A Cidade Zigurats no MS
Reprodução - 15.06.2022
A Cidade Zigurats no MS

A Dakila Pesquisas, empresa envolvida na difusão da teoria sobre a existência de uma suposta cidade perdida na Amazônia, a Ratanabá , vem há anos arrebatando seguidores em torno de teses infundadas.

Na última semana, a entidade ganhou as redes sociais ao espalhar uma história segundo a qual uma civilização teria habitado a região da floresta há mais de 450 milhões de anos . Especialistas, no entanto, desmentem a informação. O pesquisador da USP Eduardo Neves, diz que as evidências mais antigas da espécie humana não chegam nem a 1 milhão de anos.

A Dakila, cujos membros supostamente estudam alienígenas e civilizações antigas, é responsável pela fundação de uma "cidade secreta" no município de Corguinho, no interior do Mato Grosso do Sul, a cerca de 100 quilômetros de Campo Grande.

Batizada Zigurats, a comunidade tem ares de seita e atrai pessoas vindas de todo o Brasil e até do exterior. As casas são todas redondas, feito iglus — supostamente para facilitar a movimentação de energia cósmica pelo seu interior, contam os moradores —, e histórias místicas rondam a região. Os habitantes dizem acreditar na principal tese difundida pela Dakila: a de que o planeta Terra seria plano.

Andamento da obra do maior monumento escalonado em Zigurats
Reprodução - Silas Ismael/MS
Andamento da obra do maior monumento escalonado em Zigurats

De acordo com a teoria, o globo é na verdade plano em sua superfície e convexo na "base". O mundo como é conhecido, dizem eles, estaria limitado a uma imensa borda de gelo, a Antártida, além da qual existiria uma região ainda inexplorada pela humanidade. Os membros da Dakila a chamam de "Norte Maior", o continente onde nenhum desbravador jamais colocou os pés.

Chamada oficialmente de "Terra convexa", para se diferenciar dos terraplanistas, para quem o planeta tem simplesmente o formato de uma pizza, a hipótese foi criada pelo líder do vilarejo e presidente da Dakila, Urandir Fernandes, e tem resistido a cada refutação verdadeiramente científica que a humanidade já produziu desde a Idade Média.

Urandir é o criador do ET Bilu — figura mística que se tornou meme a partir de 2010 ao aparecer num programa de entretenimento de TV. Para os moradores de Zigurats, a entidade não apenas existe como recebeu uma casa própria em Zigurats, que permanece vazia o tempo todo e aberta a visitação. Ao contrário de como ficou celebrizado na cultura popular, Bilu, no entanto, seria um ser "extradimensional", e não extraterrestre, de acordo com seus crentes.

Em 2019, quando O GLOBO visitou Zigurats, o vilarejo tinha 30 residentes fixos, outros 40 temporários e obras em andamento para erguer uma pirâmide de 63 metros de altura no meio do terreno. A comunidade começou a ser construída na virada do século pela Dakila, que tenta dar um ar científico a suas ideias. Conta com uma pequena casa batizada de Centro Tecnológico de Zigurats (CTZ) e um telescópio enorme.

Não foi apenas a crença na Terra plana que atraiu pessoas para Zigurats. Seus moradores compartilham de um estilo de vida baseado na vida saudável. Eles tentam comprar nada ou muito pouco de alimentos produzidos industrialmente (boa parte do que é consumido no vilarejo vem de hortas próprias ou de comunidades quilombolas do entorno), separam lixo reciclável para coleta, o orgânico para compostagem e utilizam tetos solares e sistemas de cisterna para não desperdiçar água.

Além do apreço pela sustentabilidade (esta fundamentada cientificamente), eles também compartilham da desconfiança nos governos, quaisquer que sejam, nas grandes companhias e em diversas teorias da conspiração, como a de que Zigurats vai proteger a civilização do apocalipse.

Cada uma das pessoas também têm experiências próprias com Bilu e outros seres místicos. Há quem diga que a criatura tenha 1,40 metro. Outros dizem ter se deparado com uma versão um pouco mais alta, de aproximadamente 1,70 metro. O aspecto comum, eles concordam, fica por conta da voz, um tanto infantilizada, cuja gravação pode ser encontrada no YouTube.

A argila de Zigurats é o produto xodó da Dakila, que abriu uma nova empresa, a Kion Cosmetics, para vender os cremes de beleza, cuja propaganda está sendo estampada em revistas da região.

Além da Kion, a comunidade tem pelo menos outras 12 empresas, entre as quais uma fábrica de cerâmica — para economizar na construção de Zigurats —, uma atacadista de produtos alimentícios, uma varejista de bebidas e uma companhia de construção civil. O capital social de todas as empresas soma cerca de R$ 700 mil, mas Oliveira não dá detalhes de como chegou a essa cifra. Ele afirmou três anos atrás que todo o financiamento da Dakila vinha das mensalidades de R$ 150 pagas por 4.500 associados em todo o mundo.

A argila de Zigurats é o produto xodó da Dakila, que abriu uma nova empresa, a Kion Cosmetics, para vender os cremes de beleza, cuja propaganda está sendo estampada em revistas da região.

Além da Kion, a comunidade tem pelo menos outras 12 empresas, entre as quais uma fábrica de cerâmica — para economizar na construção de Zigurats —, uma atacadista de produtos alimentícios, uma varejista de bebidas e uma companhia de construção civil. O capital social de todas as empresas soma cerca de R$ 700 mil, mas Oliveira não dá detalhes de como chegou a essa cifra. Ele afirmou três anos atrás que todo o financiamento da Dakila vinha das mensalidades de R$ 150 pagas por 4.500 associados em todo o mundo.

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