A última pesquisa Quaest, divulgada no último dia 6 de março , foi a terceira no período de uma semana que mostrou queda na popularidade do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT). O levantamento mostra que o petista ainda é aprovado pela maioria dos brasileiros, 51%, mas que há crescimento na rejeição: 46% dos entrevistados disseram desaprovar o governo.
Essa é a segunda vez que os números da Quaest mostram um descontentamento crescente. De dezembro para fevereiro, a porcentagem de desaprovação passou de 43% para 46%, enquanto a de aprovação caiu de 54% para 51%.
Para os especialistas ouvidos pelo iG , esses resultados estão atrelados a uma série de fatores, que passam por questões políticas, sociais e comportamentais da população brasileira, e que podem servir como um sinal de alerta para o governo, uma vez que outras duas pesquisas (Ipec e Atlas) também mostraram queda na popularidade do presidente.
Economia
A estabilidade economica costuma aparecer como um critério importante para medir o desempenho do governo e, até agora, o governo Lula tem mostrado regularidade no quesito. Isso, porém, não tem segurado a popularidade do petista.
"Não há criticas enormes ao que o governo está fazendo. Houve o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] e há uma relativa responsabilidade com as contas públicas, com Haddad conseguindo manter os ânimos menos acirrados", analisa Leandro Consentino, que classifica isso como um "grande acerto do governo."
O professor do Ínsper e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) avalia que, durante as eleições, havia uma preocupação do mercado sobre como seria a política econômica de Lula, e a supresa positiva foi ver a atual equipe conduzindo a área "aceitando as regras do mercado."
Para o especialista, o saldo positivo da área está relacionado a uma conjuntura favorável, puxada especialmente pela supersafra de 2023 — o que, segundo o cientista político, dificilmente se repetirá neste ano.
Consentino explica que as perspectivas caminham para um ano de "deterioração das expectativas econômicas", já que, internamente, pode haver dificuldades para regulamentar a reforma tributária, aprovada no fim do ano. Na política externa, há o acirramento das guerras Rússia x Ucrânia e Israel x Hamas, além da incógnita a respeito das eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Aceno ao eleitorado
Durante a campanha das eleições 2022, a grande aposta da equipe do atual presidente foi a construção de uma frente ampla, especialmente após o segundo turno. Segundo Consentino, o Planalto mostra dificuldade em agradar todos os grupos do eleitorado.
"Quando a polarização se acirrou, a parte centrista viu no atual governo a chance de uma frente ampla. Agora, com uma retórica muito à esquerda, essa parte do eleitorado acabou se frustrando". O professor também nota problemas em como a esquerda vê o atual presidente, uma vez que essa parcela esperava uma postura mais combativa logo no início do mandato no que diz respeito a pautas ambientais e indígenas.
"A esquerda não está contente com esse gradualismo, assim como o centro não está contente com o discurso combativo, o que faz com que o governo desagrade os dois lados que o sustentou durante as eleições. O resultado é essa crise de popularidade", simplifica.
Programas sociais
A pesquisa Quaest também mostrou as preferências do eleitor em cada uma das cinco regiões do Brasil. As regiões nordeste e sul aparecem em extremos opostos no assunto. Enquanto Lula agrada 68% dos nordestinos e desagrada somente 31%, na outra ponta do país a aprovação é de 40%, enquanto 57% desaprovam o governo.
Para Rosemary Segurado, pesquisadora da PUC-SP, ao longo desse primeiro ano, o chefe do Executivo fez diversos acenos às "classes populares" com o incremento à programas socais de transferência de renda já existentes, como foi o caso das mudanças no Bolsa Família e na criação do Pé de Meia — proomessa de campanha atual ministra do Orçamento, Simone Tebet.
A Doutora em Ciências Sociais explica que esses dois eleitorados não estão separados apenas pelos quilômetros entre uma região do país e outra, mas sim por "uma questão de classe", já que economicamente estão distantes.
"Historicamente, essas diferenças sempre aparecem nos mandatos do presidente Lula", relembra Segurado, que vê essa discrepância como um resultado da diferença econômica entre as regiões e analisa o sul e o sudeste como locais marcados por um pensamento meritocrata.
"Setores de classe média e classe média alta acreditam no discurso da meritocracia. Não existe meritocracia sem oportunidades. Isso é uma falácia." argumenta a professora, que complementa, "Lula é conciliador. Sempre fala de governar para todos, mas privilegiar quem mais precisa."