Em trasmissão ao vivo no Instagram nesta terça-feira (16), a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, afirmou que, apesar dos esforços do governo federal, a crise humanitária que assolou a Terra Indígena Yanomami, na Região Norte do país, não será resolvida tão cedo.
“Assim como foram décadas de invasão para chegar a este ponto, pode levar décadas para restabelecer tudo”, declarou a ministra. Junto dela, estava o secretário nacional de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba.
“Para quem não conhece o território, é importante entender a complexidade [da situação]. E não só pensar: 'ah! Passado um ano, não se deu conta'. Ou: 'Ah!, Em um ano vai resolver [os problemas]'. Não resolvemos e, possivelmente, não se resolverá em toda a sua dimensão em 2024”, acrescentou Guajajara.
A ministra explicou que, para restabelecer as condições de saúde das comunidades locais, é preciso fazer muito mais do que apenas retirar os não-indígenas das terras destinadas exclusivamente aos yanomami e distribuir cestas básicas.
De acordo com a ministra, levará anos para que o território se regenere da destruição causada pelo garimpo ilegal. "Para os yanomami terem seu modo de vida de volta é preciso retirar os invasores [da área]. É preciso que [os indígenas] tenham como plantar; que os rios sejam despoluídos para que [as comunidades] tenham água para beber […] Ou seja, para sarar as pessoas, é preciso primeiro sarar a terra. Para isso, é preciso desocupar o território”, argumentou.
Crise na Terra Yanomami completa 1 ano
No próximo sábado (20), completa um ano desde que o Ministério da Saúde decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional devido às condições das comunidades no território Yanomami.
O objetivo da medida é restabelecer os serviços de saúde e socorrer parte dos cerca de 30,4 mil indígenas que vivem por ali. Com cerca de 9,6 milhões de hectares, a reserva abrange parte do território de Roraima e do Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela, sendo assim a maior terra indígena do Brasil.
O governo federal também instaurou um Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária; proibiu a entrada de não-indígenas na reserva yanomami e determinou que a Força Aérea Brasileira (FAB) intensificasse o controle aéreo na região, limitando a área de voos. Simultaneamente, órgãos ambientais e forças de segurança federais deflagraram ações conjuntas de combate ao garimpo e à extração de madeira.
As medidas implementadas pelo governo federal em janeiro de 2023 levaram à saída de cerca de 80% dos garimpeiros ilegais da região, como informaram a ministra Sônia Guajajara e o secretário Weibe Tapeba. Entretanto, ainda há problemas a serem resolvidos. “Quem ficou dentro do território yanomami são as organizações criminosas; o crime organizado, que continua ameaçando e violentando meninas [indígenas]”, afirmou a ministra, garantindo que o governo federal segue empenhado em retirar todos os não-indígenas do território yanomami e restabelecer os serviços públicos na região.
“Para isso, contamos com as Forças Armadas, que estão ali para proteger esta região de fronteira […] As Forças Armadas precisam continuar atuando, até mesmo como forma emergencial, para entregarmos o que precisa ser entregue, e para retirarmos o restante dos invasores que seguem na área”, argumentou a ministra. “Inclusive para que as equipes profissionais de saúde atuem com segurança.”
Sônia e Tapeba ainda informaram que, com a nova gestão, o governo federal passou a atuar mais ativamente na região, resultando em um maior número de exames para detecção de malária e outras doenças. “Realizamos mais de 140 mil testes. Sessenta e sete por cento deles foram conduzidos a partir de busca ativa. Notificamos 26,466 mil casos [positivos] da doença, o que representa um aumento de 75% de notificações. É praticamente a população toda. Isso é um dado alarmante, mas importante porque, com a notificação, a equipe de saúde consegue medicar, acompanhar e, se for um caso grave, encaminhar o paciente para a atenção especializada. Ruim era quando não havia busca ativa, diagnóstico, notificação e tratamento”, explicou o secretário nacional.
Tapeba também afirmou que, nos anos anteriores, não havia dados precisos sobre a real dimensão da crise enfrentada pelos yanomami. “É importante lembrar que [atualmente] estamos trabalhando em uma situação de emergência porque o território não vinha recebendo a assistência necessária. Havia comunidades há quatro, cinco anos, sem receber a visita de equipes de saúde", contou.