A 1ª Vara Criminal de Itaboraí condenou, nesta segunda-feira (8), oito pessoas pelo envolvimento com uma milícia que atua no município, que fica na Região Metropolitana do Rio . O grupo é apontado como autor de homicídios, extorsões e desaparecimentos. O processo tem 77 réus e foi separado em nove procedimentos.
O advogado Alvaristo Assis Júnior, que trabalhava na defesa de alguns dos réus, foi apontado como responsável por auxiliar integrantes da quadrilha, passando informações sobre a movimentação da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI). Segundo o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), em uma visita à especializada, ele tirou fotos de veículos descaracterizados e repassou para o grupo criminoso.
Alvaristo foi condenado a 6 anos, 1 mês e 15 dias de reclusão em regime semiaberto. Ele terá o direito à apelação em liberdade. Também advogada, Tânia Monique Faial Corrêa foi identificada como elo entre a milícia, agentes de segurança pública e traficantes de drogas, inclusive em negociações para uma "trégua''. Contra ela ainda existe um outro processo por suposta participação no homicídio de um agente penitenciário, assassinado na tentativa de resgate de um traficante, em 2013, na BR-101.
A advogada foi condenada a 7 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão em regime fechado, também com direito a apelação em liberdade. Já Mayson Cesar Fideles de Santana, marido de Tânia, foi flagrado em uma interceptação telefônica de várias conversas. Uma delas foi sobre a intermediação para o funcionamento de um estabelecimento comercial em uma região dominada pelo tráfico de drogas.
Outra conversa mostrou que ele se identificava como policial civil e chegou a enganar dois delegados e um subcomandante da Polícia Militar. Durante a Operação Salvator, em julho de 2019, em que 45 suspeitos de integrar a milícia que atuava em Itaboraí foram presos, a polícia encontrou na casa dele chaves de uma viatura do Posto Regional de Polícia Técnica e Científica (PRPTC) de São Gonçalo.
Mayson foi condenado a 7 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão em regime fechado, com direito a apelação em liberdade. Vilson Alves Andrade, homem que atuava como uma espécie de corretor do crime organizado, foi responsável por intermediar a negociação de imóveis na região, cobrando 10% sobre o valor de cada negócio, foi condenado a 7 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão em regime fechado, com direito a apelação em liberdade.
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Condenado a 10 anos e 6 meses de reclusão em regime fechado, Rhuan Fernando de Souza Macieira é apontado como responsável por extorsões a moradores com uso de armas de fogo, além de monitorar a movimentação nos bairros controlados pela milícia. Entre vários depoimentos, um casal da região relatou ter sido expulso por não pagar as taxas cobradas pela quadrilha. A dupla contou ter sofrido agressões e torturas.
Delano Xavier de Mendonça era responsável pela cobrança da taxa de segurança, pela ronda armada da região e de atuar na vigilância e monitoramento. Ele foi identificado pela DHNSGI durante as investigações da Chacina da Marambaia, em janeiro de 2019, quando dez pessoas foram executadas por integrantes da quadrilha. No aparelho celular apreendido, foram encontradas fotos nas quais ele aparece com armas de fogo e uma grande quantia de dinheiro.
Há também relatos da participação dele em roubos de carros, a partir de anúncios publicados em sites cujos preços muito abaixo do de mercado indicavam serem veículos clonados. Ao combinar com os vendedores um local de encontro, e com o apoio de policiais militares e civis, realizava uma falsa abordagem, apreendia o automóvel e ainda exigia dinheiro para que não fossem presos em flagrante pelo crime de receptação. Ele foi condenado a 10 anos e 6 meses de reclusão em regime fechado.
Filipe da Costa Pimentel fazia as rondas armadas na região dominada pelo grupo paramilitar,recebendo R$500 por quinzena. Ele confirmou a participação no bando durante a prisão em flagrante realizada ao longo das investigações em 2019 e foi condenado a 8 anos e 9 meses de reclusão em regime semiaberto. O policial militar Antônio Cláudio Quintanilha Medeiros participou de ataques e execuções de criminosos rivais, atuando na disputa contra o tráfico de drogas no núcleo mais violento da organização criminosa.
Durante uma tentativa de homicídio sofrida por ele em 2018, a cerca de 300 metros do Fórum de Itaboraí, foram descobertos, dentro do seu veículo, cartuchos de uma pistola cujo confronto balístico demonstrou ser a mesma usada num duplo homicídio um mês antes. Na época, ele cumpria prisão preventiva em regime domiciliar por uma decisão da Operação Calabar, em 2017, quando 96 policiais militares e 70 traficantes foram denunciados por integrarem um esquema de corrupção.
O PM foi condenado a 10 anos e 6 meses de reclusão em regime fechado. A mãe de Antônio Cláudio, também ré na ação, foi absolvida de fazer parte do esquema. Um dos réus teve a ação contra ele extinta por já existir outro processo com a mesma acusação, resultante de uma prisão em flagrante em 2019.