Até agora, sete mulheres já procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para denunciar problemas em cirurgias realizadas pelo médico Bolívar Guerrero Silva — preso na segunda-feira (18) por manter uma paciente em cárcere privado dentro do Hospital Santa Branca, em Caxias. Entre elas, a dona de casa Ana Claudia Pedrosa Gonçalves Rodrigues, de 49, conta que fez cirurgia uma cirurgia de abdominoplastia com o médico há dois anos. Ela lembra que, a partir do procedimento, ficou com síndrome do pânico e, por medo, não quis voltar.
"Após a cirurgia, tive duas paradas cardíacas e a operação necrosou. Eu cheguei na UPA quase morta. Lá, fiquei no CTI, praticamente morta. A minha barriga ficou com sequela. Ele não me operou. Ele estava lá só para auxiliar. Eu fui fazer abdominoplastia e a mama. Só a minha barriga teve problemas. O meu umbigo está torto", diz Ana Claudia, que completou: "Hoje, eu tenho vários problemas de saúde, como ansiedade. Vi na TV (a prisão do médico) e vim aqui porque ele não pode sair impune. Por um milagre estou viva, mas muitas outras mulheres podem ter morrido por conta disso. Eu cheguei a ter alta médica, mas tive uma infecção. Voltei três dias depois e fui internada. Depois de quatro dias no CTI, o meu marido me levou para a UPA Suruí, também em Caxias."
Vítima diz ter ficado deformada
Na manhã desta terça-feira (19), a desempregada Vanessa Miranda, 41, que fez uma mastectomia em 2013 com Bolívar, também esteve na Deam. Ele diz que ficou deformada após a cirurgia. A mulher conta que tentou registrar o caso em 2014, mas que por estar abalada emocionalmente, não deu prosseguimento ao caso. Em 2019, ela entrou na Justiça pedindo uma reparação pelos danos.
"Eu paguei por uma mastectomia, mas ele não fez. Após a cirurgia, senti muitas dores e não conseguia ficar deitada. Eu voltei nele e falei sobre a inflamação e que algo estava errado. Ele foi grosso, rude, e disse que era coisa da minha cabeça. Ele arrancou um dos pontos, que acabou necrosando e ficou um buraco. Fui para casa e a situação piorou. Voltei nele novamente, pedindo um remédio para dor, ele disse que não era necessário. Foi assim por anos. Ainda hoje eu sinto dores", destaca Vanessa.
A desempregada diz que até procurei outros médicos para fazerem a reparação, mas que nenhum profissional ninguém quis refazê-la:
"Eu fui lá em busca de preço. Eu não tinha condições de pagar um médico renomado e lá o preço era bom. Paguei R$ 7.800. Depois de dez anos, preciso trocar a prótese e não sei como será. Agora, eu quero os meus direitos. Quero que a justiça seja feita para que mulheres como eu não sofram mais."
A advogada Clarisse da Silva Alves, que faz a defesa de Vanessa, disse que a paciente ajuizou uma ação por danos morais contra Bolívar e o hospital:
"Queremos a reparação por danos morais e que ele pague para que a minha cliente refaça uma nova cirurgia."
O GLOBO não conseguiu localizar a defesa do médico. Por sua vez, os advogados do Hospital Santa Branca destacaram que “a unidade nunca praticou nenhum ato contra a saúde da paciente, ou qualquer ilegalidade”. A defesa do hospital explicou que “está interessada em resolver o problema”.
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