O policial militar Rodrigo Prujansky, de 40 anos, e a funcionário pública Bruna Sant'anna, de 33, viviam o ápice de qualquer casal. Entre amigos e parentes, trocavam os votos que oficializariam a relação de meia década. A cerimônia, porém, acabou interrompida por um motivo inesperado, embora um tanto corriqueiro para o tenente: o som de disparos. O tiroteio cada vez mais próximo mobilizou Prujansky e colegas de farda presentes, que rapidamente deixaram o local, paralisando os festejos, em uma cena que foi filmada por parte dos convidados e acabou ganhando as redes sociais.
"A nossa mentalidade é essa: a qualquer momento a crise pode acontecer, e o que fazemos melhor é atuar dentro de uma crise. E até o nosso ouvido já está treinado. Se você reparar nas imagens, a gente começa a perceber o que está havendo antes dos outros, todos os policiais têm a mesma reação de olhar na direção dos tiros, que vão chegando cada vez mais perto, até que um último estampido já parece dentro do condomínio. Foi nesse momento que decidimos agir" conta o PM.
A cerimônia acontecia em um salão de festas do Bora Bora, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na noite de 26 de março, um sábado. De armas em punho, Prujansky, o capitão PM (e padrinho) Ronald Kadar, o também tenente PM (e guarda de honra nos festejos) Luiz Felipe Alvarez e o policial rodoviário federal Rodrigo Nunes, morador do condomínio e amigo do casal, partiram de pronto na direção dos tiros para uma "patrulha rápida", nas palavras do noivo, enquanto outros policiais presentes permaneceram no local, para resguardar os outros convidados.
Na cancela de entrada, que fica a poucos metros do salão, o grupo encontrou um PM de serviço e um carro batido próximo ao muro do condomínio. O agente informou que, após uma perseguição, dois homens haviam deixado o veículo e trocado tiros com a polícia, fugindo em seguida para dentro do Bora Bora. Baleado, um terceiro criminoso morreu no local.
O noivo e os amigos iniciaram, então, uma busca pelos bandidos. Em poucos minutos, localizaram um rastro de sangue, que os levou até um muro lateral do condomínio, por onde a dupla conseguira pular pouco antes, dando de cara com uma viatura. Com o cerco feito por Prujansky e companhia, eles não conseguiram retornar, acabando presos pela PM.
Mas e a cerimônia, como ficou? Menos de uma hora depois, ela já havia sido retomada, com direito a piada sobre os tensos momentos anteriores durante os — enfim! — votos do tenente, que se referiu aos tiros como um "efeito especial" da festa.
"Na verdade, a gente já está acostumado a esse tipo de situação, então volta muito rápido. Já retornei pro local da festa "tranquilaço", de verdade, e a Bruna, que já me conhece bem, também ficou de boa. Os outros convidados é que demoraram um pouco mais a acalmar, o que é compreensível, mas logo conseguimos retomar e curtir o nosso momento" diz Prujansky.
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Dois dias depois da comemoração e do susto, o casal seguiu para os Estados Unidos. Não para lua de mel, mas porque o tenente, que tirou uma licença de seis meses da corporação, onde fez carreira no Batalhão de Choque, está passando uma temporada em Miami, ministrando treinamentos para a polícia da Flórida.
"Isso foi uma coisa que pensei muito, no quanto a violência está banalizada no Brasil e, sobretudo, no Rio. Se acontece uma cena como essa aqui nos EUA, com certeza acabava festa, acabava evento, cercariam tudo e isolariam o local inteiro na hora. Mas pra gente deu até pra continuar com a comemoração" reflete o tenente.
O tiroteio
O confronto armado que interrompeu o casamento teve início com o sequestro de um empresário em Jacarepaguá, bairro próximo à Barra, também na Zona Oeste. Localizados por equipes da PM , os criminosos, divididos em dois carros (um deles o da vítima), passaram a ser perseguidos por vias da região, cruzando também o Recreio dos Bandeirantes.
Na altura do Parque Aquático Maria Lenk, já na Barra da Tijuca, os bandidos bateram com os dois carros em outros três veículos. Neste momento, o primeiro suspeito foi preso e, segundo a PM, com ele foi encontrada uma pistola, enquanto um segundo foi baleado e morreu. A vítima sequestrada foi socorrida, sem ferimentos.
Um dos criminosos que fugiu em direção ao Bora Bora estava com um ferimento de tiro e, após ser preso, foi levado para o Hospital municipal Lourenço Jorge. Com o grupo, os policiais apreenderam duas pistolas, munição, seis celulares, um carregador e o veículo clonado, além de terem recuperado o carro da vítima. A ocorrência foi registrada na 16ª DP (Barra da Tijuca) e na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
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