O serviço de ortopedia do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) que, até pouco tempo, era referência, tem apresentado reiterados problemas na realização de cirurgias. A denúncia consta em um documento elaborado por representantes do setor, no qual relatam falha no fornecimento de Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPMEs), qualidade ruim dos materiais e falta de equipe de instrumentadores no período noturno.
O fornecimento desses equipamentos é de responsabilidade da Síntese Comércio Hospitalar e, segundo o comunicado, esses problemas têm acarretado um alto índice de cancelamentos de procedimentos cirúrgicos. “Exemplo a isso, temos o fornecimento da haste cefalomedular, que é um material inadequado e ultrapassado. A utilização deste, pode ser comprometedora, uma vez que pode gerar riscos e complicações nos pós-operatório”, diz trecho do documento.
É citado também a diminuição considerável das cirurgias definitivas, que antes tinham uma média de 70% nos casos. “Devido à falta de materiais, nenhum paciente consegue realizar o tratamento definitivo imediato, somente cirurgias provisórias, o que aumenta o tempo de internação do paciente, gerando risco de infecções e complicações ao paciente ao gerar dois procedimentos cirúrgicos. Pois utiliza-se dois OPMEs, um provisório e depois o definitivo”, completa.
De acordo com o setor que realiza os procedimentos, essa situação resulta ainda em problemas para o próprio hospital. “Entendemos que são gastos que poderiam ser evitados. Trazendo soluções assertivas, de modo que possibilite a equipe cirúrgica, a realizar os procedimentos necessários, com equipamentos e materiais adequados, para proporcionarmos aos pacientes, melhores condições de tratamento compatíveis com a complexidade que cada caso requer”, aponta.
Um dos pacientes afetados diretamente por esses problemas é Eber Roberto da Silva, de 38 anos. Eber sofreu um acidente, resultando em fratura de colo femoral esquerdo, e desde o último dia 03 de março está internado, aguardando a realização do procedimento necessário. Seu padrasto, Anastácio Cirilo da Silva, conta que, depois de muita luta, a cirurgia foi marcada para a quarta-feira (13), porém foi cancelada por falta de materiais.
“É uma situação muito difícil e angustiante, pois era para ser uma coisa rápida, de três dias para terminar. Agora, não temos nenhum prazo de quando a cirurgia será realizada. O médico disse que temos que correr atrás e estamos nessa batalha. Há 13 dias, a mãe dele tem que ir todas as noites dormir no hospital. De dia, o pai dele tem ficado no HMC. Mas, além de cansativo, financeiramente também é ruim”, declara o padrasto de Eber.
O Setor de Ortopedia do HMC aponta ainda a falta de equipe de instrumentadores no período noturno, já que o serviço é disponível por 24 horas. “Outra ocorrência que tem sido corriqueira e que vem ocasionando também em suspensões dos procedimentos e a dificuldade de realização destes é a falta de equipe de instrumentadores no período noturno, inclusive em procedimentos que não se utilizam OPMEs”, revela o documento.
A Síntese foi investigada na Câmara dos Deputados, por meio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia das Próteses. O caso ocorreu em 2015 e envolveu médicos, fabricantes e fornecedores de próteses, órteses e materiais especiais, planos de saúde e até o Poder Judiciário. As denúncias eram de superfaturamento, propina em troca de cirurgias desnecessárias e comissões para que médicos indicassem seus produtos, caracterizando uma monopolização territorial.
Em Cuiabá, voltou a assumir recentemente o serviço no HMC, após alinhamento com o prefeito Emanuel Pinheiro, que acarretou o rompimento do contrato da MedTrauma que, desde 2023, era a responsável não só pelos médicos ortopedistas cirurgiões, mas também pela aquisição das OPMEs. Durante esse período, a média era de mais de 300 cirurgias realizadas por mês.