No último mês, duas ocorrências assustaram cidades litorâneas do Ceará. Em datas distintas, dois pescadores se feriram após o contato com o peixe-leão, espécie que chama atenção pela beleza, mas guarda espinhos perigosos e um veneno potente.
A espécie invasora é considerada uma praga no país. O animal, que possui corpo listrado de branco com tons de laranja, vermelho e marrom, é natural do Pacífico, e foi criada por muito tempo em aquários. Estima-se que ele tenha chegado ao Caribe em meados de 1980 em um grupo pequeno, de apenas oito peixes - o suficiente para causar preocupação.
"Durante 30 anos, eles conseguiram reproduzir o suficiente pra tomar o Caribe inteiro, e todos os espaços ali foram colonizados por essa espécie", explica o biólogo e doutor em oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPC), Prof. João Feitosa.
Sem predadores naturais e com 18 espinhos que o fornecem uma capacidade de defesa, resta o peixe-leão apenas a reprodução. Eles se alimentam de qualquer espécie pequena, impedindo que os demais peixes cheguem a idade adulta e se reproduzam, diminuindo a quantidade de peixes no local. Esse é um dos maiores temores dos especialistas.
"Eles podem detonar a pesca de um lugar e se reproduzirem sem limites, porque os predadores no seu local de origem, como garoupas, tubarões, aqui não os reconhecem como presas. É um animal muito diferente de todos os outros, e quando vão comer o peixe-leão, eles têm uma experiência de degustar esse animal peçonhento", afirma o professor.
Antes do Ceará, o peixe-leão já havia sido visto no Rio de Janeiro e em Fernando de Noronha. A "demora" em chegar ao Brasil é explicada por uma barreira natural imposta no meio do caminho - a foz do Rio Amazonas. De alguma forma ainda desconhecida, eles venceram essa etapa, e antes do Ceará, foram avistados no Rio de Janeiro e em Fernando de Noronha.
O biólogo afirma que é quase impossível erradicar a presença do peixe-leão, mas chama atenção para a forma que outros locais, como algumas regiões das Bahamas e o Panamá encontraram de lidar com a espécie invasora.
"Se criou uma rede econômica em cima da invasão do peixe-leão que consistia na educação de de pescadores locais a captura do animal sem acidentes e o beneficiamento [tratamento] desse animal para que ele pudesse ser vendido a restaurantes", conta.
"Nas Bahamas isso deu muito certo. Em dado momento, o quilo do peixe-leão estava valendo mais de 20 dólares, porque o pessoal fazia pratos bonitos, exóticos".
Ele afirma que ao contrário dos acidentes no contato entre o ser humano e os espinhos, o consumo da carne do peixe-leão não faz mal a saúde, e vê essa como uma possível saída para o litoral brasileiro.
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"Nenhum local conseguiu erradicar os animais, é uma algo bastante difícil de fazer, não tem como a gente alcançar todos os animais, retirar e e achar que ele não vai voltar. Ele é um animal que ele não é predado normalmente pelos predadores naturais, os tubarões e as garopas como eu falei. Ele se torna somente predado pelo ser humano", diz.
"Após o corte dos espinhos, das nadadeiras onde o veneno está localizado, esse animal pode ser utilizado tranquilamente para alimentação. Não vai fazer mal para ninguém, inclusive é muito gostoso", completa. "Pode-se criar uma resistência das pessoas, tanto para captura de um animal peçonhento quanto para a venda, mas é um caminho que deve ser seguido por aqui".
O que fazer ao avistar o peixe-leão
Órgãos que protegem o meio ambiente no Brasil estão de olho no aparecimento do peixe-leão. Em caso de avistamento da espécie, o Instituto Chico Mendes (ICMBio) pede que o local do avistamento seja informado o mais rapidamente possível por meio de um formulário. Confira aqui todos os informativos .
É preciso anotar o local, a profundidade, e se possível, enviar fotos e vídeos junto ao relato.
Em caso de pesca da espécie, é recomendado que ele não seja devolvido à água. Os materiais informativos do Ministério do Meio Ambiente orientam como os espinhos devem ser cortados. Depois, a espécie deve ser encaminhada para o posto do ICMBio na região.
Foi furado por um peixe-leão?
O ICMBio orienta que o cidadão procure imediatamente o posto médico mais rápido possível para receber o atendimento adequado. Se possível, passe água quente no local para dificultar a ação do veneno.
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