Bolsonaro afirmou que Lula
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Bolsonaro afirmou que Lula "jamais saberá o que é democracia"


Uma pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (21) revela que o índice de confiança dos brasileiros nas Forças Armadas está caindo. Os dados mostram que de dezembro de 2022 a agosto de 2023 o percentual de pessoas que afirmam “confiar muito” nos militares caiu 10 pontos percentuais, de 43% para 33%. 

Somando os resultados de quem afirma “confiar pouco” ou “não confiar” nas Forças Armadas, o índice foi de 54% para 64% no mesmo período. A pesquisa foi feita de 10 a 14 de agosto, ouvindo presencialmente 2.029 pessoas com 16 anos ou mais em 120 municípios. O nível de confiança é de 95%.

Também foram avaliados os níveis de confiança dos brasileiros em outras instituições, como a Polícia Militar, igrejas evangélicas e católicas, o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e os partidos políticos. 

Dentre elas, somente as Forças Armadas tiveram uma redução significativa na confiança, para além da margem de erro de 2.2%, na comparação com o levantamento anterior. Contudo, instituições como os partidos políticos, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional já contavam com um grau de desconfiança mais elevado que as Forças Armadas. 

Essa queda de confiabilidade nos militares se deu em quase todos os segmentos da população, mas se mostrou mais explícita e intensa entre a parcela da população que declara ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. 


Entre os bolsonaristas, o índice de pessoas que alegam “confiar muito” nos militares caiu de 61% para 40%, ou seja, houve uma redução de 21%. Paralelamente, o percentual dos que alegam “não confiar” nas Forças Armadas passou de 7% para 20% (13% a mais), e os que declaram “confiar pouco” passaram de 31% para 38%. 

“Não parece ser uma mera coincidência que uma das instituições mais sólidas e respeitadas do país venha sofrendo esse desgaste de imagem. Foram muitos escândalos envolvendo gente da mais alta patente na corporação. É como se o pós-governo Bolsonaro tivesse dragado o Exército para uma crise sem precedentes”, disse  Felipe Nunes, diretor da Quaest.

Entre os eleitores do atual presidente, Luís Inácio Lula da Silva (PT), houve pouca variação. Os que alegavam “confiar muito” eram 27% e passaram para 29%; o índice “confia pouco” foi de 45% para 43%; e os que declararam não confiar nos militares eram  25% em dezembro, e passaram a 26% em agosto.

No eleitorado evangélico - que tem grande intersecção com o bolsonarismo - os militares também perderam prestígio. Nesse segmento, o número de pessoas que confiam muito nas Forças Armadas caiu de 53% para 37%. 

A ligação retórica e política entre o bolsonarismo e a classe militar não é novidade, visto que o governo do ex-presidente tinha mais militares participando do primeiro escalão que no período em que o Brasil vivenciou uma ditadura orquestrada e conduzida pelas forças armadas.

No entanto, escândalos envolvendo militares e o governo Bolsonaro ao longo de seu mandato - e mesmo após ele deixar o poder - em diversas áreas, como na educação e na saúde (condução do enfrentamento à pandemia), estão na memória dos brasileiros. 

O escândalo mais recente envolvendo membros das Forças Armadas em supostos crimes ficou conhecido como “caso das joias” e investiga se militares de alta patente que integram o círculo mais próximo do ex-presidente o agiram por ordens dele para vender ilegalmente presentes luxuosos que Bolsonaro recebeu durante viagens oficiais. 

Diante desse cenário, é fácil imaginar que esse seja o motivo da perda de prestígio, confiabilidade e credibilidade das Forças Armadas frente à opinião pública. Para Piero Leirner, doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo com experiência na antropologia da guerra e em sistemas hierárquicos, comentou a pesquisa por meio de suas redes sociais. 

Na visão dele, a setorização da queda da confiabilidade da população nos militares - maior entre bolsonaristas, evangélicos, pessoas menos escolarizadas e moradores das regiões norte e centro-oeste - apontam para o sucesso de uma estratégia das Forças Armadas para desfazer a associação de sua imagem com o bolsonarismo. 

Na visão do pesquisador, o eleitorado bolsonarista que está desiludido sente que as Forças Armadas “abandonaram a causa” de golpe militar que esse grupo defende, não merecendo mais sua confiança. Entre o restante da população, Piero avalia que os militares vão recuperar a credibilidade “entre essa trupe de eleitores quando Bolsonaro evaporar de vez”.

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