Fernando teve falso atestado de óbito assinado no Hospital Brás Cubas, ligado à sua família
Reprodução/Fantástico/Hospital Brás Cubas
Fernando teve falso atestado de óbito assinado no Hospital Brás Cubas, ligado à sua família


Um  esquema fraudulento foi descoberto após um falso médico forjar a própria morte, para fugir da Justiça no processo que responde por exercício ilegal da medicina e pela morte de uma paciente. 

Fernando Henrique Guerrero se passava por clínico geral em Sorocaba, no interior de São Paulo, sem ter diploma. Em 2011, uma paciente em seus cuidados morreu de infarto, após ele não ser capaz de identificar o real problema dela, segundo promotores.

A reportagem do Fantástico, da TV Globo, investigou o esquema em que o falso médico estaria envolvido, que inclui recrutamento de uma outra falsa médica e o forjamento da própria morte.

Diploma falso

A Santa Casa da Misericórdia de Sorocaba, onde o falso médico atuou
Reprodução/Santa Casa de Sorocaba
A Santa Casa da Misericórdia de Sorocaba, onde o falso médico atuou


Em maio de 2011, Fernando deixou a cidade paulista de Guarulhos e foi contratado pela Santa Casa de Sorocaba como se fosse médico. No período em que atuou falsamente como médico, ele atendia pacientes diariamente, os diagnosticava e medicava. 

Fernando nunca concluiu a faculdade — cursou apenas até o terceiro ano, segundo o Ministério Público. Ele chegou a ser preso por falso exercício da medicina, e alegou que era pressionado pela família a trabalhar como médico.

A polícia chegou até Fernando após prender Camila Aline da Silva Matias Rocha, que atuava como falsa médica e teria sido indicada por Fernando. Ela era procurada pela Justiça por suspeita de matar um homem durante um roubo, em São Paulo.

Segundo o Fantástico, no quadro dos plantonistas da Santa Casa, é possível ver os nomes Bruna e Ariosvaldo, as identidades falsas que a dupla usava para atuar como médicos.

“Muitas pessoas procuraram a polícia porque conseguiram se recordar da família ter sido atendida por esse determinado ‘profissional’. Só que muita gente não conseguiu ligar o mau atendimento dele com a morte ou com o mau tratamento de seu familiar, mas mais de 20 famílias procuraram a polícia” , afirma o promotor do MP.

Morte de paciente

Em outubro de 2011, uma paciente, identificada como Helena Rodrigues, foi atendida pelo falso médico queixando-se de dor abdominal. Depois de medicada, a mulher voltou para a casa, mas acabou morrendo no dia seguinte após passar mal.

Para os promotores, Fernando não foi capaz de identificar o real problema dela, que tinha dor que aparentava ser cardíaca e acabou diagnosticada como uma dor nas costas.

Falsificação de óbito

Cemitério Municipal de Guarulhos, onde supostamente Fernando estaria enterrado
Reprodução/Fábio Nunes Teixeira
Cemitério Municipal de Guarulhos, onde supostamente Fernando estaria enterrado


O falso médico virou réu pela morte da paciente. Em 2019, enquanto aguardava o julgamento, conseguiu uma autorização para passar a usar o sobrenome do pai biológico. Fernando Henrique Guerrero passou a se chamar Fernando Henrique Dardis

Em julho de 2023, Fernando, de nome novo, apresentou um atestado médico para adiar a sessão do tribunal do júri. Desde então, vem acumulando adiamentos no processo judicial, usando atestados médicos.

Em janeiro, sua defesa apresentou à Justiça uma certidão de óbito, afirmando que ele havia morrido no Hospital Brás Cubas, em Guarulhos. 

O documento trazia o nome da médica Claudia Obara, madrinha de casamento de Fernando e próxima da família. Procurada pelo Fantástico, Obara negou ter assinado a certidão e disse que sequer estava no hospital naquele dia.

Dois meses após a suposta morte, os promotores descobriram que o homem esteve pessoalmente em um cartório de Guarulhos para atualizar sua ficha, com uma nova foto.

Investigação no cemitério

O Fantástico foi ao cemitério municipal de Guarulhos para tentar descobrir quem está enterrado na suposta cova de Fernando. Um documento oficial da prefeitura mostra o número do registro da morte e o local onde ele estaria, mas com outro nome no sistema.


Entre os documentos apresentados para comprovar a falsa morte de Fernando, tem até a nota de uma funerária com os valores do velório e do enterro.

O responsável pelos serviços funerários seria a mesma pessoa que teria ido no cartório registrar a morte. Identificado como Ricardo Rodrigues dos Santos, ele também trabalha em um hospital ligado à família do falso médico.

Fernando está com um mandado de prisão preventiva decretado pela Justiça, e é considerado foragido. A nova defesa do falso médico considera injusta e desproporcional a acusação de homicídio feita ao cliente, assim como o pedido de prisão.

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