Ao ser informada que agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) estavam "massacrando" o seu marido, Maria Fabiana correu para a BR-101 em Umbaúba, no Sergipe e já se deparou com Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, dentro da viatura, que segundo a PRF, tinha gás de pimenta em seu interior . De acordo com a mulher, ela pediu para que agentes abrissem o porta-malas para que o homem respirasse melhor e a resposta de um dos policiais foi: "Ele está melhor do que nós, aí dentro está ventilado". Após a ação, Genivaldo chegou morto ao hospital.
Em entrevista ao Portal Fan F1 nesta manhã, Maria Fabiana conta que o marido era uma pessoa conhecida e, por isso, muitas testemunhas se dirigiam aos policiais dizendo "Não façam isso, ele tem problemas mentais". Mas de nada adiantou. Ao chegar ao local, ela narra que até ela passou mal com o gás utilizado dentro da viatura :
"Eu estava em casa, aí um conhecido meu me ligou e falou: "Vem aqui rápido no posto de reforço porque estão massacrando seu marido". Eu entrei em choque, saí correndo, peguei um mototáxi e, chegando lá, ele (Genivaldo) já estava de bruços dentro do carro. Não ouvi mais a fala dele, eles (policiais) trancaram ele. Pedi para que abrissem (o porta-malas) para entrar ventilação, o ar estava muito 'coisado' de pimenta. Eu passei até mal, porque eu cheguei bem juntinho dele(Genivaldo). O policial falou "Ele tá melhor do que nós, aí dentro está ventilado", relata Maria Fabiana.
Em entrevista nesta manhã, a mulher de Genivaldo contou também como era Genivaldo, com quem esteve por 17 anos e teve um filho.
"Ele tinha um coração bom demais, sempre estava pensando no bem dos outros", lembra Maria, que relembra outro episódio com abordagem policial:
"Tem muitos anos que ele foi parado e a polícia pediu para que ele fosse para a parede, para revistar. Como tinha esquizofrenia e problema de medo, dos nervos, no nervosismo ele não foi para a parede, travou, não teve reação. Levaram ele preso, respondemos por isso e ele foi liberado. Na hora do nervosismo ele trava e fica sem reação", explicou.
Genivaldo Santos chegou morto ao hospital para o qual foi levado por agentes da PRF.
Como explicar aos filhos?
Maria Fabiana tem dois filhos: um de 18 anos, de outro relacionamento, e o caçula, de 7, filho de Genivaldo. Segundo a mulher, o mais velho está em estado de choque e ainda não sabe como vai explicar para o mais novo.
"Eu estou indo pegar ele para ver o pai, explicar para ele. Vou ter que levar ele, não sei como fazer isso, porque eles dois se amavam demais", relatou.
Nesta manhã, de acordo com a mulher, o corpo de Genivaldo já estava no povoado de Mangabeira, no município de Santa Luzia do Itanhy, onde mora sua mãe.
PRF lamenta o ocorrido
Por meio de uma nota divulgada à imprensa, a PRF informou que instaurou um um procedimento para apurar a conduta dos agentes envolvidos na abordagem.
"Ele foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil. No entanto, durante o deslocamento, passou mal, foi socorrido e levado para o Hospital José Nailson Moura, onde posteriormente foi atendido e constatado o óbito", diz a nota do órgão.
A PRF informou, também, que a vítima "resistiu ativamente à abordagem" e que teriam sido "empregadas técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para sua contenção", para tentar contê-lo.
Ao saber, em entrevista, do posicionamento da PRF, Maria Fabiana o considerou "um tremendo absurdo":
"Essas coisas entristecem muito a gente porque bandidos matam um pai de família, boa pessoa, que não faz mal a ninguém. Se aquele procedimento não faz mal a ninguém, se é normal e inofensivo, porque ele (Genivaldo) perdeu a vida? Como é que uma pessoa coloca a outra já algemada dentro do carro e coloca um tipo de gás que ninguém sabe qual é o tipo para ficar inalando?", desabafou.
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