A delegada Maria Aparecida Salgado Mallet, titular da 6ª DP (Cidade Nova), determinou a apreensão do carro alegórico que imprensou a estudante Raquel Antunes da Silva, de 11 anos, na Rua Frei Caneca, na noite da última quarta-feira, dia 20 . O ‘Embarque no famoso 33’, da Em cima da hora, foi levado para um barracão, também na Região Portuária do Rio, e está à disposição de novas perícias complementares de profissionais do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), que o analisaram e o fotografaram e trabalham para determinar as causas do acidente. Devem ser ouvidos na delegacia o presidente administrativo da escola de samba e um auxiliar do motorista do reboque que puxava a alegoria.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, nem o ‘Embarque no famoso 33’, nem os demais carros alegóricos da Série Ouro que desfilaram na primeira noite do carnaval, na Marquês de Sapucaí, foi vistoriado e recebeu autorização do órgão para entrar na Avenida. Por três vezes, houve uma tentativa de notificar a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Lierj) para informar que nenhuma das escolas do antigo Grupo de Acesso pediram a vistoria para suas alegorias. Por conta disso, nenhum deles teria autorização para desfilar.
Ainda segundo o Corpo de Bombeiros, a última tentativa aconteceu horas antes de os desfiles começarem, na noite de quarta-feira. Para ontem, apenas quatro das oito escolas solicitaram a vistoria. Uma das escolas que não solicitaram o pedido para a análise foi a Em Cima da Hora, agremiação de Cavalcanti, na Zona Norte do Rio. No Grupo Especial, todas as escolas já protocolaram seus documentos, que estão sendo analisados.
O ‘Embarque no famoso 33’ já havia apresentado problemas ainda no desfile: houve dificuldade de movê-lo na concentração e durante o desfile na Sapucaí durante metade da apresentação. Antes de passar pela Avenida, o carro precisou se movimentar ao menos sete vezes até ser posto dentro do sambódromo.
Em depoimento prestado também na 6ª DP (Cidade Nova), o motorista José Crispim Silva Neto, coordenador de dispersão da Liga-RJ, contou que, antes de Raquel ter sido imprensada contra um poste, ouviu pessoas gritando “Para o reboque, tem uma menina em cima do queijo” e “Tem criança em cima do carro” . Ele relatou ainda que a menina foi a única das cinco crianças que não conseguiu descer a tempo de o carro alegórico da Em Cima da Hora colidir e chegou a vê-la caída no chão com fraturas expostas nas pernas.
No depoimento, ao qual O GLOBO teve acesso com exclusividade, José Crispim Silva Neto contou que, por volta de 22h50, estava caminhando pela Frei Caneca ao lado esquerdo do reboque que estava puxando o carro alegórico da Em Cima da Hora. Ao ouvir os gritos, ele afirmou que a alegoria estava devagar e logo parou. As outras quatro crianças então desceram do carro, mas Raquel não teria conseguido, sendo imprensada contra o poste.
José Crispim Silva Neto diz ter corrido para o lado direito do carro e depois ido chamar ajuda para a menina. Nesse momento, um coronel do Corpo de Bombeiros para um dos postos médicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) no Sambódromo e, de lá, encaminhada ao Hospital Municipal Souza Aguiar, também no Centro do Rio.
O motorista disse ainda que é comum que diversas crianças esperem a passagem de carros alegóricos para subir e tirar fotos. Ele ressaltou que não é sua função guiar o reboque e estava no local tão somente para acompanha-lo.
Segundo a Polícia Civil, Raquel sofreu luxação exposta no tornozelo esquerdo, fraturas expostas dos fêmures e fratura de rádio distal esquerda. Ela passou por uma cirurgia para a amputação de uma das pernas e teve a morte confirmada, às 12h10 desta sexta-feira, dia 22.
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