Com a liança consolidada em torno da reeleição do presidente Jair Bolsonaro , PL, PP e Republicanos, principais partidos do Centrão, chegaram ao fim do prazo de trocas partidárias, encerrado ontem, com frentes de disputa estaduais por quase todo o país. Levantamento do GLOBO aponta que as três siglas estão em lados distintos em 20 estados, sendo que em seis deles há possíveis confrontos diretos entre postulantes dessas siglas a governo ou Senado. As divergências foram estimuladas, em diversos casos, por Bolsonaro e pelas cúpulas das legendas, ao atraírem pré-candidatos que se posicionam como adversários localmente.
O movimento mais recente ocorreu em Minas Gerais, na sexta-feira, com o senador Carlos Viana trocando o MDB pelo PL. O parlamentar lançou a pré-candidatura ao governo, abrindo um palanque no estado para o presidente Jair Bolsonaro. A tentativa de agrupar a tríade do Centrão em volta de um só nome, no entanto, esbarra na adesão do PP à reeleição do governador Romeu Zema (Novo).
Já na Bahia, Bolsonaro estimulou a filiação do ex-ministro da Cidadania João Roma ao PL, para a disputa do governo. O partido estava até então na base do pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil), que assegurou o apoio do Republicanos, antiga sigla de Roma, e também do PP, do vice-governador João Leão, que rompeu com a gestão de Rui Costa (PT). Leão deverá ser o candidato ao Senado na chapa de Neto, gerando um conflito direto com o PL, que tende a lançar a médica Raíssa Soares, apelidada de “Doutora Cloroquina”, para compor a chapa de Roma.
Após ter o aval de Bolsonaro para se candidatar, Roma passou a centrar ataques em Neto, a quem acusa de proximidade com aliados do PT.
"Lula tem dois candidatos na Bahia: o oficial (do PT) e o oficioso, ACM Neto" afirmou o ex-ministro ontem.
No Rio Grande do Sul, Bolsonaro e seu entorno tentaram demover o senador Luis Carlos Heinze (PP) de concorrer ao governo, sem sucesso. Heinze foi sondado, inclusive pela direção da sigla, para assumir o Ministério da Agricultura no lugar de Tereza Cristina, também do PP, que deixou o cargo para disputar o Senado pelo Mato Grosso do Sul. Foi uma tentativa de abrir espaço para que o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho), recém-filiado ao PL e pré-candidato a governador, unificasse a base bolsonarista no estado.
“Tão candidato quanto eu”
rritado com as especulações de que toparia o ministério para abrir mão da corrida eleitoral, Heinze divulgou uma nota em que criticou as “fake news de quem tem medo de disputar nas urnas”. Ao GLOBO, ele lembrou que já tem acordo com o PTB, outra sigla alinhada a Bolsonaro, para indicar seu vice-governador, e convidou o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) para disputar o Senado em sua chapa. Por influência de Bolsonaro, Mourão tende a seguir com Onyx, embora ambos tenham tido atritos no governo.
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"Onyx é tão candidato do Bolsonaro quanto eu. Não haverá interferência da direção nacional, o Ciro (Nogueira, presidente licenciado do PP) sabe da minha posição. Estou em campanha há tempos" afirmou Heinze.
A filiação de Bolsonaro ao PL, sigla dirigida por Valdemar Costa Neto, impulsionou candidaturas de líderes do partido que geraram conflitos com articulações do PP. No Mato Grosso, por exemplo, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) ganhou fôlego para articular sua candidatura à reeleição, encabeçando um palanque bolsonarista, e busca atrair o apoio do governador Mauro Mendes (União), que tenta manter boa relação com Bolsonaro. Mendes, até então, sinalizava um apoio ao deputado Neri Geller (PP) para o Senado.
Geller, que é aliado de lideranças do agronegócio, como o ex-ministro Blairo Maggi, diz que mantém sua candidatura, e que só não estará com Mendes se o governador “empurrar o PP para fora da chapa”. Ele cita ainda o fato de o PL ter reunido antigos adversários do governador, como o deputado bolsonarista José Medeiros e o próprio Wellington Fagundes, que enfrentou Mendes na eleição de 2018.
"Nós somos da base do governador. O PL tem outro grupo" afirmou Geller.
Na Paraíba, o PL lançou como pré-candidato a senador Bruno Roberto, filho do deputado federal Wellington Roberto, uma das lideranças do Centrão, e filiou o radialista Nilvan Ferreira, postulante ao governo, que já recebeu sinalização pública de apoio de Bolsonaro. O PP, por sua vez, deve lançar ao Senado o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, que busca um arranjo para subir no palanque do ex-presidente Lula (PT). Ribeiro é aliado do governador João Azevêdo (PSB), que tem declarado voto no petista.
O Republicanos, presidido pelo deputado federal Marcos Pereira, que chegou a ameaçar um desembarque da candidatura de Bolsonaro, aproveitou a janela partidária para filiar três pré-candidatos ao governo. Dois deles, Carlos Moisés (SC) e Wanderlei Barbosa (TO), tentarão se reeleger. Por motivos distintos, todos devem gerar conflitos com outras siglas do Centrão. Em São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas optou por se filiar à sigla ligada à Igreja Universal em vez de desembarcar no PL. Sem Tarcísio, parlamentares e prefeitos paulistas do PL defendem uma aproximação com o governador Rodrigo Garcia (PSDB), pré-candidato à reeleição, caminho que também deve ser seguido pelo PP.
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