Apagão em SP foi 'evento extraordinário', diz presidente da Enel

Executivo disse que plano de enterrar fios elétricos de São Paulo deve ser 'avaliado'

Poste de energia elétrica com cabos desconectados durante blecaute de energia da Enel da Via da Saúde
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil - 06/11/2023
Poste de energia elétrica com cabos desconectados durante blecaute de energia da Enel da Via da Saúde

O presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, disse que o  apagão que atingiu milhares de moradias na região metropolitana de São Paulo após as fortes chuvas da última sexta-feira (3) foi um evento "extraordinário". De acordo com ele, as respostas ao ocorrido foram dificultadas pela quantidade de árvores que caiu, o que fez com que a empresa precisasse trocar postes e reconstituir quilômetros de rede elétrica em diversos pontos da região.

"Não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo", afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo .

Na ocasião, ele ainda disse que o corte de funcionários nos últimos anos não teve impacto no tempo de resposta à emergência, já que as equipes de campo foram preservadas.

Cotugno afirmou que o serviço de meteorologia da empresa alertou para chuvas durante a tarde na sexta, mas, segundo ele, "veio um evento extraordinário". "O vento foi absurdo. As medições dão valores diferentes pela cidade, mas foram perto de 104 km/h (quilômetros por hora). Na escala Saffir-Simpson, ventos de 120 km/h são furacões", disse.

"A gente ficou de uma a duas horas fazendo um passo a passo para entender o que tinha acontecido em toda a cidade. Contatamos prefeitura, bombeiros, as equipes em campo, e ficou claro que a situação era dramática. Não só no que se refere a rede. Os bombeiros receberam inúmeras demandas", acrescentou, dizendo que a "resposta foi imediata".

A queda de árvores foi outro empecilho para a retomada do serviço, disse ele.

"Normalmente, num evento crítico, caem de 20 a 30 árvores. Nos piores, 50. Nesse, foram cerca de 1.400 árvores. As linhas de alta tensão, que chamamos de autopistas da rede, que fazem a distribuição da potência pela cidade, estavam funcionando, mas as falhas ficaram distribuídas por diferentes pontos da cidade, algo de difícil recuperação."

Além das linhas, o executivo afirmou que a ventania afetou os postes, que tiveram que ser retirados e instalados, e quilômetros de rede precisaram ser reconstituídos.

Moradores que tentaram contato com a empresa por meio do call center também criticaram a falta de retorno em meio à emergência. De acordo com Cotugno, o serviço "congestionou" nas primeiras horas. "Ontem e hoje, tudo começou a funcionar melhor. Usamos muito o aplicativo da Enel. Às vezes, o cliente não conseguia se comunicar, mas a gente, por aplicativo, recebia e registrava as reclamações", disse.

"A gente foi honesto e transparente quando, no sábado [4], na hora do almoço, admitimos que estávamos com problema, mas que iríamos recuperar [até terça-feira]. A previsão foi humilde, consciente e responsável. O pior é dar uma previsão e não atender aquela previsão."

Ao ser questionado sobre os planos de enterrar os fios de São Paulo, o presidente da Enel disse que esse "tem que ser um projeto de país, com custos compartilhados".

"Temos que avaliar a abrangência, velocidade, entender quais as áreas mais frágeis. Não é enterrar em qualquer rua. Se começarmos agora, em quatro ou cinco anos já veremos resultados efetivos", afirmou.

Cerca de 1,4 milhão de moradias chegaram a ficar sem energia na capital paulista em decorrência das chuvas e rajadas de vento que atingiram a cidade na última semana. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em todo o estado de São Paulo, o número de pessoas que ficaram sem luz foi de 3,7 milhões durante o fim de semana.

Nesta terça-feira (7),  315 mil continuam sem energia. A previsão da Enel é "normalizar o fornecimento para quase a totalidade dos clientes" ainda hoje.