O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB) , tem se destacado por adotar uma abordagem mais informal e uma linguagem jovem nas redes sociais. Sua estratégia de incorporar memes, utilizados na internet para ilustrar conceitos com humor, está desempenhando um papel importante em romper com a imagem tradicionalmente associada a ele, que era conhecido como "picolé de chuchu".
Na última semana. Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, compartilhou uma postagem usando um meme do cantor Chico Buarque para comemorar o aumento de 100% dos investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a indústria em 2023, em relação a 2022, atingindo o maior patamar desde 2014.
Para Gustavo Táriba Brito, mestre em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP) , o meme traz uma leveza ao discurso político e, do ponto de vista da persuasão, se mostra bastante eficaz. “Se o político vira “memeiro”, ele perde a formalidade de ser chamado de Excelentíssimo nas redes. Acredito que quem “sacou” o meme, o público dos “entendidos”, digamos assim, seja de fato mais jovem que seu eleitorado de costume. Esse público beira os 30 anos, curte cultura pop e está atento aos assuntos mais comentados da rede X (anteriormente conhecida como Twitter )”, defende o pesquisador.
“Antes, os memes pareciam mais produzidos pela militância conectada do que por administradores dos perfis dos políticos, como de fato é feito hoje. Essa inversão talvez tenha possibilitado à persona política ter mais controle da sua imagem e da narrativa”, analisa.
Em outras publicações, há referências ao filme Meninas Malvadas, ao personagem Bob Esponja, ao desenho Caverna do Dragão. A escolha dos personagens não é por acaso: a imagem do ex-governador é criada na relação que ele mantém com esse público para quem os memes se endereçam.
“Talvez nascidos em meados da década de 90, inícios dos anos 00. Mantendo o tom informal como é de práxis. A estratégia com os memes é atingir esse público no limiar entre os millennials e a Geração Z”, complementa.
“É como manter uma relação horizontal com o público, sem hierarquias. Isso aproxima o eleitor do político”, finaliza.
Comparações com Bolsonaro e Lula
A presença online do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
é considerada um elemento decisivo para sua eleição. Em 2018, Bolsonaro possuía o maior engajamento nas redes sociais entre todos os candidatos, incluindo Geraldo Alckmin, que buscava a presidência pela segunda vez pelo PSDB
.
Mesmo com pouco tempo de rádio e TV, o ex -presidente conquistou a presidência no segundo turno, superando Fernando Haddad (PT). Alckmin, apesar de ter o maior tempo de rádio/TV entre todos os concorrentes, saiu derrotado com apenas 4,76% dos votos válidos no primeiro turno. Esse desempenho, que até hoje é o pior para um candidato do PSDB na história das eleições presidenciais, destaca a relevância das redes sociais nas campanhas.
Se Lula sempre foi reconhecido por ser carismático e saber se comunicar com as massas, Alckmin, por outro lado, era lembrado pela sua discrição e pelo perfil técnico. Surpreendendo, ambos se uniram na campanha presidencial de 2022. Alckmin mudou do PSDB para o PSB para ser vice de Lula, algo improvável até alguns meses antes das últimas eleições.
Para o professor de comunicação política Roberto Gondo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sobre o ponto de vista da comunicação política, o uso de memes faz com que a imagem de determinado ator político se torne mais leve e mais participativa no dia a dia do cidadão.
“Isso é uma tendência. Já faz alguns anos que vários outros políticos têm utilizado essa abordagem nas redes sociais para que consigam se conectar com o público, que não necessariamente é jovem, mas que gostam de transitar entre as redes sociais”, pontua.
“É preciso criar mecanismos que sejam minimamente divertidos ou chamem atenção, é uma forma de gerar um processo comunicacional que seja mais humano”, complementa.
"É uma forma de gerar um processo comunicacional que seja mais humano, além de baratear a comunicação. Por exemplo, neste ano teremos as eleições municipais. Os pré-candidatos interagem com seus potenciais públicos eleitores de uma forma mais simples. Às vezes, o próprio candidato grava um vídeo, mesmo que ele saia tremido, ou em um lugar com uma iluminação que não é perfeita”, finaliza.