Vale do Javari - Amazonas
Reprodução: Flickr - 08/06/2022
Vale do Javari - Amazonas

No extremo oeste do Amazonas, o Vale do Javari, na fronteira com o Peru e a Colômbia, tem a maior população de indígenas do mundo. Ao todo, são 26 grupos, Marubos, Mayoruna, Kulina, Kanamari, Matís e de recente contato como os Korubo.

Cortada por rios e com ramais de terra que a liga a alguns municípios, é uma região propícia para ataques criminosos e, com o afrouxamento da fiscalização da Funai, a escalada de violência se intensificou com narcotraficantes se juntando a garimpeiros, pescadores e madeireiros.

Por seu gigantismo, a busca pelo servidor da Funai, Bruno Araújo Pereira, e o jornalista inglês Dom Phillips , que desapareceram no domingo quando faziam de barco a travessia da comunidade de São Rafael para Atalaia do Norte.

O território indígena do Vale do Javari foi demarcado em 1996 e homologado em 2020. Mas, ao longo dos últimos anos, viu suas riquezas, como borracha, madeira e peles de animais, extraídas por grupos criminosos. Dois meses antes de desaparecer no vale, Bruno tinha mapeado a ação de pescadores e caçadores na região para o Ministério Público Federal.

Em 2019, antes de ser exonerado do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e Recém-Contatados da Funai, o servidor, que teve base na região, fez uma grande operação de combate ao garimpo na Terra Indígena Ianomâmi, onde foram destruídos equipamentos e apreendido um helicóptero.

O afastamento do indigenista, considerado um dos mais experientes do país de suas funções, é atribuído por colegas e por outros especialistas da área a divergências dele com a forma de atuação do órgão federal. Naquele mesmo ano, o colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos foi assassinado com dois tiros na cabeça na frente da família, em Tabatinga. Até hoje o crime não foi solucionado.

"A gente não tem poder de polícia. Sem o apoio da Funai, o que nos resta é observar os invasores e documentar o que está acontecendo para denunciar as autoridades brasileiras. No ano passado, nós criamos uma equipe que passou a perambular junto com os indígenas para tentar identificar os invasores, que são muitos. O Bruno está ameaçado há muito tempo por sua postura combativa e por nos ajudar", diz Eliesio Murubo, procurador da Univaja (União dos Indígenas do Vale do Javari), uma das entidades mais atuantes na região que conta ainda com outras organizações voltadas para a defesa dos povos originários.

O sofrimento dos povos originários no Vale do Javari não tem sido pequeno. Durante a pandemia, era grande a preocupação com a saúde dos indígenas. Entidades que representam as etnias pediam providências ao Exército, à Força Nacional e à Funai para que fossem retirados todos os invasores da terra para que o coronavírus não provocasse um genocídio dentro das tribos.

Na época, também requisitavam embarcações rápidas e EPIs de forma que tanto indígenas quanto profissionais de saúde pudessem ser socorridos rapidamente em caso de agravamento de quadros de Covid-19.

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