, na Zona Sul do Rio. A realização é dos quatro veículos, com apresentação da Fecomércio-RJ.
O formato do debate foi definido com representantes das campanhas. A ordem das participações em cada um dos blocos foi alinhada por sorteio realizado antes do início do evento, na presença de representantes dos candidatos.
No primeiro bloco, após a apresentação, os candidatos fazem perguntas de tema livre entre si, com cada um perguntando e respondendo uma única vez. São 30 segundos para a pergunta, dois minutos para a resposta e um minuto tanto para a réplica quanto para a tréplica, não sendo permitido estourar o tempo.
No segundo bloco, colunistas dos quatro veículos fazem duas perguntas para o mesmo candidato, com a segunda sendo elaborada logo após a primeira resposta. Cada pergunta deve ter 30 segundos, enquanto a primeira resposta tem dois minutos, e a segunda, um. Os jornalistas escalados são: Lauro Jardim (O GLOBO), Berenice Seara (Extra), Francisco Góes (Valor) e Frederico Goulart (CBN). Já a mediação cabe a Carlos Andreazza, colunista do GLOBO e da CBN.
O terceiro bloco tem formato idêntico ao primeiro, com perguntas e respostas entre os próprios adversários. O quarto e último bloco repete os moldes de enfrentamento direto, seguido das considerações finais de cada candidato, com dois minutos disponíveis para a mensagem de cada um.
Em caso de ofensa moral e pessoal, o candidato pode solicitar aos mediadores direito de resposta. A decisão de conceder ou não esse direito é de competência de uma comissão formada por integrantes dos três jornais e da rádio.
Se possível, o direito de resposta é concedido de imediato, de preferência no mesmo bloco. Caso não seja viável, isso acontece no início do bloco seguinte. O tempo destinado ao direito de resposta é sempre de um minuto.
O direito de resposta se limita a ofensas no campo moral, não abrangendo avaliações negativas sobre propostas de governo ou desempenho administrativo. Se um candidato que obtiver o direito de resposta se desviar do conteúdo da ofensa recebida ao se manifestar, o mediador poderá intervir.
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