O avião entrou no trecho crítico às 13:10:40 e saiu dessa fase às 13:19:18.
Reprodução/Lapis/Ufal
O avião entrou no trecho crítico às 13:10:40 e saiu dessa fase às 13:19:18.

O manual do  ATR 72, modelo da aeronave que caiu em Vinhedo, interior de São Paulo, destaca um risco crítico de perda de sustentação e estol em condições de gelo severo. A ocorrência desse fenômeno foi identificada no voo da Voepass, que resultou  na queda da aeronave na última sexta-feira (9), matando 62 pessoas.

O ATR 72-500 da Voepass, com voo 2883, decolou de Cascavel, no Paraná, às 11h56, com destino ao Aeroporto Internacional de Guarulhos em São Paulo. A queda ocorreu às 13h22. Durante o voo, por volta das 13h10, a aeronave entrou em uma área com condições extremas de gelo, ventos de 60 a 70 km/h e nuvens congeladas, com temperaturas de aproximadamente -40°C.

A análise do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas revelou que o ATR 72 passou por esta área crítica por quase 10 minutos, perdendo velocidade de 403 km/h para 300 km/h. A região apresentava alta umidade e causou grande turbulência e perda de potência.

Antes de entrar na área crítica, o ATR já havia experimentado uma queda brusca de velocidade às 12h53, mas recuperou-se rapidamente. Ao sobrevoar Vinhedo a 5.100 metros, o avião enfrentou a formação severa de gelo, que meteorologistas estimaram ter 35% de chance de ocorrência.

Os vídeos gravados mostram a aeronave girando e caindo sem controle, indicando um aparente estol. O acidente resultou na morte de 62 pessoas, incluindo 58 passageiros, dois comissários, o copiloto e o comandante.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) está conduzindo a investigação do acidente. Os gravadores de dados de voo e de voz foram recuperados e serão analisados, mas ainda não há um prazo definido para a divulgação do relatório.

Manual 

O manual da ATR 72 alerta sobre os riscos de gelo severo, destacando que essa condição pode "degradar seriamente a performance e controlabilidade da aeronave". A aeronave possui sistemas antigelo e dispositivos no painel para identificar problemas relacionados ao gelo. No entanto, o manual de 2011 "Operações em Tempo Frio - Prepare-se para o Gelo" indica que, em casos de gelo severo, os sistemas de proteção podem falhar e a tripulação deve sair da condição imediatamente.

O manual de procedimentos de emergência da ATR orienta que, em caso de gelo severo, os pilotos devem:

  • 1. Aplicar a potência máxima nos motores.
  • 2. Desligar o piloto automático.
  • 3. Segurar firmemente o manche para evitar movimentos inesperados.
  • 4. Abaixar o nariz do avião.
  • 5. Sair da área de gelo severo.
  • 6. Informar o controle de tráfego aéreo sobre a redução de altitude.

Se o avião apresentar comportamento anormal de rolagem, é recomendado também adotar o procedimento contra estol, abaixando o nariz do avião e aplicando máxima potência.

O comandante norueguês Magnal Nordal, com 24 anos de experiência em aeronaves ATR, observa que o sistema de alerta para condições de gelo pode falhar, e o arrasto causado pelo gelo pode forçar uma descida. Apesar de alguns acidentes históricos, o ATR é certificado para voar em segurança e é amplamente utilizado.

Após o acidente, surgiu uma discussão sobre a eficácia dos sistemas antigelo e a resposta da tripulação a condições adversas. A falta de contato com o controle de tráfego aéreo, conforme indicado pelo Cenipa, adiciona complexidade à investigação.


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