Carlos Portugal Gouvêa
Reprodução/Harvard Law
Carlos Portugal Gouvêa

O professor brasileiro  Carlos Portugal Gouvea, visitante da Faculdade de Direito de Harvard, foi preso por autoridades de imigração dos Estados Unidos.

Ele é acusado de disparar uma arma de pressão do lado de fora de uma sinagoga. As informações foram divulgadas pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA nesta quinta-feira (4).

Carlos Portugal Gouvea, que também é professor associado de Direito Comercial da Universidade de São Paulo (USP), disparou, no dia 2 de outubro, uma arma de pressão em frente a uma sinagoga, na véspera do Yom Kippur, uma das datas mais importantes para o Judaísmo. Ele alegou estar "caçando ratos" nas proximidades. 

Segundo o Departamento de Segurança Interna dos EUA, o Departamento de Estado revogou o visto de Gouvea em 16 de outubro. E em 13 de novembro, o professor aceitou um acordo judicial referente à posse ilegal de uma carabina de ar comprimido. 

Outras acusações de perturbação da paz, conduta desordeira e vandalismo foram arquivadas.

Ele foi detido nesta quarta-feira (3) pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), em Boston, após se declarar culpado. Gouvea concordou em deixar o país voluntariamente, em vez de ser deportado.  

No comunicado à imprensa divulgado na quinta-feira, Tricia McLaughlin, porta-voz do Departamento de Segurança Interna, afirmou que: 

“Trabalhar e estudar nos Estados Unidos é um privilégio, não um direito. Não há espaço nos Estados Unidos para atos descarados e violentos de antissemitismo como este. Eles são uma afronta aos nossos princípios fundamentais como país e uma ameaça inaceitável contra os cidadãos americanos que respeitam a lei”.

E complementou: “Não temos nenhuma obrigação de admitir estrangeiros que cometem esses atos inexplicavelmente repreensíveis ou de permitir que permaneçam aqui. A Secretária Noem deixou claro que qualquer pessoa que pense que pode vir para a América e cometer violência e terrorismo anti-americanos e antissemitas deve repensar suas ideias. Vocês não são bem-vindos aqui”. 


A prisão de Gouvea acontece em um momento em que a relação do governo Trump e Harvard segue tensa.

O conflito entre a universidade e a administração do presidente Donald Trump se intensificou após a recusa de Harvard em atender uma série de exigências feitas em abril deste ano, que incluíam mudanças no gerenciamento de dados de alunos internacionais e adequações em seus programas de intercâmbio. 

Após a negativa de Harvard, o governo afirmou que a instituição estaria promovendo um ambiente hostil a alunos judeus e que o campus teria casos de antissetismo.

Relembre o caso

O incidente ocorreu no início de outubro, durante um serviço religioso de Yom Kippur no Templo Beth Zion, uma sinagoga localizada a poucos quilômetros ao sul de Harvard, em Brookline, Massachusetts. 

De acordo com o The New York Times, após os seguranças ouvirem um barulho alto do lado de fora da sinagoga, o prédio entrou em regime de isolamento.

Um dos guardas avistou Gouvea atrás de uma árvore, segurando uma espingarda de chumbinho e, ao tentar prendê-lo, um deles relatou que o professor resistiu por alguns instantes e fugiu, segundo o boletim de ocorrência. 

Ele foi posteriormente detido em casa pela polícia de Brookline, sem resistência e acusado de disparo ilegal de arma de pressão, perturbação da paz, conduta desordeira e danos à propriedade privada.

Ainda de acordo com o The New York Times, Harmeet Dhillon, funcionária do governo Trump e chefe da divisão de direitos civis do Departamento de Justiça, comentou o episódio nas redes sociais. 

“NÃO se metam com locais de culto ou pessoas de fé em nosso país”, escreveu, acrescentando que estava “cuidando do assunto”.

Apesar disso, as autoridades locais afirmaram não acreditar em motivações antissemitas e, por essa razão, não apresentaram nenhuma acusação baseada em preconceito. 

Os líderes da sinagoga também concordaram, dizendo que “é potencialmente perigoso usar uma arma de pressão em um local tão populoso, mas não parece ter sido motivado por antissemitismo”.

O rabino Hirschy Zarchi, do Chabad de Harvard, também reforçou que o incidente não foi motivado por antissemitismo, em um discurso no campus em outubro. 

“Este homem é casado com uma mulher judia e tem filhos judeus, e isso não tem absolutamente nada a ver com atacar a comunidade judaica”, afirmou, segundo o The Harvard Crimson, um jornal estudantil da universidade.

O Portal iG não localizou a defesa de Carlos Portugal Gouvea. O espaço segue aberto para manifestações.

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