Gabriel Monteiro
Reprodução / Redes Sociais
Gabriel Monteiro

Os depoimentos prestados no Conselho de Ética da Câmara do Rio na investigação sobre a conduta do vereador Gabriel Monteiro (PL) no episódio que envolveu uma criança de dez anos que o político gravou um vídeo monetizado e montou uma vaquinha virtual para ajudá-la e a mãe foram marcados por contradições. E também por reprimendas por parte dos Conselho a advogados de Gabriel que, aparentemente teriam tentado intervir nas respostas da mulher. Em depoimento, Gabriel falou que as duas não haviam se alimentado naquele dia e a criança vendia balas em sinais de trânsito na Zona Sul. A mãe, que prestou esclarecimentos em dia distinto do vereador, declarou o oposto:

"A (...) tava passando fome? Tava passando fome, tava com fome, tava com fome. Eu só expliquei a ela como que ela podia passar a realidade dela em um formato de vídeo. Eu apenas oriento, apenas ajudo ela. Tudo que ela falou no vídeo era verdade", declarou Gabriel.

A responsável pela criança contou que no mesmo dia foi abordada por uma senhora na rua que pagou almoço para as duas:

"Teve uma senhora que falou assim: “A senhora ta passando mal.” Eu falei: “Não estou, não” – com vergonha. Ela falou: “A senhora tá sim. A senhora já comeu alguma coisa? Eu falei: “Ainda não.” Ela: “Tu quer comer?” Eu falei: “Não, não quero não. Se a senhora puder, pode dar pra minha filha?” Ela: “Não, vou levar vocês duas pra comer.” E essa senhora apareceu e me deu comida", contou a mãe da menina.

Gabriel, afirmou que a mãe, só apareceu no local e pagou um lanche para a menina já de noite. No depoimento, o vereador afirmou que a criança vendia bala na rua:

"Agora, imagina a realidade. É muito difícil. Para (...) eu fiz algumas divisões no vídeo. Primeiro minuto do vídeo ali, a realidade da vida da (...), que era vender bala, ficar na rua, submetida a 10, 12 horas ali, à mercê da... da boa vontade dos populares dar ali uma moeda pra ela. Voltar pra casa e se alimentar (...). Gente, é uma criança que não está brincando, isso não é mentira, isso não é uma campanha mentirosa", declarou Gabriel.

Moradora da Zona Oeste, a mãe contou que na verdade a menina só a acompanhou na rua naquele dia porque uma conhecida que trabalhava no mesmo local em que ela vendida bala disse que haveria distribuição de doações, o que efetivamente ocorreu.

"A moça que trabalha há mais tempo do que eu ali falou que iam dar material. Eu levei.. (minha filha). (...).Como a minha outra filha mais velha não ia, eu levei a mais nova pra ganhar material pras duas (...) Ganhei material, ganhei cesta básica. E isso é o que eu tenho a dizer", disse a mulher.

As contradições não terminaram por aí. Em seu depoimento, Gabriel reiterou o que já afirmara em entrevistas: que a mãe esteve do lado da criança e acompanhou todo o diálogo com a menina. A responsável, por sua vez, disse que acompanhou a gravação de uma mesa ao lado da praça de alimentação, e que nem sempre prestou atenção ao que falavam:

"A mãe tava do lado. E ela que tava falando a realidade (para a filha)", disse Gabriel.

Ao responder a uma pergunta dos vereadores se achava normal que a filha fosse orientada pelo político a responder sobre alguma coisa, a mulher respondeu:

"Não tava prestando muita atenção, porque eu tava no celular.Eu não acho normal (...). Eu não posso confirmar uma coisa que não vi.
Os trabalhos do Conselho de Ética foram encerrados na última quinta-feira e por unanimidade (sete a zero), os vereadores aprovaram o parecer do relator Chico Alencar (PSOL) favorável a cassação do mandato. Na sexta-feira (12), a Procuradoria da Câmara quebrou o sigilo sobre os depoimentos, que foram liberados para os demais vereadores e ao público em geral. Parte deste material foi alvo de reportagem do Fantástico neste domingo. O GLOBO também teve acesso ao material. Nesta reportagem, em específico, os nomes da mãe e da criança foram omitidos em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente."

Nesta segunda-feira (15), os advogados de Monteiro apresentarão um recurso à Comissão de Justiça e Redação, questionando pontos da decisão do Conselho de Ética. A expectativa é que a Comissão delibere sobre a matéria na quarta-feira. Caso não haja mudança na decisão, o plenário deve decidir na quinta-feira (18) se segue a recomendação do Conselho de Ética. Para que Gabriel perca o mandato, são necessários os votos de 34 dos 51 vereadores da cidade. Na prática, estão aptos a participar da votação apenas 50 já que Carlos Bolsonaro (Republicanos) está de licença.

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