
O deputado federal Glauber Braga (PSOL) voltou ao centro do noticiário político após protagonizar cenas de confronto no plenário da Câmara dos Deputados durante a votação do polêmico projeto conhecido como “ PL da Dosimetria ”, texto que altera critérios para aplicação de penas e que pode beneficiar condenados e investigados envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
O deputado passará por um processo de cassação na Câmara ainda nesta quarta-feira (10), por ter ocupado a cadeira da Casa.
A reação do parlamentar incluiu a ocupação da mesa diretora em protesto , episódio que terminou com sua retirada por agentes da Polícia Legislativa, cenas que viralizaram nas redes sociais.

A manifestação expôs uma das principais vozes da oposição de esquerda ao projeto aprovado pela maioria da Casa: Glauber acusa o texto de representar um “afrouxamento institucional” diante dos ataques à democracia e afirma que o Congresso estaria atuando para reduzir as consequências penais a participantes da trama golpista.
O episódio ocorre em meio a outro embate sensível: o deputado responde a um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara, que aprovou parecer pela perda do mandato em abril de 2025, decisão que ainda depende de análise e votação pelo plenário.
Quem é Glauber Braga
Nascido em 26 de junho de 1982, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Glauber de Medeiros Braga é formado em Direito e iniciou a carreira política ainda jovem, atuando em movimentos estudantis e de esquerda no estado.
Filiado atualmente ao PSOL, alcançou projeção nacional ao conquistar seu primeiro mandato de deputado federal nas eleições de 2010. Desde então, consolidou a imagem de parlamentar combativo, com estilo direto, discursos duros contra governos e críticas frequentes ao que chama de privilégios do sistema político brasileiro.
Ao longo das últimas legislaturas, construiu uma atuação ligada a pautas como combate à corrupção, críticas ao chamado orçamento secreto, defesa da soberania nacional, proteção ambiental e direitos sociais.
Costuma atuar de forma barulhenta no plenário e nas redes sociais, utilizando transmissões ao vivo e vídeos curtos para ampliar o alcance de seus posicionamentos.
O embate no plenário
As cenas mais recentes que colocaram Glauber Braga entre os assuntos mais comentados na política ocorreram durante a apreciação do PL da dosimetria.
O texto aprovado estabelece alterações na forma como juízes podem fixar penas e aplicar agravantes e atenuantes. Para críticos do projeto, ele acaba criando brechas jurídicas capazes de reduzir punições para envolvidos em crimes contra o Estado Democrático de Direito, especialmente aqueles ligados aos atos de 8 de janeiro.
Durante a sessão, Glauber protestou contra a condução da votação, subiu até a mesa principal da Câmara e se recusou a deixar o local. Em seguida, acabou retirado por policiais legislativos. O momento foi registrado em vídeos que se espalharam rapidamente pelas redes sociais.
Em pronunciamentos posteriores, o parlamentar afirmou que o Congresso estaria “passando o pano para golpistas” e que a tentativa de reduzir consequências jurídicas para os ataques às sedes dos Três Poderes seria uma “afronta direta à memória democrática do país” .
Lideranças governistas e de centro responderam criticando a conduta do deputado, afirmando que houve quebra de decoro e que a ocupação da mesa prejudicou o andamento dos trabalhos legislativos.
O processo de cassação
Enquanto ganha visibilidade por seu confronto na Câmara, Glauber Braga enfrenta uma situação delicada fora do plenário: o processo no Conselho de Ética, que recomenda a cassação de seu mandato por suposta quebra de decoro parlamentar.
O episódio que deu origem à denúncia envolve um desentendimento com um militante em área interna da Casa Legislativa, ocorrido no ano passado. O relator do caso considerou que a conduta do deputado extrapolou os limites da atuação parlamentar.
Em abril de 2025, o Conselho aprovou o parecer favorável à punição por 13 votos a 5, abrindo caminho para que a decisão final seja tomada pelo plenário.
Para que a cassação seja efetivada, são necessários pelo menos 257 votos favoráveis. A defesa do parlamentar afirma que o processo tem caráter persecutório e busca punir um deputado conhecido por enfrentar interesses de grupos influentes do Congresso.
Democracia em debate
A soma entre a aprovação do PL da dosimetria, o protesto no plenário e o avanço do processo de cassação colocou Glauber Braga como personagem central em uma narrativa maior: a disputa sobre como o país deve lidar com os atos golpistas que marcaram o início de 2023.
Para setores da oposição, a Câmara estaria sinalizando “tolerância institucional” com aqueles que atentaram contra o regime democrático. Para a maioria dos parlamentares, porém, o projeto trata apenas de ajustes técnicos na legislação penal, sem intenção direta de beneficiar grupos específicos.
Estilo combativo
Independentemente das avaliações sobre o mérito de suas ações, Glauber Braga construiu uma marca reconhecível no Parlamento: o estilo de confronto.
Em momentos pontuais, da denúncia contra esquemas de emendas parlamentares à defesa de pautas ambientais, sua atuação frequentemente ultrapassou os discursos tradicionais, usando ações simbólicas para chamar atenção da imprensa e da opinião pública.
A estratégia, segundo seus aliados, visa romper com a apatia em relação à política institucional e expor disputas que ficariam invisíveis ao cidadão comum.
Base eleitoral e apoio
No Rio de Janeiro, seu principal reduto eleitoral, Glauber mantém forte presença junto a movimentos sociais, sindicatos e coletivos estudantis. É comum vê-lo em atividades de base, plenárias públicas e manifestações de rua.
Após o episódio no plenário, houve manifestações de apoio nas redes sociais, com hashtags em defesa de seu mandato e contra o processo de cassação.
Ao mesmo tempo, parlamentares de outras bancadas usam sua exposição como argumento para reforçar discursos pela punição, apresentando a postura como incompatível com o decoro que, segundo eles, deve governar o funcionamento da Câmara.
O que vem pela frente
O futuro político de Glauber Braga depende de dois eixos principais: os efeitos políticos do PL da dosimetria e o desfecho do processo de cassação.
Caso a maioria do plenário confirme a decisão do Conselho de Ética, o deputado perderá o mandato antes do fim da legislatura. Se conseguir barrar a medida, sairá politicamente fortalecido, podendo consolidar a imagem de resistência institucional.