Nos últimos dias, um caso chocante de estupro e outros crimes sexuais cometidos por um padre em Arcoverde, município localizado na rmicrorregião do Sertão do Moxotó, em Pernambuco, chocou o Brasil. O suspeito é o padre Airton Freire, de 67 anos, que também é fundador da Fundação Terra, criada em 1984 para ajudar famílias carentes.
No momento, ele se encontra internado. Uma crise de hipertensão o levou a ser internado no Hospital Memorial Arcoverde, e sua transferência no domingo para o Real Hospital Português de Beneficência, no Recife, que não está autorizado divulgar boletins sobre o estado de saúde do paciente. Já a assessoria do religioso informou que ele foi transferido após sofrer um princípio de acidente vascular cerebral.
"O estado de saúde do religioso é conhecido das autoridades judiciais desde a decretação de sua prisão preventiva, contestada pelos advogados que o defendem por não atender os requisitos previstos em lei. A defesa enfatiza a necessidade de um habeas corpus para que ele responda em liberdade", informou a assessoria do padre.
Ele teve sua prisão preventiva decretada no último dia 14 após Sílvia Tavares de Souza denunciar que foi estuprada pelo motorista do religioso - que está foragido - enquanto ele assistia e se masturbava, em agosto de 2022.
O crime teria ocorrido durante um retiro espiritual, quando a vítima foi convidada pelo padre para ir aos seus aposentos para fazer uma massagem.
“Quando pulei da cama, o motorista colocou a faca no meu pescoço, me deu uma gravata e disse ‘quieta que ninguém vai morrer’ (...) Acreditava piamente na honestidade dele e chamava ele de ‘padinho’" , disse a mulher em entrevista à emissora local TV Jornal, em Pernambuco. O acusado negou tudo.
Sílvia e Airton teriam se conhecido em 2019, quando ela buscava ajuda para um tratamento contra a depressão. Após as acusações, a Diocese de Pesqueira proibiu o padre Airton de exercer suas funções. O comunicado, assinado pelo bispo José Luiz Ferreira Sales, veda ao clérigo “o exercício do ministério presbiteral”.
Silvia, infelizmente, não é a única. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou que há, até o momento, cinco inquéritos policiais que investigam as condutas do padre Airton Freire. Não há informações detalhadas a respeito porque todos os casos correm sob segredo de Justiça.
Há também um homem que não deseja se identificar e deu entrevista à TV Globo afirmando que acredita ter sido dopado e abusado pelo padre quando estava na Fundação Terra.
"Teve uma noite que ele colocou alguma coisa na garrafa d'água que ficava em cima de uma mesinha [...]. Peguei a garrafa umas 11 e pouca da noite. Tomei a água e deitei na rede. Quando foi [por volta das] 5 e pouca da manhã, eu me acordei numa cadeira, que tem próximo da mesinha, só de cueca. E senti meu corpo, né? A gente sente o corpo da gente diferente. Não lembrei [o que aconteceu]" , disse o homem que trabalhava cuidando do religioso.
“Dormia com ele, dava remédio. Às vezes, ele ficava gritando à noite, como se o demônio estivesse dando nele. Mas acho que era só uma forma de me manipular. Até ele conseguir, né? Porque ele tentou algumas vezes me dopar e eu consegui ver" , contou.
Outra mulher que não deseja se identificar também acusa o padre de estupro em entrevista à Globo. Ela conta que, assim como no caso de Silvia, Airton lhe pediu para massageá-lo e, chegando à “casinha”, como era chamado o local onde ele vivia, o padre estava sem roupa e começou a se masturbar.
“Eu disse: ‘Padre, pelo amor de Deus, padre, se vista, se cubra, padre… Meu Deus, o que é que está acontecendo aqui?’ O capanga disse o seguinte: ‘Olha, o que acontecer aqui vai ficar aqui. Você pode fazer o que você quiser com a gente, que vai ficar aqui’. Aí, o padre começou a se masturbar. Rindo” , relatou a vítima.
Depois de escapar do quarto, a mulher entrou em contato com uma amiga e disse que denunciaria o estupro para todos presentes no retiro. A colega, no entanto, a aconselhou a ficar no quarto e não falar nada até conseguir ir embora “porque você está dentro da casa dele. Ele pode dar fim à sua vida, e ninguém nunca vai saber”.
"A Promotoria de Justiça da Comarca de Buíque acrescenta que, no momento, há cinco inquéritos policiais instaurados, em razão da identificação de outras vítimas. Considerando a importância de uma análise célere e substancial de todos os fatos, a Procuradoria-Geral de Justiça designou mais três membros do Ministério Público para atuarem no caso", afirmou o MPPE.
O mesmo órgão informa que a prisão preventiva foi necessária para afastar os riscos de reiteração delitiva, proteger as vítimas e "garantir a continuidade do trabalho investigativo da Polícia".
“O Ministério Público do Estado de Pernambuco tem feito exame criterioso dos elementos de prova até então colhidos e pauta-se pelas normas internas e internacionais inseridas no sistema jurídico pátrio, preocupado principalmente com os direitos humanos e com as medidas necessárias para resguardar e evitar revitimizações das vítimas que buscaram o aparato estatal para relatarem violências sexuais que estão sob investigação” , afirmou o Ministério Público em nota.
Defesa
Em nota, os advogados de defesa do padre afirmam que a prisão dele contraria as condições previstas em lei e será tratada em habeas corpus a ser impetrado. Marcelo Leal e Mariana Carvalho, responsáveis pela defesa do clérigo, também mencionaram a saúde do religioso e afirmam que ele não atrapalhou as investigações. Confira a nota na íntegra:
“Surpreendeu a defesa do padre Airton Freire a decisão de decretar a prisão preventiva do sacerdote. O feito é totalmente contrário às condições previstas em lei e será tratado em habeas corpus a ser impetrado pela defesa. Importante lembrar que o padre, um homem de 67 anos, sofre sérias restrições de saúde.
A decisão ignora que o padre havia se afastado das funções eclesiásticas e da presidência da Fundação Terra, onde desenvolve um trabalho social que atendeu milhares de pessoas nos últimos 40 anos. Depois do afastamento, ficou isolado em sua residência — que é fixa, onde ele pode ser encontrado a qualquer momento —, de forma a não interferir nas investigações.
Apesar de todo o apoio que tem recebido de milhares de pessoas na internet e em manifestações públicas nas ruas de Arcoverde (PE), o padre jamais estimulou ou insuflou movimentos, de modo a não causar comoção social ou desordem pública. E mais: agiu de boa fé ao concordar em se apresentar espontaneamente à Justiça após a decretação da prisão, sem criar mecanismos de retardamento do cumprimento da ordem legal”.