A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, teve documentos sigilosos expostos pela Revista Veja nesta sexta-feira (30). Os documentos mostram críticas da procuradora à atuação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nos processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados. Lindôra teria dito que Moraes decretou prisões sem quaisquer fundamento, além de ter autorizado procedimentos ilegais.
Segundo a vice-PGR, o magistrado teria autorizado a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens de Bolsonaro, em uma espécie de "pesca probatória" —diligência autorizada sem que haja um fato concreto que justifique, numa busca especulativa.
A procuradora entende que não existia nenhum argumento plausível que justificasse a prisão preventiva de Cid, que está detido desde o dia 3 de maio. Ele foi um dos alvos da Polícia Federal na operação que investiga a fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente e de aliados.
No documento divulgado, Lindôra escreve: "Os elementos apontados são por demais incipientes a recomendar quaisquer diligências ou medidas em face dos investigados, sob pena de se validar a pesca probatória, à semelhança de outras investigações em curso no âmbito do Supremo Tribunal Federal".
Ela critica que tenha ocorrido uma ampliação nas investigações e que a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, tenha sido envolvida como suposta integrante do esquema.
A PF pretende ouvir Michelle sobre os pagamentos em dinheiro vivo a Cid. O ex-ajudante de ordem relatou as transações durante depoimento, mas não há data ainda para que a ex-primeira-dama seja ouvida. Mas, para Lindora, a medida de ouvi-la é "criar um link com a prática de delitos financeiros, envolvendo o círculo social de parentes do ex-chefe do Poder Executivo”.
Outro ponto levantado pela vice-PGR é a desqualificação do relatório produzido pela PF acerca dos militares da ativa que supostamente teria incentivado os atos golpistas de 8 de janeiro. Além disso, o relatório levanta que esses agentes teriam incitado "a execução de um golpe de Estado após o pleito eleitoral de 2022, inclusive com financiamento aos atos ilícitos”. Vale ressaltar que Moraes tornou público dois documentos que foram anexados prints de troca de mensagens entre Cid e a esposa, Gabriela Santiago Cid.
Para a vice-PGR, a decisão de colocar a responsabilidade dos atos golpistas a pessoas ligadas à Bolsonaro é uma mostra de precipitação do ministro. "Trata-se de redação de cunho crítico que até poderia ser encontrada em mesas de cursinhos preparatórios para o vestibular”, diz Lindôra se referindo aos rascunhos interceptados no telefone de Cid.
Já sobre as conversas que foram recuperadas pela PF, Lindôra é categórica: "São posturas especulativas que poderiam ser encontradas nos dispositivos móveis de grande parte da população brasileira, sob o contexto de intensa polarização do debate político à época das eleições de 2022”.