As participações do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Flow, na última segunda-feira
, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Podpah, em dezembro do ano passado, guardam mais em comum do que mera presença dos principais candidatos à Presidência em dois dos mais populares podcasts brasileiros. Ao concederem entrevistas aos programas, tanto Bolsonaro quanto Lula aproveitaram a ocasião para fazer afirmações incorretas ou distorcidas.
Ao ser entrevistado por cinco horas e meia no Flow, Bolsonaro mentiu ao menos sete vezes sobre temas como vacina, urnas eletrônicas e resultados econômicos de seu governo. O presidente dedicou parte do tempo a defender sua atuação durante a pandemia, que deixou, até o momento, mais de 680 mil mortos no Brasil. Um dos pontos centrais do discurso de Bolsonaro em relação à Covid-19 é a defesa da cloroquina e da hidroxicloroquina, remédios comprovadamente ineficazes contra a doença. Na entrevista, que chegou a ter mais de meio milhão de visualizações simultâneas, o presidente afirmou que o medicamento “funcionou” e que o efeito contra o coronavírus seria “uma coisa imediata”.
Na participação no podcast, Bolsonaro também repetiu afirmações sobre outro tema que, a exemplo das alegações sobre a pandemia, também já lhe rendeu a exclusão de conteúdo de plataformas como o YouTube e as redes sociais. Ele disse, por exemplo, que o processo de apuração de votos brasileiro não seria “público” porque ocorreria em uma “sala-cofre” do TSE, o que não é verdade. A apuração de votos de cada urna ocorre de forma automática, após o término da votação, com a impressão de um boletim. Assim, é possível conferir o resultado final somando os registros.
O chefe do Executivo afirmou ainda que chegou à Presidência “com um partido pequeno, sete segundos de televisão, sem fundo partidário”. Entretanto, como O GLOBO mostrou em 2019, o então candidato valeu-se, indiretamente, de pelo menos R$ 1 milhão do fundo partidário concedido ao PSL, sua legenda na época.
O presidente também errou ao citar dados econômicos do governo. Segundo ele, empresas estatais passaram de “déficit para superávit”. Contudo, as companhias já registram lucro desde 2016. Procurado, o PL não se manifestou. O Palácio do Planalto e a campanha do presidente também não comentaram.
Lula no Podpah
Já Lula, ao ser entrevistado pelo Podpah, afirmou ter sido o único presidente da História do país sem um diploma universitário. No entanto, muito antes de Lula, o Brasil foi governado entre 1954 e 1955 por João Café Filho. O ex-presidente chegou a ingressar na Academia de Ciências Jurídicas e Comerciais do Recife, mas não terminou o curso.
Ao falar sobre economia, Lula também recorreu a uma informação errada. Disse que, em seu governo, o Brasil era a sexta maior economia do mundo e, agora, é a 13ª do ranking. Mas, somente em 2011, durante o governo da presidente Dilma Rousseff, que o país se tornou a sexta maior economia do mundo. Em 2010, último ano do governo Lula, o Brasil estava na sétima posição.
Sobre política externa, Lula não deixou de destacar na entrevista que, até então, era o único presidente do Brasil convidado a participar de todas as reuniões do G-8, grupo que reúne os oito países mais ricos do mundo: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia. Lula ignorou que, em 2004, o Brasil não foi convidado para o encontro das potências, promovido naquele ano nos Estados Unidos. O ex-presidente também não participou em 2010.
Lula também cometeu imprecisões ao criticar os preços altos dos combustíveis. O petista afirmou que o país é autossuficiente quando o assunto é a gasolina. O ex-presidente ressaltou que o Brasil tem condições de suprir a demanda interna sozinho. Porém, a alegação é distorcida.
O país realmente tem quantidade de petróleo para ser autossuficiente. No entanto, não há capacidade de refino que atenda a demanda. Além disso, parte do componentes usados na gasolina brasileira são importados. O petista ainda deixou de levar em consideração a política da Petrobras de vincular o preço do petróleo à variação dos valores no exterior que estão atrelados ao dólar.
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